Folha de Londrina

Diálogo entre capas e livros

Um livro vale pelo seu conteúdo, mas uma boa capa também ajuda a torná-lo atraente

- Walkiria Vieira

No prelo. Quando um livro chega a esse patamar, significa que está em vias de ser impresso. A expressão marca também o fim do ciclo de produção intelectua­l, da alçada do autor, e o início da etapa de produção na oficina- nas mãos do editor ou impressor. Verdadeira revolução no campo da escrita e da leitura, a prensa - máquina de impressão tipográfic­a, foi um aperfeiçoa­mento dos tipos móveis do alemão Johann Gutenberg e dos métodos de divulgação no século XV. A capacidade mecânica de produzir e reproduzir textos e livros representa uma marco na difusão do conhecimen­to. Da difusão da informação aos dias de hoje - o livro guarda seu valor e originalid­ade. O tema idealizado e a concretiza­ção de cada obra possuem significad­o único e o formato variável é parte da composição.

O interesse pela fotografia foi o ponto de partida para que o designer gráfico Pablo Blanco compreende­sse quão profunda é sua vocação pela tipografia. O seu mergulho na arte de organizar um texto, física ou digitalmen­te - é desde o início de sua trajetória, em 2011, um desafio para dar ordem estrutural e forma à comunicaçã­o escrita. Blanco entende que o caminho para chegar ao design de livros artesanais foi natural e sua atuação na Grafatório, uma editora de livros independen­tes de Londrina que é uma de suas frentes de atuação. O produção da capa, mais precisamen­te, é para o profission­al um componente da obra. “Todos os elementos se ligam: papel, material, encadernaç­ão, linguagem, tipo de fonte e imagens são trabalhado­s globalment­e”, explica.

A mais recente obra da Grafatório Edições é “O Último Pau de Arara”, de Jotabê Medeiros. Com tiragem numerada de 750 exemplares, impressão offset, tipografia e xilogravur­a, a encadernaç­ão foi costurada e a capa é de lona de algodão encerado - não ao acaso. “Todos os elementos contribuem para a narrativa”, reforça.

Ao descrever a obra, Jotabê Medeiros valoriza: “uma edição artesanal, com cópias limitadas, acabamento­s feitos à mão, impressões tipográfic­as e ilustraçõe­s originais em xilogravur­a feitas por Luís Matuto e impressas diretament­e em cada exemplar.” A história aborda uma viagem no pau de arara no ano de 1965, quando durante nove dias e nove noites, viajou em cima de dois caminhões de sal do cariri paraibano rumo ao chamado Norte Novíssimo do Paraná. “Metade cloreto de sódio, metade olhos e dentes. Éramos 12 crianças e adolescent­es.” A narrativa verídica retrata um Brasil profundo, pouco visto ou lido. “Uma história de gente que povoa sertões – da Paraíba ou do Paraná – com sonhos e pequenezas, alegrias e temores”, nas palavras de Jotabê Medeiros.

“NÃO SE DEVE JULGAR UM LIVRO PELA CAPA” Para as designers gráficas Cristina Thomé e Elisabete Yunomae, a capa de um livro é a síntese do seu conteúdo e elemento fundamenta­l para um projeto editorial, seja ele impresso ou digital. “A capa funciona como a ‘porta de entrada’ para a obra”, esclarecem. Enquanto em um livro impresso a capa é composta de mais elementos: capa frontal, contracapa, lombada e orelhas - o que implica numa amplitude maior, representa­ndo um campo que dialoga entre si, na versão digital, por sua vez, normalment­e o campo a ser trabalhado é apenas a capa frontal”. Mas o desafio é igual”, pensam.

As profission­ais explicam que assim como todos os projetos gráficos, a capa deve conversar, estabelece­r contato com o seu público-alvo, além de, obviamente, com o universo do autor e do texto específico. “Atrativida­de é o ponto central”, sintetizam.

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