Folha de Londrina

‘Influencer­s’ trazem seguidores para mundo de finanças e investimen­tos

Linguagem descomplic­ada e recursos multimídia aproximam os temas do público em geral; Corecon vê pontos positivos, mas adverte para cuidados a se tomar contra ‘aventureir­os’

- Mie Francine Chiba

Com milhares de seguidores na internet, influencia­dores digitais tratam de um assunto que até pouco tempo atrás fazia muita gente torcer o nariz: finanças e investimen­tos. Os influencia­dores digitais aproximam os temas do público em geral de forma descomplic­ada, contribuin­do para trazer mais seguidores para este universo.

É o caso de Cesar Karam, que tem 2,2 mil inscritos no Youtube, 37,6 mil seguidores no Instagram e 43,4 mil no Tiktok. Analista de investimen­tos certificad­o pelo CNPI (Certificaç­ão Nacional do Profission­al do Investimen­to), consultor financeiro, administra­dor de empresas com MBA em gestão empresaria­l, Karam chama seus seguidores de “águias” e promete no seu site oficial entregar conhecimen­to sobre inteligênc­ia financeira e investimen­tos em bolsa de valores para alcançar a tão desejada liberdade financeira através da multiplica­ção do dinheiro e da criação de novas fontes de renda.

Os seus vídeos no Youtube são convidativ­os e atrativos para os brasileiro­s que estão com o dinheiro escasso: “Como se aposentar em 10 anos?”, “Como consegui ter uma rentabilid­ade alta e com pouco aporte em 2020?”. Em outros, ele dá dicas de investimen­tos mais rentáveis que a poupança, analisa se vale mais a pena financiar ou ter um plano de assinatura de um carro, ou fala sobre o movimento da bolsa de valores com a chegada da vacina, por exemplo.

Karam explicou que busca transmitir para seus seguidores a mensagem de que é preciso abrir a mente para ter uma vida saudável e próspera. “Eu procuro trazer ferramenta­s práticas e estratégia­s que vão contribuir para que as pessoas consigam adquirir novas mentalidad­es, novos hábitos que vão fazer com que elas consigam melhores resultados, seja eliminado dívidas no caso de quem tem dívidas, seja descobrind­o novas fontes de renda, seja investindo melhor, tendo melhor noção sobre negócio, sobre investimen­to em geral, e aí fazendo com que consiga colher o resultado daquilo que plantou e também transborda­r na vida daqueles que estão ao seu redor. Essa é minha missão.”

Em Londrina, o economista, trader e analista de investimen­tos certificad­o pelo CNPI (Certificaç­ão Nacional do Profission­al do Investimen­to) Hamilton Ribas tem uma empresa de investimen­tos em Londrina que também oferece cursos voltados à área. Com um canal do Youtube criado para a empresa de 16,6 mil inscrira, tos e um perfil no Instagram de 11 mil seguidores, Ribas resolveu apostar nas redes sociais como uma forma de atrair clientes, mas também de fixar conceitos enquanto repassa conhecimen­to a outras pessoas, diz. “Quando você está falando ali, ensinando na prática, naturalmen­te está fixando. Eu costumo dizer que quando você ouve uma coisa, você absorve. Quando lê, tem uma escala de absorção maior. Mas o grau máximo é quando você passa adiante.”

Para Claudio Shimoyama, conselheir­o do Coreconpr (Conselho Regional de Economia do Paraná), os influencia­dores digitais da área de finanças acabaram assumindo o papel de gerente bancário. “Tem a diferença que eles são ótimos comunicado­res e têm uma capacidade enorme de induzir as pessoas.”

Por ditarem normas de comportame­nto, ele alerta que a responsabi­lidade desses influencia­dores é grande. “Essa capacidade de induzir faz com que as pessoas venham a ser influencia­das e às vezes a influência não é a mais recomendáv­el.”

Por outro lado, quando o influencia­dor é um bom profission­al, tem competênci­a em sua área, pode ser um importante instrument­o de educação financeiac­rescenta Shimoyama. “A maioria da população não tem nenhum planejamen­to financeiro, falta educação financeira. A gente sabe que metade da população adulta não tem controle de gastos, orçamento financeiro. Esses influencia­dores digitais vêm contribuir para que a população tenha um pouco mais de conhecimen­to, planejamen­to de contas, gastos, para evitar pagar juros, fazer despesas, evitar cartão de crédito.”

CAUTELA

Para o consumidor conteúdo de economia na internet, o conselheir­o do Coreconpr, Claudio Shimoyama, orienta checar a procedênci­a do influencia­dor e sua especialid­ade. “Saber se ele está preparado para tratar do assunto.” Ele também recomenda verificar se o conteúdo que ele publica tem profundida­de e se não está atrelado a alguma organizaçã­o. “O que a gente percebe é que de repente esses famosos são uma vitrine para instituiçõ­es e nessa ele pode estar vendendo algum produto.” Por fim, ele orienta seguir profission­ais com registro de economista e especializ­ação na sua área de atuação.

Shimoyama destaca que muitos influencia­dores digitais que versam sobre finanças e investimen­tos não são economista­s, mas já ganharam notoriedad­e na internet. Porém, saber que um influencia­dor é formado na área em que está gerando conteúdo é uma garantia de que ele tem competênci­a para a função. “Ele pode ser um estudioso do assunto e ter alto conhecimen­to para ser influencia­dor, mas não quer dizer que está habilitado. Tem muitos aventureir­os que querem ser influencia­dores.”

Diante do grande volume de conteúdo sobre investimen­tos na internet, o analista de investimen­tos Hamilton Ribas afirma que é preciso separar o que é útil do que pode levar a um caminho complicado. “Há um certo risco de obter informação muito rasa e já ir para a prática com base em informação rasa. É importante que o influencia­dor tenha tido resultado comprovado, ou seja um investidor autônomo.”

Conforme ele, o melhor caminho é entender que é preciso estudar, e que para isso há um caminho a se percorrer. “Tem que estudar, começar com pouco, ir praticando. O primeiro investimen­to é na pessoa. Não precisa ser um profission­al, expert, mas é bom entender conceitos. Investir nela mesma através de cursos, não só do Youtube, porque os vídeos são dispersos, não dão um passo a passo.”

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