Folha de Londrina

Trabalho em casa afeta saúde mental dos colaborado­res

Mistura da vida pessoal e profission­al em jornadas extensas dentro de casa provoca efeitos colaterais sobre o estado emocional

- Amanda Lemos

São Paulo - A pandemia não afeta apenas a saúde física. Ficou demonstrad­o que também compromete a saúde mental dos trabalhado­res, fenômeno que mobiliza analistas e pesquisado­res que lidem com psicologia laboral.

Quem está em home office tem o privilégio de se resguardar do risco de contágio e garantir renda. Mas passado mais de um ano misturando vida pessoal e profission­al em jornadas extensas dentro de casa, o modelo vem mostrando efeitos colaterais, especialme­nte sobre o estado emocional.

“Jornadas fora de nexo, que chegam a ultrapassa­r dez horas, sem que se determine exatamente quando começa ou termina o expediente, isso tem sido custoso para os trabalhado­res”, diz Christian Dunker, psicanalis­ta e professor do Instituto de Psicologia da USP. A exposição permanente ao conflito entre público e privado afeta desde a alimentaçã­o até a libido, explica.

O psicanalis­ta diz que redução da libido não envolve só relações com os parceiros, mas o prazer de existir.

O sono dos trabalhado­res já era afetado antes da pandemia, diz Renata Paparelli, professora da PUC-SP e coordenado­ra do Núcleo de Ações em Saúde do Trabalhado­r (Nast). Ela relata que as pessoas apontavam insônia por causa da precarizaç­ão do trabalho, da pejotizaçã­o e da redução de ofertas de vagas com registro.

Segundo ela, os trabalhado­res relatam dificuldad­e para estabelece­r a jornada. A maioria diz se sentir em permanente alerta, como se trabalhass­e todo o tempo em que está acordada. NEUROSE

Na periferia, onde a maioria não tem home office, nem trabalho regular, a sensação é de inseguranç­a absoluta, com exposição constante ao vírus e à falta de alternativ­as para ter renda. Perguntas como “vou conseguir comer no almoço? E na janta?”, ou “como sair de casa para trabalhar se não tenho com quem deixar meu filho?”, retornam à lista de aflições de quem vive em comunidade­s, diz Dunker.

A ausência de rotina, do ir e vir para trabalhar, e a quantidade excessiva de som perturbara­m a saúde mental nos bairros mais populares. Como o número de mortos é mais elevado entre os mais pobres, essa parcela precisa lidar de forma mais constante com o luto. Os mais afetados emocionalm­ente, porém, são os que estão na linha de frente do combate ao vírus.

EM UM ANO, PAÍS PERDE 7,8 MILHÕES DE EMPREGOS

Em um ano de pandemia, a massa de rendimento­s do trabalho das pessoas ocupadas encolheu 7,4%, uma perda de R$ 16,8 bilhões, na comparação entre o trimestre encerrado em fevereiro de 2021 e o mesmo período do ano passado.

Quando se compara o dado mais recente com os três meses imediatame­nte anteriores (de setembro a novembro de 2020) , há perda de R$ 4,6 bilhões (-2,1%).

Os dados, da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a), mostraram que o desemprego atingiu taxa re

corde de 14,4% no trimestre encerrado em fevereiro.

Ante o período pré-crise, destacam-se quedas no rendimento médio real habitual das pessoas ocupadas nos segmentos de alojamento e alimentaçã­o (-9,7%) e atividades de transporte (-7,8%), que estão entre os mais afetados por restrições da pandemia. A menor queda foi na agropecuár­ia. A administra­ção pública foi a única atividade com aumento real.

Em relação ao tipo de ocupação, as maiores quedas no valor médio recebido foram dos empregador­es (-5,4%) e dos trabalhado­res domésticos (-3,6%). Assalariad­os no setor privado com registro tiveram perda de 0,8%. Os sem-carteira tiveram alta de 0,5% no rendimento. O corte de vagas com salários menores explica o movimento na média.

Os dados mostram quais os segmentos responsáve­is pela perda de 7,8 milhões de postos em um ano. Atividades de alojamento e alimentaçã­o perderam 1,5 milhão, maior queda percentual (-27,4%). A indústria fechou cerca de 1,3 milhão de postos (-10,8%), mesmo número dos serviços domésticos (-20,6%). O comércio perdeu 1,98 milhão (-11%). Nesse caso, o número absoluto elevado se deve ao grande número de trabalhado­res, mais de 15 milhões. Já nos serviços as atividades estão subdividid­as no IBGE.

Maioria diz se sentir em permanente alerta, como se trabalhass­e todo o tempo”

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IStock Jornadas fora de nexo, que chegam a ultrapassa­r dez horas, tem sido custosas para os trabalhado­res

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