Trabalho em casa afeta saúde mental dos colaboradores
Mistura da vida pessoal e profissional em jornadas extensas dentro de casa provoca efeitos colaterais sobre o estado emocional
São Paulo - A pandemia não afeta apenas a saúde física. Ficou demonstrado que também compromete a saúde mental dos trabalhadores, fenômeno que mobiliza analistas e pesquisadores que lidem com psicologia laboral.
Quem está em home office tem o privilégio de se resguardar do risco de contágio e garantir renda. Mas passado mais de um ano misturando vida pessoal e profissional em jornadas extensas dentro de casa, o modelo vem mostrando efeitos colaterais, especialmente sobre o estado emocional.
“Jornadas fora de nexo, que chegam a ultrapassar dez horas, sem que se determine exatamente quando começa ou termina o expediente, isso tem sido custoso para os trabalhadores”, diz Christian Dunker, psicanalista e professor do Instituto de Psicologia da USP. A exposição permanente ao conflito entre público e privado afeta desde a alimentação até a libido, explica.
O psicanalista diz que redução da libido não envolve só relações com os parceiros, mas o prazer de existir.
O sono dos trabalhadores já era afetado antes da pandemia, diz Renata Paparelli, professora da PUC-SP e coordenadora do Núcleo de Ações em Saúde do Trabalhador (Nast). Ela relata que as pessoas apontavam insônia por causa da precarização do trabalho, da pejotização e da redução de ofertas de vagas com registro.
Segundo ela, os trabalhadores relatam dificuldade para estabelecer a jornada. A maioria diz se sentir em permanente alerta, como se trabalhasse todo o tempo em que está acordada. NEUROSE
Na periferia, onde a maioria não tem home office, nem trabalho regular, a sensação é de insegurança absoluta, com exposição constante ao vírus e à falta de alternativas para ter renda. Perguntas como “vou conseguir comer no almoço? E na janta?”, ou “como sair de casa para trabalhar se não tenho com quem deixar meu filho?”, retornam à lista de aflições de quem vive em comunidades, diz Dunker.
A ausência de rotina, do ir e vir para trabalhar, e a quantidade excessiva de som perturbaram a saúde mental nos bairros mais populares. Como o número de mortos é mais elevado entre os mais pobres, essa parcela precisa lidar de forma mais constante com o luto. Os mais afetados emocionalmente, porém, são os que estão na linha de frente do combate ao vírus.
EM UM ANO, PAÍS PERDE 7,8 MILHÕES DE EMPREGOS
Em um ano de pandemia, a massa de rendimentos do trabalho das pessoas ocupadas encolheu 7,4%, uma perda de R$ 16,8 bilhões, na comparação entre o trimestre encerrado em fevereiro de 2021 e o mesmo período do ano passado.
Quando se compara o dado mais recente com os três meses imediatamente anteriores (de setembro a novembro de 2020) , há perda de R$ 4,6 bilhões (-2,1%).
Os dados, da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mostraram que o desemprego atingiu taxa re
corde de 14,4% no trimestre encerrado em fevereiro.
Ante o período pré-crise, destacam-se quedas no rendimento médio real habitual das pessoas ocupadas nos segmentos de alojamento e alimentação (-9,7%) e atividades de transporte (-7,8%), que estão entre os mais afetados por restrições da pandemia. A menor queda foi na agropecuária. A administração pública foi a única atividade com aumento real.
Em relação ao tipo de ocupação, as maiores quedas no valor médio recebido foram dos empregadores (-5,4%) e dos trabalhadores domésticos (-3,6%). Assalariados no setor privado com registro tiveram perda de 0,8%. Os sem-carteira tiveram alta de 0,5% no rendimento. O corte de vagas com salários menores explica o movimento na média.
Os dados mostram quais os segmentos responsáveis pela perda de 7,8 milhões de postos em um ano. Atividades de alojamento e alimentação perderam 1,5 milhão, maior queda percentual (-27,4%). A indústria fechou cerca de 1,3 milhão de postos (-10,8%), mesmo número dos serviços domésticos (-20,6%). O comércio perdeu 1,98 milhão (-11%). Nesse caso, o número absoluto elevado se deve ao grande número de trabalhadores, mais de 15 milhões. Já nos serviços as atividades estão subdivididas no IBGE.
Maioria diz se sentir em permanente alerta, como se trabalhasse todo o tempo”