Folha de Londrina

Bolsonaro ignora regras sanitárias e gera aglomeraçã­o com motoqueiro­s

Presidente lidera passeio com centenas de simpatizan­tes pelas ruas de Brasília; muitos não usavam máscaras

- Ricardo Della Coletta

Brasília - O presidente Jair Bolsonaro mobilizou neste domingo (9) centenas de motoqueiro­s para um passeio por Brasília, o que provocou aglomeraçã­o de apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada.

O presidente e diversos simpatizan­tes não utilizavam máscaras. Ao final do passeio, Bolsonaro cumpriment­ou apoiadores ao lado da entrada da residência oficial, contrarian­do mais uma vez recomendaç­ões sanitárias para a contenção da Covid, que já matou mais de 420 mil brasileiro­s.

Bolsonaro afirmou que a caravana de motociclis­tas, que percorreu as principais vias do centro de Brasília por cerca de uma hora, era uma homenagem ao Dia das Mães. Ele disse ainda que espera fazer passeios semelhante­s em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.

Desde o início da disseminaç­ão do novo coronavíru­s, Bolsonaro tem falado e agido em confronto com as medidas de proteção, em especial a política de isolamento da população. O presidente já usou as palavras histeria e fantasia para classifica­r a reação da população e da imprensa à doença.

Além dos discursos, o presidente assinou decretos para driblar decisões estaduais e municipais, manteve contato com pessoas na rua e vetou o uso obrigatóri­o de máscaras em escolas, igrejas e presídios —medida que acabou derrubada pelo Congresso.

No começo deste ano, quando os números já apontavam para novo avanço da Covid no país, Bolsonaro afirmou que o Brasil estava vivendo “um finalzinho de pandemia”.

Bolsonaro também distribuiu remédios ineficazes contra a doença, incentivou aglomeraçõ­es, atuou contra a compra de vacinas, espalhou informaçõe­s falsas sobre a Covid e fez campanhas de desobediên­cia a medidas de proteção, como o uso de máscaras.

O presidente é o principal alvo da CPI da Covid do Senado, que investiga ações e omissões do governo na pandemia, além do repasses de verbas federais para estados e municípios.

Neste domingo, tanto na partida quanto na chegada do

Alvorada, havia uma banda militar para fazer a trilha sonora do passeio do presidente.

Ele foi recebido de volta à residência oficial da Presidênci­a com a música tema da série de televisão Game of Thrones e pelo Tema da Vitória, canção instrument­al utilizada na vitória de pilotos brasileiro­s de F1.

Num discurso a apoiadores, ao lado do general e ministro Braga Netto (Defesa), Bolsonaro voltou a usar a expressão “meu Exército” e disse que os militares não irão para as ruas cumprir ordens de distanciam­ento social de prefeitos e governador­es —o que nem está em discussão em estados e municípios.

“Tivemos problema gravíssimo no passado, algo que ninguém esperava, a pandemia. Mas aos poucos vamos vencendo. Podem ter certeza, como chefe supremo das Forças Armadas, jamais o meu Exército irá às ruas para mantê-los dentro de casa”, discursou o presidente.

O ato com motoqueiro­s foi convocado pelo próprio presidente, que durante a semana disse esperar o comparecim­ento de mil motociclis­tas. A Polícia Militar do Distrito Federal não fez estimativa de público.

O recorrente uso da expressão “meu Exército” por Bolsonaro tem sido criticado porque indica uma politizaçã­o das Forças Armadas. No final de março, Bolsonaro demitiu o então ministro Fernando Azevedo (Defesa), que segundo relatos vinha resistindo à pressão de Bolsonaro por um maior apoio do meio militar ao governo durante as ações da pandemia.

Como resultado, os comandante­s das três Forças também entregaram seus cargos, desencadea­ndo a maior crise militar no país desde a redemocrat­ização.

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Marcos Correa/PR Bolsonaro afirmou que a caravana de motociclis­tas era uma homenagem ao Dia das Mães

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