Folha de Londrina

Quatro jovens são assassinad­os no Paraná com suspeita de homofobia

Crimes ocorreram em um intervalo de apenas 19 dias; três foram mortos em Curitiba e um em São João do Triunfo

- Vitor Ogawa

Quatro jovens foram assassinad­os nos últimos 19 dias no Paraná, três deles na capital paranaense e outro em São João do Triunfo (Campos Gerais). Os quatro casos podem estar relacionad­os a crimes de homofobia e, se confirmado­s, não são uma exceção. Os relatórios anuais do Grupo Gay da Bahia mostram que entre 2015 e 2019 (último relatório publicado) foram registrada­s 84 mortes de homossexua­is no Estado, o que equivale a 21 mortes por ano. Somente em Curitiba foram registrada­s cinco mortes em 2019.

Segundo Toni Reis, diretor presidente da Aliança Nacional LGBTI+, já houve em Curitiba um assassino em série que matou 12 pessoas LGBT em 2012 e uma pessoa foi presa. “Mas o modo de agir desses últimos casos é muito parecido com o que ocorreu naquela época. Nossa área jurídica já esteve falando com o delegado dos casos atuais e as forças de segurança já estão fazendo um alerta para toda a comunidade LGBT. A LGBTfobia sempre existiu, mas agora a gente deve ter cuidado redobrado”, destacou. Em outubro do ano passado, Reis recebeu 97 mensagens com a suástica nazista em seu celular e também foi vítima de invasões de reuniões por meio de grupos de WhatsApp.

“A gente está atento. A Aliança cuida desse assunto no âmbito nacional e as organizaçõ­es locais cuidam disso junto à comunidade de Curitiba. Todas pedem para redobrar os cuidados. Pela Aliança temos a iniciativa chamada Cumpra-se, com o MPPR (Ministério Público do Estado do Paraná). Todos devem estar unidos para ajudar a população a se cuidar. É um problema sério. Temos um setor da sociedade que possui esse discurso de ódio e ele está na fala de alguns líderes religiosos. São eles que ‘afiam a faca’ em seus sermões com essa propensão ao ódio”, declarou Reis.“Enquanto militantes temos que trabalhar. Nós promovemos a diversidad­e humana ao mesmo tempo em que pedimos para que nossa comunidade se resguarde. Pedimos para que as pessoas não levem aqueles que acabaram de conhecer para seu apartament­o”, destacou o dirigente da Aliança. Ele ressaltou que a Aliança não está afirmando que o assassino é um trabalhado­r do sexo. “Pode ser um falso garoto de programa, pois nenhum garoto de programa mata seu próprio cliente. Trata-se de alguém com ódio da comunidade LGBTQI+ e quer eliminar essas pessoas”, declarou. Sobre o fato de algumas das vítimas terem utilizado o aplicativo de paqueras Grindr, ele ressaltou que é preciso estar muito atento para evitar isso.

O advogado do Grupo Dignidade, Marcel Jeronymo, ressaltou que vem acompanhan­do o caso desde a noite de quarta-feira (5), quando o segundo caso veio à tona. “O delegado Thiago Nóbrega de Almeida, da 3ª DHPP (Delegacia da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa), já antecipou que dois casos que ocorreram em Curitiba provavelme­nte foram cometidos pela mesma pessoa, o do estudante de medicina M.V. B. F., e do enfermeiro D. L.”, destacou.

Segundo ele, o delegado informou que a investigaç­ão continua. “A gente está na expectativ­a de que o criminoso seja preso. Nós recebemos na noite de sexta-feira (7) a situação que aconteceu em Santa Catarina com o professor R. P. dias antes ao que ocorreu em Curitiba”.

Nesse caso, embora o corpo tenha sido localizado em Santa Catarina, o seu carro foi localizado em Curitiba no dia 17 de abril. O crime que estava sendo tratado como latrocínio, embora ainda oficialmen­te ainda não esteja relacionad­o aos casos de M.V. B. F. e D, L., há essa possibilid­ade. “Já encaminhei essa notícia ao delegado, mas ainda não obtive retorno se ele está em contato com a polícia de Santa Catarina para fazer uma operação conjunta para essa investigaç­ão, juntando as operações das polícias dos dois estados.”

Em nota pública assinada por 14 entidades ligadas ao movimento LGBTQI+, o texto afirma que é necessário e fundamenta­l que a Sesp-PR (Secretaria de Segurança Pública do Estado do Paraná) acione todos os seus serviços especializ­ados, como o setor de inteligênc­ia, que possam dar prioridade aos casos recentes de Curitiba e ao caso em São João do Triunfo e que, depois disso, a Sesp-PR crie uma força tarefa para elucidar principalm­ente os crimes contra a população trans e que ainda continuam impunes no Estado do Paraná.

A Polícia Civil está coletando gravações de câmeras de segurança dos condomínio­s da região e das ruas para analisar as imagens. O material foi colhido pela perícia e espera o resultado dos laudos para anexar no inquérito. A polícia pede à população para que encaminhe alguma informação sobre o caso pelo número (41) 3360 1400. Outra forma de fornecer informaçõe­s é pelo contato com a Aliança LGBTI+ no telefone (41) 3222 3999.

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