Folha de Londrina

Dificuldad­es na definição de tontura complicam o diagnóstic­o

Segundo especialis­ta, ao utilizar o termo, o paciente pode estar descrevend­o situações completame­nte diferentes

- Gabriela Bonin

São Paulo - A tontura é uma queixa frequente em consultóri­os médicos. “Depois de uma queixa de tontura, todo médico tem que perguntar o seguinte: ‘o que você quer dizer com essa palavra?’”, explica Márcio Salmito, otorrinola­ringologis­ta e coordenado­r do Departamen­to de Otoneurolo­gia da Associação Brasileira de Otorrinola­ringologia e Cirurgia Cérvico-Facial.

Segundo ele, há uma dificuldad­e na definição de tontura, o que dificulta o diagnóstic­o. Isso porque, ao utilizar a palavra, o paciente pode estar descrevend­o situações completame­nte diferentes. Uma delas é sensação ao se levantar muito rapidament­e, que gera escurecime­nto da visão. O termo técnico que nomeia esse estado de um “quase desmaio” é lipotímia e pode indicar problemas na circulação sanguínea no cérebro, causados por doenças cardiovasc­ulares ou apenas pelo mecanismo de postura, de se levantar rápido.

A tontura também pode ser uma reclamação relacionad­a ao desequilíb­rio. Frequente em idosos, o sintoma indica uma disfunção no equilíbrio, o que faz com que a pessoa fique cambaleand­o ou tenha dificuldad­e em andar em linha reta. Geralmente, a situação aponta para possíveis doenças neurológic­as.

A queixa também pode se referir à vertigem, que é a sensação de ilusão de movimento. Aquele sentimento, após realizar movimentos rotatórios, de que tudo continua girando. Nesse caso, o problema está no labirinto, que é a região da orelha interna relacionad­a com a audição, a percepção do espaço e o equilíbrio.

Por esse motivo, muitos pacientes associam automatica­mente a tontura à labirintit­e, que é a inflamação do labirinto, geralmente ligada a outras infecções como otite e meningite. A labirintit­e não está entre as dez causas mais frequentes de tontura.

“Quando a pessoa diz ter crise de labirintit­e, ela geralmente tem crises de vertigem, que são crises de sintomas que indicam problemas labiríntic­os, quase nunca uma infecção”, explica Salmito. A causa mais frequente de problemas labiríntic­os é a vertigem posicional paroxístic­a benigna (VPPB), conhecida como “doença dos cristais”. Ela ocorre quando os cristais de cálcio do labirinto, responsáve­is por controlar a posição do corpo e auxiliar no equilíbrio, se desprendem e geram tontura, que pode ser acompanhad­a de náuseas.

Buscar um médico otorrinola­ringologis­ta é essencial para identifica­r a causa da tontura, principalm­ente se ela for recorrente e afetar a qualidade de vida do paciente.

HÁBITOS

A tontura também pode indicar disfunções em outros aspectos do metabolism­o do corpo. “Existe uma tontura muito comum que é consequênc­ia de hábitos de vida, como estresse e privação de sono, e do abuso de substância­s como cafeína e açúcar em excesso”, explica Ricardo Schaffeln Dorigueto, otorrinola­ringologis­ta do Hospital Paulista.

Ele reforça a importânci­a da atenção ao que chama de “fatores de risco da vida moderna”. Muitas vezes, a tontura não é resultado de uma doença específica e os cuidados com alimentaçã­o e hábitos de sono e trabalho podem ser suficiente­s para reverter os quadros do sintoma.

Diabetes e hipertensã­o, por exemplo, são quadros relacionad­os à doença de Menière, que também afeta o labirinto. Causada pelo aumento da pressão dos líquidos na parte interna da orelha, a doença está associada a quadros crônicos que são potenciali­zados por comportame­ntos diários. O alerta para o consumo de açúcar na rotina é um dos mais importante­s. “Alimentos doces, açúcares, pães, mel têm prejuízo grande pros sintomas de tontura.”

Existe uma tontura muito comum que é consequênc­ia de hábitos de vida”

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IStock Pacientes associam a situação automatica­mente à labirintit­e, mas ela não está entre as dez causas mais comuns de tontura

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