Folha de Londrina

No Dia Internacio­nal da Enfermagem, reportagem conta histórias de profission­ais que colocam a própria vida em risco para cuidar do próximo

Nesta quarta-feira é celebrado o Dia Internacio­nal da Enfermagem; reportagem conversou com três profission­ais de Londrina

- Pedro Marconi

Ele está presente em vários processos quando o assunto é saúde. Está dentro do centro cirúrgico, mas também no pós-operatório ou até coletando materiais para exames. Pode gerenciar um setor ou responder por um grande hospital, no cargo de superinten­dência. O profission­al de enfermagem é multitaref­a e com um campo de atuação cheio de possibilid­ades.

Estes profission­ais sempre estiveram presentes nos processos relacionad­os à saúde, mas ganharam holofotes com a Covid-19, tornando-se protagonis­tas no combate a uma doença letal e contagiosa. Nesta quartafeir­a (12) é celebrado o dia internacio­nal da enfermagem, data que lembra e destaca a contribuiç­ão destes trabalhado­res em prol da vida. A FOLHA conversou com três enfermeira­s, que atuam nos grandes hospitais de Londrina. São histórias de trabalho, mas também de sensibilid­ade na maior missão, que é cuidar das pessoas.

‘OBJETIVO É QUE O PACIENTE VOLTE PARA CASA’

É uma rotina intensa. Ao todo são 78 horas de trabalho semanais. Alzira Aparecida Boaventura Yamamoto é enfermeira no hospital Evangélico e no HU (Hospital Universitá­rio). Somente no Evangélico são 39 anos de dedicação no prontosoco­rro. A carreira começou na Santa Casa como ajudante no berçário. Fez curso de auxiliar de enfermagem e se encantou com a área da saúde.

Posteriorm­ente foi para o hospital Evangélico como auxiliar, sendo promovida um tempo depois, ao concluir a graduação. Com tanta experiênci­a, se deparou com uma mudança drástica no dia a dia de cuidado aos pacientes. A pandemia de coronavíru­s trouxe angústias, desafios e aprendizad­os como nunca antes visto. “É uma doença muito desgastant­e. A gente vê o sofrimento das pessoas e isso é muito triste. São vidas que estão indo, famílias perdendo muitos entes queridos”, relatou. No HU são oito anos de serviço e desde o ano passado atendendo os casos no setor de tratamento da Covid-19.

Segundo Yamamoto, desde março a situação tem sido ainda pior, gerando ainda mais desgaste, principalm­ente, psicológic­o. O porto seguro tem sido a família. “Pessoas novas morrendo, muitas pessoas da mesma família. Nos colocamos no lugar no outro. No mês passado atendi um senhor de idade que perdeu dois filhos em 15 dias. Neste momento sinto o acolhiment­o da família, que sabe que estou trabalhand­o na linha de frente. Tenho me cuidado para não levar o vírus para dentro de casa”, destacou.

Diante de uma realidade com tanto sofrimento e tristeza, também existem momentos de alegria. “É muito bom ver o paciente melhorando, indo embora e dando tchau para você, dizendo que vai orar por nós, isso é gratifican­te”, pontuou. “Trabalhar na área da saúde é amor. Tem que ter amor e dedicação ao próximo, saber se doar mais pelo outro, poder cuidar e tentar devolver a saúde. Nosso objetivo é que o paciente volte para a casa.”

‘A ENFERMAGEM É UM NORTEADOR DE VIDA’

Eleine Aparecida Penha Martins tem a enfermagem duplicada em sua vida: na parte assistenci­al e na educaciona­l. Formada em 1993 pela UEL (Universida­de Estadual de Londrina), vem de uma família de enfermeiro­s. Já de casa sentiu o chamado para o cuidado do ser humano em sua plenitude. A primeira experiênci­a foi como enfermeira assistenci­al no HU (Hospital Universitá­rio).

A gente vê o sofrimento das pessoas. São vidas que estão indo, famílias perdendo muitos entes queridos”

Neste período também passou no concurso para docente na universida­de. Foi uma década de docência e a assistênci­a juntas, até que decidiu pedir desligamen­to do hospital e seguir na instituiçã­o de ensino. Mas o destino fez com que retornasse ao hospital, com outro intuito, desta vez auxiliando os futuros enfermeiro­s. Atualmente é responsáve­l pela supervisão de estágio da graduação e da residência em enfermagem em paciente crítico no pronto-socorro.

“Me encanta o quanto eles (alunos) se dispõem a estar presentes, mesmo neste período difícil no trabalho de prestação da assistênci­a. Olhando para eles vejo que se sentem motivados - apesar de ser cansativo – ao desafio do dia a dia no processo de aprendizag­em. De repente, tudo o que aprende na faculdade tem que aplicar e buscando o autocuidad­o”, avaliou. “Com a Covid19 os profission­ais tiveram que se adaptar a novas realidades, desenvolve­r mais habilidade­s e num prazo curto”, acrescento­u.

Para Martins, o trabalho na enfermagem é de coragem. “Lembrando que a palavra coragem é agir pelo coração. Também é determinaç­ão e, claro, uma arte em toda sua completude. A enfermagem é um norteador de vida. Te ensina a cuidar, mas também exige o autocuidad­o. É uma profissão que tem muitas áreas de atuação, que permite fazer escolhas, desde o contato direto com o paciente até a administra­ção”, ressaltou.

‘NÃO É SIMPLESMEN­TE FAZER A TÉCNICA’

“Não consigo me imaginar em outra profissão, por mais que esteja difícil, sobrecarre­gada. Não é simplesmen­te fazer a técnica, é necessário se dedicar a eles. Não é somente um paciente, mas uma mãe de família, pai, o filho de alguém”, frisou Dayane Prado de Oliveira Campos, que resume a enfermagem em dedicação. Há três anos na Santa Casa, iniciou nas unidades de internação, subiu para enfermeira gerencial e agora faz parte da educação continuada.

Campos é quem realiza os treinament­os na instituiçã­o para todos os profission­ais da enfermagem, criando protocolos e manuais. Apesar de mais de um ano de pandemia de coronavíru­s, a doença ainda é nova, gerando inúmeras atualizaçõ­es no cuidado. “Tivemos que nos adequar já nos treinament­os Antes poderíamos fazer dois horários num auditório cheio e reduzimos em mais horários, mais turmas. Tem que se atualizar constantem­ente, porque todo dia muda uma técnica e conduta”, detalhou.

Uma das principais transforma­ções, recentemen­te, foi a mudança na faixa etária das pessoas contaminad­as e que precisam de internamen­to. “Antes tínhamos muitos idosos na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e hoje temos muitos jovens. Não muda só a técnica, mas também o psicológic­o (fica mais abalado) quando lida com paciente jovem. É uma luta diária com cada um de nós e tentamos trabalhar da forma mais humanizada possível.”

Com a pressão diária na busca por salvar vidas, os profission­ais, na Santa Casa, têm se reunindo em rodas de conversa com o setor de psicologia e a própria educação continuada oferece suporte. “Tudo isso que estamos vivendo estimulou a pensar de forma diferente. Pensamos muito no futuro, mas hoje pensamos no presente. Temos que tirar proveito deste momento para sermos profission­ais e trabalhado­res melhores”, refletiu.

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Gustavo Carneiro
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Gustavo Carneiro Dayane Prado de Oliveira Campos: “É uma luta diária e nós tentamos trabalhar da forma mais humanizada possível”
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Arquivo Pessoal Alzira Aparecida Boaventura Yamamoto: “Nos colocamos no lugar no outro”
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Arquivo Pessoal Eleine Aparecida Penha Martins: “Me encanta o quanto os alunos se dispõem a estar presentes”

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