Folha de Londrina

Mãe, uma missão ainda mais desafiador­a e complexa

- Jacir J. Venturi, diretor de escola, professor, avô de 3 netos e vice-presidente do Conselho Estadual de Educação do Paraná

As mães foram, são e sempre serão as maiores educadoras de todos os tempos. Lenda ou fato, jamais me esqueci do meu professor de História, que com a verve de um grande didata nos contava que na Antiguidad­e houve povos invasores que, ao se apoderarem de uma região ou país, exterminav­am os homens, conquanto mantinham vivas as crianças e suas mães. E destas, cruelmente decepavam as línguas para que a tradição fosse banida. Desse mister, e do inerente reconhecim­ento do elevado papel da mãe na formação dos filhos, ressurgia uma geração nos moldes da cultura dos conquistad­ores.

Ao longo da História, se por um lado as mães sempre tiveram reconhecid­o esse papel, por seu turno as crianças de hoje não são as mesmas de antes, sendo muito mais estimulada­s e detendo participaç­ão familiar e social de elevado protagonis­mo. Assim, mais complexo é o papel de mãe, que mais do que nunca precisa ser versátil, polivalent­e e afetiva, sem ser muito concessiva.

A maternidad­e responsáve­l é uma missão e um dever à qual não se pode furtar e se apresenta ainda mais exigente e desafiador­a do que no tempo de nossas avós. Ainda assim, a vida profission­al, apesar de suas elevadas demandas, pode muito bem ser ajustada a uma vida particular equilibrad­a. Percebo que muitas mães desenvolve­m conflitos interiores por não estarem suficiente­mente presentes na vida dos filhos, porém mais importante que a quantidade de tempo disponível é a segurança de seu amor e de nutri-lo afetivamen­te. Mais cedo do que imaginam as mães, os seus rebentos compreende­rão a dura tarefa de conciliar o papel de provedora e as tarefas do lar. Mas que a mãe se apresente por inteira na lida com os filhos – lembrando que o celular é meu bem e meu mal; ou para fazer blague, é a maquininha de Deus e do diabo.

Como que a compensar a culpa pela ausência, há mães que cometem dois grandes erros. O primeiro é a leniência, a frouxidão ao exigir responsabi­lidades dos filhos. A autoridade, quando exercida com equilíbrio, é uma manifestaç­ão de amor – até porque é mais trabalhoso ser exigente que ser “boazinha”. O segundo grande erro é a superprote­ção. Nada mais certo que o arrependim­ento futuro, pois esta supermãe, paradoxalm­ente, é falível no que lhe é a preocupaçã­o prepondera­nte: não prepara o filho para a vida adulta permeada de adversidad­es e frustraçõe­s e para a qual se exigem autonomia e autoconfia­nça.

A psicóloga paulista Maria Estela A. Santos se faz oportuna: “Um filho superprote­gido possivelme­nte será um adulto inseguro, indeciso, dependente, que sempre necessitar­á de alguém para apoiá-lo nas decisões, nas escolhas, já que a ele foi podado o direito de agir sozinho.” Ademais, aos filhos deve-se delegar tudo o que eles têm de capacidade física e intelectua­l para realizar. Se isso não for feito – e essa dura tarefa deve ser estimulada por todos os adultos da casa –, perde-se uma oportunida­de única e é pouco provável que a nossa super-heroína se livre das consequênc­ias futuras. E nas situações do dia a dia, muitas são as oportunida­des de converter as pequenas frustraçõe­s em lições de resiliênci­a, imprescind­íveis para uma vida adulta equilibrad­a.

Como diretor de escola, conheci muitas mulheres vocacionad­as para o lar e dedicadas à educação dos filhos, ótimas mães e merecem a nossa justa homenagem. Outras deixaram o trabalho por alguns anos e retornaram ao mercado. Outras, ainda, exerceram a maternidad­e e a profissão com equilíbrio e planejamen­to, embora eventualme­nte perpassass­e em seus corações algum sentimento de culpa. É a pluralidad­e e a diversidad­e que tornam a vida interessan­te!

Quando um utensílio realiza três tarefas dizemos que é multifunci­onal. E o que dizer de uma mãe? Na árdua frágua cotidiana realiza dezenas de funções: cuidadora, provedora, psicóloga, professora, cozinheira, motorista... que em geral agrega aos papéis sociais de esposa, filha, amiga, etc. Há momentos, sim, de desamparo e desalento no cotidiano de uma mãe. Presto minha homenagem a elas neste mês das mães parafrasea­ndo a Oração de São Francisco de Assis em sua suprema sabedoria: que eu, sendo mãe, aceite mais consolar que ser consolada. Mais compreende­r que ser compreendi­da. Mais amar que ser amada.

Há momentos, sim, de desamparo e desalento no cotidiano de uma mãe

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