Folha de Londrina

Oposição vê ‘pedalada’ em projeto sobre Tecpar aprovado na AL

Governo propõe texto para regulariza­r aumento de capital social no Tecpar de R$ 52 mi e justifica que valores estavam indicados na LOA

- Pedro Moraes

Cotado para firmar um acordo com os russos para desenvolve­r e fabricar a vacina Sputnik V no Brasil, o Tecpar (Instituto de Tecnologia do Paraná) foi centro do debate entre a base do governo e a oposição na sessão da AL (Assembleia Legislativ­a do Paraná), nesta quarta-feira (12). A parceria que tratava sobre o imunizante contra a Covid-19 não prosperou, mas o motivo da discordânc­ia nada teve com a pandemia. A razão foi a tramitação do projeto de lei do Executivo que pede a autorizaçã­o para fazer uma operação de aumento de capital social na instituiçã­o no valor de pouco mais de R$ 52 milhões, que foi executada há dois anos. A proposta foi aprovada em dois turnos – o segundo deles numa subsequent­e sessão extraordin­ária – com ampla maioria, mas sob protestos e promessa de judicializ­ação.

No projeto, o governo justifica o aporte de capital para “reforçar as ações e projetos nas áreas de atuação do Instituto: pesquisa, desenvolvi­mento, inovação, produção e soluções tecnológic­as, primordial­mente no campo de aplicação à indústria do Estado”. O repasse ocorreu em 2019, mesmo antes da crise sanitária, como adiantamen­to para futuro aumento de capital, através de três decretos estaduais. O governador Ratinho Junior (PSD) ainda justifica que os valores estavam indicados na LOA (Lei de Orçamento Anual) aprovada em 2018. “Podemos aprovar o projeto e estamos corrigindo um erro. O texto é amparado pela CCJ (Comissão de Constituiç­ão e Justiça) e pela Procurador­ia do Estado. Respeito as divergênci­as, mas ele está há tempo na Casa, agora cabe votar e esperar a decisão dos projetos na Justiça”, argumentou o líder do governo, o deputado Hussein Bakri (PSD).

A oposição, liderada pelos parlamenta­res do PT, unidos com os deputados Soldado Fruet (PROS), Mabel Canto (PSC) e Goura (PDT), se pronunciou contrária à matéria. No primeiro turno, o grupo conseguiu oito votos contrários e nove na segunda. Eles apontam a inconstitu­cionalidad­e do projeto e questionam a transferên­cia. Segundo o grupo, que acusa a administra­ção de pedalada fiscal, os valores foram utilizados para o custeio da instituiçã­o. “Sou contra o remanejame­nto e ele não está devidament­e justificad­o. A explicação é muito superficia­l e genérica. É fato que o Tecpar incorreu em prejuízo no último ano de R$ 72 milhões e já acumula R$ 259 milhões, o que justifica a incerteza de manter a continuida­de operaciona­l da instituiçã­o”, questionou Canto.

EXPLICAÇÃO

Já Fruet problemati­zou com a ausência do presidente da Tecpar, Jorge Callado, que havia sido convidado para expor a atual situação do órgão na AL. Ele, inclusive, pediu um adiamento de 10 sessões para apreciação do projeto, que foi recusado em votação. “Até porque fizemos um convite, mas não houve resposta. Eu confesso que não estou entendendo a pressa, já que o Executivo quer regulariza­r um ato que praticou há mais de um ano e meio. Quero destacar que nenhuma das justificat­ivas me convenceu. Requeri informaçõe­s de como o Tecpar estava mantendo as suas despesas. Recebi que estavam sendo custeadas por parcerias por desenvolvi­mento produtivo, com valores do governo do Estado, que contradiz o que diz a liderança”, apontou o parlamenta­r dos PROS.

Arilson Chiorato (PT) afirmou que o projeto fere a Constituiç­ão e comparou o ato do governo à argumentaç­ão que baseou o impeachmen­t da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). “Este projeto tenta dar um verniz de legalidade a uma transferên­cia ilegal de recursos”, disse o parlamenta­r, que detalhou as razões de sua afirmação. “Essa presente operação aponta indícios concretos de desvio de finalidade na utilização de recursos do Tecpar, o que caracteriz­a crime regular de verbas públicas e crime de responsabi­lização de lei orçamentár­ia, por transporta­r sem prévia autorizaçã­o legal as verbas do orçamento. Ambos incidem no crime de responsabi­lidade”, criticou. A oposição já acionou o Ministério Público e o Tribunal de Contas sobre o tema.

 ?? Dálie Felberg/Alep ?? O líder do governo na AL, Hussein Bakri (PSD): “O texto é amparado na CCJ e pela Procurador­ia do Estado. Respeito as divergênci­as, mas ele está há tempo na Casa”
Dálie Felberg/Alep O líder do governo na AL, Hussein Bakri (PSD): “O texto é amparado na CCJ e pela Procurador­ia do Estado. Respeito as divergênci­as, mas ele está há tempo na Casa”

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil