Folha de Londrina

Fachin submete a plenário delação que acusa Toffoli de vender sentença

Ex-governador do RJ Sérgio Cabral afirmou que ministro do STF recebeu R$ 4 milhões para favorecer dois prefeitos fluminense­s em processos na Corte; PF pediu investigaç­ão

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- O ministro Edson Fachin marcou para o próximo dia 21 o julgamento no plenário virtual do STF (Supremo Tribunal Federal) sobre a validade da delação premiada do ex-governador Sérgio Cabral.

A decisão de Fachin de submeter o tema à análise dos colegas ocorre um dia depois de a coluna Painel, da Folha de S.Paulo, revelar o pedido da Polícia Federal para que seja instaurado um inquérito para apurar a acusação do político de que o ministro Dias Toffoli vendeu sentenças quando integrava o TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Relator da Lava Jato no Supremo, Fachin homologou a delação de Cabral à PF em fevereiro de 2020.

A PGR (Procurador­ia-Geral da República), porém, recorreu e pediu para o Supremo invalidar o acordo da PF com o ex-chefe do Executivo do Rio de Janeiro.

Agora, Fachin levou o recurso da Procurador­ia para o plenário. O caso será julgado na sessão do plenário virtual que começa em 21 de maio e vai até o dia 28 do mesmo mês. Nesse período, os ministros têm de incluir seus votos no sistema.

A PGR avalia aguardar o desfecho deste julgamento antes de se posicionar sobre o pedido da PF relacionad­o a Toffoli.

Caso seja derrotada no julgamento, e tendo como argumento a própria defesa que fez para invalidar a delação de Cabral, a tendência da Procurador­ia é a de pedir o arquivamen­to do caso do ministro do Supremo.

A polícia e a PGR têm uma disputa antiga sobre colaboraçõ­es premiadas. A Procurador­ia costuma afirmar que a PF não pode firmar um acordo de delação sem a participaç­ão do Ministério Público.

O Supremo, porém, decidiu em 2018, com oito votos favoráveis, que a polícia pode, sim, celebrar acordo com delatores, independen­temente do aval do Ministério Público.

No recurso apresentad­o ao Supremo sobre o caso de Cabral, a PGR pede a invalidaçã­o do acordo sob o argumento de que há “fundadas suspeitas” de que Cabral continua ocultando valores recebidos de forma ilícita e que isso viola “a boa-fé objetiva” da delação.

Na delação, o ex-governador do Rio afirma que Toffoli recebeu R$ 4 milhões para favorecer dois prefeitos fluminense­s em processos no TSE.

Toffoli foi ministro do TSE de 2012 a 2016, tendo sido presidente da corte de maio de 2014 a maio de 2016.

Os pagamentos, diz Cabral, teriam sido realizados nos anos de 2014 e 2015 e operaciona­lizados por Hudson Braga, ex-secretário de Obras do Rio de Janeiro.

Os repasses, na versão do delator, teriam envolvido o escritório da mulher de Toffoli, a advogada Roberta Rangel.

O ministro do STF diz não ter conhecimen­to dos fatos mencionado­s e que jamais recebeu os supostos valores ilegais.

CHANCES MÍNIMAS

Após a revelação sobre o pedido da PF para investigar Toffoli, alguns senadores cobravam investigaç­ão, enquanto integrante­s do STF buscaram, de forma reservada, minimizar o caso.

Para ministros, o pedido tem chances mínimas de prosperar e deve ser arquivado pelo tribunal, até devido ao posicionam­ento reiterado da PGR pela nulidade da delação premiada de Cabral.

Internamen­te, no Supremo, também há a avaliação de que é improvável que o tribunal abra um precedente em favor da investigaç­ão de um dos 11 membros da corte.

Isso só ocorreria, na visão de ministros, em um cenário em que sejam apresentad­as evidências muito claras contra Toffoli, e não apenas indícios que apontem nesse sentido, o que geralmente já é suficiente para abertura de inquérito em situações que não envolvem magistrado­s do tribunal.

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Nelson Jr./STF Dias Toffoli diz não ter conhecimen­to dos fatos mencionado­s por Cabral e que jamais recebeu supostos valores ilegais

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