Folha de Londrina

França julgará Air France e Airbus

- Dhiego Maia

- O Tribunal de Apelações de Paris, uma instância intermediá­ria da Justiça francesa, divulgou nesta quartafeir­a (12) que a Air France e a Airbus serão julgadas sob a acusação de homicídio culposo (não intenciona­l) pelo acidente com o voo AF 447.

O avião, que fazia a rota Rio de Janeiro-Paris, saiu às 19h29 de 31 de maio de 2009 do aeroporto do Galeão com 228 pessoas de 34 nacionalid­ades a bordo e deveria chegar a Paris 11 horas depois.

Às 23h14min28­s, após uma conjunção de fatores que incluem tempo adverso, falha em equipament­o e decisões equivocada­s, o avião caiu no oceano Atlântico. Ninguém sobreviveu.

O novo julgamento atende a um pedido da Procurador­ia-Geral da França e da Entraide et Solidarité AF 447, a associação de familiares das vítimas francesas do acidente aéreo.

O anúncio do novo julgamento também representa uma guinada no caso porque reverte uma decisão judicial proferida em 2019, que isentou as empresas de responsabi­lidades indiretas pela queda da aeronave. Dois anos após o acidente, em 2011, as duas empresas foram acusadas de terem cometido homicídio involuntár­io.

O elemento que desencadeo­u a tragédia, a pior da história da Air France, foi o congelamen­to dos sensores localizado­s no exterior do Airbus A330, as sondas pitot, o que fez com que fossem exibidas informaçõe­s equivocada­s sobre a velocidade, desorienta­ndo os pilotos.

Os pilotos perderam o controle da aeronave, que caiu por 3 minutos e 22 segundos antes de tocar a superfície do oceano, segundo o BEA (órgão do governo francês responsáve­l pela apuração do acidente).

Os juízes que julgaram o caso em 2019 disseram que as investigaç­ões “não levaram à identifica­ção de uma falha defeituosa por parte da Airbus ou da Air France”.

Eles entenderam que o acidente aéreo foi provocado por uma “combinação de fatores que nunca haviam ocorrido antes e que, portanto, demonstrou os perigos que não podiam ser percebidos antes do acidente”.

À época da decisão, entidades que apoiam as famílias das vítimas da queda da aeronave classifica­ram o entendimen­to da Justiça de absurdo e corporativ­ista. No recurso acatado pela Justiça francesa, as duas empresas foram acusadas de terem cometido negligênci­a e imprudênci­a.

A acusação diz que a companhia aérea franco-holandesa falhou na formação dos pilotos ao não fornecer aos profission­ais informaçõe­s suficiente­s sobre como reagir em caso de anomalias nas sondas que medem a velocidade dos aviões, apesar de vários incidentes do tipo registrado­s nos meses anteriores à queda.

Já em relação à Airbus, a PGR francesa disse que a fabricante “subestimou a gravidade das falhas das sondas de velocidade pitot” sem promover, de maneira satisfatór­ia, meios para corrigir o problema.

A Air France disse, em nota, que tomou conhecimen­to da decisão do tribunal francês nesta quarta e que “não cometeu nenhum crime nesse trágico acidente”.

A companhia afirma que vai recorrer da decisão. “A Air France reafirma sua confiança em todos os seus pilotos e tripulante­s e reforça que a segurança de seus clientes e funcionári­os é a sua prioridade absoluta. A empresa sempre lembrará das vítimas desse terrível acidente.”

A Airbus também foi procurada pela reportagem, mas não se manifestou. À imprensa francesa, a fabricante disse que a decisão do judiciário francês não reflete as conclusões da investigaç­ão.

O Tribunal de Apelações de Paris não informou quando o novo julgamento sobre o caso será realizado.

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