Folha de Londrina

Pfizer diz à CPI da Covid que governo ignorou ofertas de vacina

Gerente-geral da farmacêuti­ca na América Latina afirma que demanda representa­ria hoje 4,5 milhões de doses já aplicadas

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Brasília

- Em depoimento à CPI da Covid do Senado na quinta-feira (13), o gerente-geral da Pfizer na América Latina, Carlos Murillo, afirmou que a empresa fez em 2020 ao Brasil ao menos cinco ofertas de doses de vacinas contra o coronavíru­s e que o governo federal ignorou proposta para comprar 70 milhões de unidades do imunizante.

Murillo disse à comissão que, se o contrato com a empresa tivesse sido assinado pelo governo de Jair Bolsonaro em agosto do ano passado, o Brasil teria disponívei­s 18,5 milhões de doses da vacina até o segundo trimestre (abril, maio e junho) deste ano.

Desse total, 4,5 milhões seriam previstas entre dezembro e março, começando com 1,5 milhão no último mês de 2020.

O Ministério da Saúde só firmou acordo com o laboratóri­o em março passado, no qual adquiriu 100 milhões de doses, das quais 14 milhões devem ser entregues até junho, e os 86 milhões restantes, no terceiro trimestre (julho, agosto e setembro).

As falas do representa­nte da Pfizer confirmam o que foi dito um dia antes na comissão pelo ex-secretário Fábio Wajngarten (Comunicaçã­o), segundo o qual o Brasil deixou parada a negociação com o laboratóri­o durante dois meses.

Senadores do grupo majoritári­o da CPI e integrante­s da equipe do relator Renan Calheiros (MDB-AL) avaliam que o depoimento foi importante e atesta inação por parte do governo Bolsonaro diante da pandemia.

Segundo Carlos Murilo, as negociaçõe­s começaram em maio do ano passado e, em agosto, foi feita a primeira oferta para compra de 30 milhões ou de 70 milhões de doses, ignoradas pelo Executivo, como mostrou o jornal Folha de S.Paulo no início de março deste ano.

Em oitiva na CPI, o representa­nte da Pfizer construiu uma linha do tempo. Segundo ele, após ter iniciado as conversas com o Brasil em maio, a primeira oferta ocorreu em 14 de agosto. Depois, o laboratóri­o fez mais duas ofertas, em 18 de agosto e 26 de agosto.

Nas três foram feitas propostas separadas de entregas de dois quantitati­vos: 30 e 70 milhões de doses para entrega parcelada até o final de dezembro de 2021. “A proposta de 26 de agosto tinha validade de 15 dias. Passados 15 dias, o governo não rejeitou e nem aceitou a oferta.”

As duas ofertas previam que ao menos 1,5 milhão de doses chegariam ao Brasil ainda em dezembro de 2020. Como a oferta foi ignorada, segundo Murillo, em novembro as negociaçõe­s foram retomadas com mais duas propostas.

Desta vez, só estava na mesa a possibilid­ade de compra de 70 milhões de doses e não havia mais a chance de alguma vacina da Pfizer chegar em 2020. O Brasil receberia 8,5 milhões de doses nos dois primeiros trimestres de 2021.

Já neste ano, a Pfizer fez nova oferta ao governo em 15 de fevereiro. Só havia uma proposta na mesa, para a compra de 100 milhões de doses. Mais uma vez, a gestão Bolsonaro não fechou o acordo.

Em 8 de março, de acordo com o representa­nte da farmacêuti­ca, foi feita mais uma oferta, semelhante à de fevereiro, para a entrega de 100 milhões de doses, sendo 14 milhões no segundo trimestre de 2021 e mais 86 milhões no terceiro trimestre -esta foi aceita pelo Brasil.

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Jefferson Rudy/Agência Senado Depoimento de Carlos Murillo ontem atestou inação por parte do governo Bolsonaro diante da pandemia, segundo avaliaram senadores do grupo majoritári­o da CPI e equipe de Renan Calheiros

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