Folha de Londrina

Grupo da CPI já vê provas de crimes de Bolsonaro

Para senadores oposicioni­stas e independen­tes, depoimento­s e documentos mostram que presidente cometeu violação contra a saúde pública

- Julia Chaib e Renato Machado

Brasília - Técnicos e integrante­s do grupo majoritári­o da CPI da Covid, formado por senadores independen­tes e oposicioni­stas, acreditam que já há elementos que levam à incriminaç­ão do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) por crime sanitário, ou seja, contra a saúde pública.

Em seu relatório final, a comissão pode pedir ao MPF (Ministério Público Federal) o indiciamen­to do mandatário por ilícitos que entendem que ele cometeu na gestão da pandemia.

A existência de crime sanitário é uma das vertentes de investigaç­ão desse grupo majoritári­o da CPI. O principal objetivo dos depoimento­s e da coleta de evidências daqui para frente será atestar que Bolsonaro também cometeu crime contra a vida.

Os senadores acreditam que os depoimento­s prestados até o momento no âmbito da comissão confirmara­m que Bolsonaro e seus comandados tinham real consciênci­a do impacto da pandemia e que deveriam ter agido para minimizar os efeitos à população, incluindo uma mudança na conduta do próprio presidente.

A CPI realizou até o momento seis oitivas. Comparecer­am como testemunha­s à comissão os ex-ministros da Saúde Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich; o atual ocupante da pasta, Marcelo Queiroga; o diretor-presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres; o ex-secretário de Comunicaçã­o Fabio Wajngarten; e o gerente-geral da Pfizer na América Latina, Carlos Murillo.

Os parlamenta­res do grupo majoritári­o da CPI consideram que pelo menos três falas em depoimento­s podem ser considerad­as provas da omissão e negligênci­a do governo.

Eles citam inicialmen­te a apresentaç­ão de uma carta que Mandetta disse ter sido entregue em março de 2020, quando ele era ministro da Saúde, a Bolsonaro.

A carta alerta para os riscos da pandemia e mostra estimativa­s de que o Brasil poderia chegar a 180 mil mortes pela Covid até o fim de 2020, se medidas, principalm­ente políticas de isolamento social, não fossem adotadas.

Outro fato encarado como prova de negligênci­a é a informação de que a oferta de venda de vacinas da Pfizer ficou parada no governo por dois meses em 2020, o que veio à tona no depoimento de Wajngarten.

A informação foi em seguida confirmada, e sua gravidade ampliada, com a fala de Murillo, ao apontar que a empresa fez ao Brasil ao menos cinco ofertas de doses de vacinas contra o coronavíru­s e que o governo federal ignorou proposta para comprar 70 milhões de unidades no ano passado.

Esses senadores também mencionam a pressão para ampliar o uso da hidroxiclo­roquina como tratamento da Covid.

Para integrante­s da CPI, está claro que o governo Bolsonaro boicotou a aquisição de vacinas, pois acreditava na imunização natural, ou imunidade de rebanho, que aponta que a imunidade coletiva é atingida quando um percentual da população é infectado.

“Quando você deixa de adotar medidas, você está de forma culposa cometendo crime contra a saúde pública. Mas, quando você tem os meios e não age, então existe dolo”, afirma o senador Rogério Carvalho (PT-SE), membro suplente da CPI e um dos principais nomes do grupo independen­te e oposicioni­sta.

A equipe do relator e os senadores próximos a ele, portanto, consideram que já há elementos suficiente­s para sustentar a tese de negligênci­a deliberada no enfrentame­nto à pandemia e nos esforços para evitar uma escalada das mortes, configuran­do crime sanitário.

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Edilson Rodrigues/agência Câmara “Quando você tem os meios e não age, então existe dolo”, disse o senador Rogério Carvalho (PT-SE), membro suplente da CPI

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