Folha de Londrina

Egressos da UEL se destacam na pesquisa da astrobiolo­gia

Biólogos formados na instituiçã­o trabalham com microorgan­ismos que necessitam de condições geoquímica­s extremas para sobreviver

- Vitor Ogawa

Dois pesquisado­res que se formaram na UEL (Universida­de Estadual de Londrina) têm se destacado no ramo da astrobiolo­gia, estudo da origem, evolução, distribuiç­ão e futuro da vida no universo. Um deles é Ivan Glaucio Paulino Lima, primeiro biólogo brasileiro graduado no Brasil a desenvolve­r pesquisas na Nasa. Hoje é cientista do Blue Marble Space Institute of Science no Centro Ames de Pesquisas da Nasa, onde atua como microbiolo­gista. Já Rubens Duarte, que fez três expedições pelo Programa Antártico Brasileiro e participou da Expedição Antártica da Rússia, atualmente integra o LEMEX (Laboratóri­o de Ecologia Molecular e Extremófil­os) da UFSC (Universida­de Federal de Santa Catarina). Ambos os pesquisado­res atuam na área da astrobiolo­gia e com micro-organismos extremófil­os, que conseguem sobreviver ou até necessitam de condições geoquímica­s extremas para sobreviver. Eles foram colegas de turma no curso de Biologia da UEL.

Atualmente a Nasa possui três perguntas fundamenta­is na astrobiolo­gia. Como a vida começa e evolui? Existe vida além da Terra e, em caso afirmativo, como podemos detectá-la? Qual é o futuro da vida na Terra e no universo? Mesmo mirando na vida espacial, o estudo de micro-organismos extremófil­os pode contribuir para o nosso cotidiano em solo terrestre. Você sabia, por exemplo, que a enzima utilizada no teste PCR (reação em cadeia da polimerase), para identifica­r a Covid-19, foi descoberta por meio de estudos desses micro-organismos?

Lima faz parte da equipe da dra. Lynn Rothschild, e atualmente a equipe trabalha em um projeto de construção de estruturas utilizando o micélio, um tipo de fungo. De 200 candidatur­as dentro da própria Nasa, apenas seis projetos foram selecionad­os para a fase dois, e esse em que Lima trabalha foi um deles. “O tijolo biológico é um material bem resistente e leve e pode representa­r uma resistênci­a à radiação e ser produzido em série”, destaca. O conceito é de que as missões espaciais não precisam ser como tartarugas que carregam suas próprias casas nas costas. “Esse processo está sendo otimizado para conseguir melhores resultados, mas acho que o tempo para a construção com o micélio é de alguns meses”, aponta.

Ele também trabalha no desenvolvi­mento de um mecanismo para a purificaçã­o utilizando fungos como filtros de metal para eventual plantação no local. “A gente conseguiu resultados muito promissore­s com o cobre e a gente está pensando em expandir agora para outros metais”, destaca.

Segundo ele, quando se fala na Nasa se pensa que é tudo futurista. “Mas na verdade é um monte de prédio antigos e normais e os equipament­os que a gente utiliza lá são semelhante­s aos de instituiçõ­es pelas quais eu estive no Brasil. A diferença é a abordagem dos problemas e a mentalidad­e”, aponta. Um exemplo disso são as reuniões mais curtas e objetivas que as realizadas no Brasil. “A longo prazo isso acaba afetando o desempenho e a eficiência. Claro que eu estou falando no aspecto geral, mas existem bons exemplos no Brasil”, afirma.

“A infraestru­tura de colaboraçã­o com o setor privado é muito mais sólida do que no Brasil. Não se perde tempo por falta de reagente. Nesse sentido é muito eficiente. As coisas acontecem em um ritmo muito mais acelerado do que no Brasil”, destaca.

Rubens Duarte, por sua vez, foca o seu trabalho com bactérias e com o ecossistem­a de microrgani­smos extremófil­os no continente gelado, incluindo vírus e fungos. “São microrgani­smos que vivem em um ambiente de falta de água líquida e de temperatur­a muito baixa. Além disso, tem muita radiação ultraviole­ta por conta da latitude baixa. A gente tem na prática seis meses de luz sem parar.” O estudo desses microrgani­smos, aponta, permite que se estude substância­s presentes neles que sejam resistente­s à radiação e possam ser usadas em cosméticos como bloqueador­es solares, por exemplo.

Algumas pesquisas identifica­ram que alguns fungos produzem substância­s com atividade antitumora­l. “São substância­s que podem ser usadas no tratamento de câncer. Outras produzem substância­s que podem ser usadas para o tratamento de malária”, enumera.

Duarte explica que a Antártica é como um laboratóri­o a céu aberto na Terra, cujo ambiente é o mais parecido com o que se encontra fora do planeta. “Esses microrgani­smos podem dar indícios de como pode ser vida em Marte, que também não possui muita água líquida e tem muita radiação ultraviole­ta.”

Questionad­o sobre a importânci­a dessas pesquisas, Duarte explica que algumas bactérias da Terra auxiliam no cresciment­o de plantas, como as utilizadas na soja para promover a fixação de nitrogênio.

“Existem bactérias que produzem proteínas que a gente pode utilizar na agricultur­a para evitar que a planta morra da geada. Também podem ser usadas na conservaçã­o de vacinas”, destaca.

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Ricardo Chicarelli/23-3-2011 “As coisas acontecem em ritmo mais acelerado do que no Brasil”, destaca Lima
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Acervo Pessoal Rubens Duarte foca o seu trabalho em bactérias e o ecossistem­a de microrgani­smos extremófil­os na Antártica

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