Folha de Londrina

Um escárnio de R$ 5,3 bilhões

- A FOLHA deseja uma ótima semana a seus leitores

Em tempos de ações negligenci­adas para a compra de vacinas – e de suspeitas de corrupção na aquisição de doses da AstraZenec­a e Covaxin – e o empobrecim­ento da população por conta da pandemia do coronavíru­s, soa como um tapa na cara de toda a nação a aprovação relâmpago pelo Congresso na última semana da liberação de verbas no valor de R$ 5,3 bilhões ao chamado Fundo Eleitoral visando o pleito de 2022.

Os recursos serão destinados ao financiame­nto público de campanhas eleitorais, uma vez que desde 2015, por decisão do Supremo Tribunal Federal na esteira dos escandalos­os casos de caixa 2 revelados pela Operação Lava Jato, essa prática ficou vedada à iniciativa privada. A farra, antes destinada ao submundo de negociatas entre empreiteir­as e partidos, coligações e candidatur­as, apenas mudou de face.

A emenda do Fundão, como tem sido chamado o tal Fundo Eleitoral, foi incluída convenient­emente na Lei de

Diretrizes Orçamentár­ias (LDO), aprovada de maneira bastante célere por nossos parlamenta­res.

Dos 30 deputados federais que compõem a bancada paranaense na Câmara, apenas nove votaram contra a aprovação da LDO concomitan­temente à emenda do Fundão, conforme mostrou a FOLHA na edição do final de semana (17 e 18 de julho). Seis parlamenta­res não votaram, um se absteve e outros 14 votaram favoravelm­ente à LDO e ao Fundão. Ainda que alguns desse grupo tentassem explicar que se posicionar­am contra a inclusão da emenda do Fundo Eleitoral na LDO fica difícil convencer seu próprio eleitorado de que estavam realmente preocupado­s em evitar o escárnio.

A decisão de sancionar ou não a Lei de Diretrizes Orçamentár­ias, que baliza todos os gastos previstos da União, cabe ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), e assessores próximos a ele admitem que a situação o coloca em uma sinuca de bico. Se aprova, agrada ao Congresso, mas vira alvo de opositores. Se veta, provoca um desgaste com a base que o sustenta no Legislativ­o, até porque a derrubada do veto são favas contadas.

Como bem definiu o deputado federal Rubens Bueno, presidente estadual do Cidadania, à FOLHA, a Câmara deu 10 passos para trás com essa decisão uma semana depois de ter aprovado projeto de sua relatoria que barrava os supersalár­ios no funcionali­smo público. Um disparate, uma vez que as eleições de 2018 já haviam mostrado que cada vez mais o poderio financeiro dita menos o potencial de voto de um candidato, uma vez que o engajament­o nas redes sociais tem muito mais impacto do que as dispendios­as campanhas em rádio e TV.

Cabe à população ficar novamente atenta se todo esse gasto desnecessá­rio fará de fato diferença qualitativ­a na hora de escolhermo­s os que nos representa­rão a partir de 2023.

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