Bolsonaro deixa hospital e defende Eduardo Pazuello
Presidente afirma que se encontro com lobistas fosse propina ex-ministro não daria entrevista
São Paulo e Brasília - Em entrevista neste domingo (18) logo após ter recebido alta hospitalar, o presidente Jair Bolsonaro culpou os lobistas e disse que “lá em Brasília não falta gente tentando vender lote na lua” para defender o general Eduardo Pazuello, seu ex-ministro da Saúde. “Quando fala em propina, é pelado dentro da piscina”, e não gravando vídeo de um encontro com representantes que diziam ter 30 milhões de doses da chinesa Coronavac para vender, afirmou o presidente em São Paulo.
Reportagem da Folha de S.Paulo na sexta (16) revelou que, em reunião fora da agenda, Pazuello prometeu a um grupo de intermediadores adquirir o lote dos imunizantes que foram formalmente oferecidos ao governo federal, mas por quase o triplo do preço estabelecido pelo Instituto Butantan. Apesar de Pazuello ter dito na gravação que havia assinado um memorando de entendimento para a compra, a negociação não prosperou.
“O Élcio [Franco, coronel e então secretário-executivo do ministério] trabalhou muito bem nessa questão, não tem um centavo nosso despendido com essas pessoas que foram lá vender vacina”, disse o chefe do Executivo nacional. “Brasília é o paraíso dos lobistas, dos espertalhões. Ou não é?”
Questionado se não era estranho um ministro topar conversar com representantes que se dizem autorizados a vender imunizantes, Bolsonaro afirmou que, se estivesse no ministério, “teria apertado a mão daqueles caras todos”.
“Ele não estava sentado à mesa. Geralmente, tira fotografia sentado na mesa negociando. E se fosse propina não dava entrevista, meu Deus do céu, não faria aquele vídeo. Dá para você entender isso aí?”Bolsonaro disse a jornalistas de São Paulo que todo repórter de Brasília sabe do lobby que se passa na capital federal.”Todos vocês da mídia nos pressionavam por vacinas, então muitas pessoas foram recebidas lá no ministério”, afirmou.
“Se você ver o próprio traje do Pazuello, ele tá sem paletó, aquele pessoal se reuniu com o diretor responsável por possíveis compras no ministério, e na saída ele conversou com o pessoal.””Agora, aquele vídeo Se fosse algo secreto, negociado superfaturado, ele estaria dando entrevista, meu Deus do céu? Ou estaria escondidinho lá no porão do ministério? É só analisar isso aí.”
Na saída do hospital, sem máscara, Bolsonaro disse que esqueceu o nome do policial militar Luiz Paulo Dominghetti Pereira, que, em entrevista à Folha e depois em depoimento à CPI da Covid, acusou um diretor do ministério de pedir propina de US$ 1 por cada uma das 400 milhões de doses que ofertava da AstraZeneca.
Bolsonaro deixou o hospital Vila Nova Star, unidade de elite, acompanhado do apóstolo Valdemiro Santiago (Igreja Mundial do Poder de Deus), aliado evangélico conhecido por usar roupas de caubói. Saiu com disposição de atacar a CPI da Covid (“será que não entenderam que só Deus me tira daquela cadeira?”) e um de seus rivais prediletos, o governador paulista, João Doria. Alfinetou o tucano, que se reinfectou com Covid mesmo tendo se imunizado com a vacina na qual apostou, a Coronavac.
Divulgou sua nova coqueluche contra a Covid, a proxalutamida, um bloqueador de hormônios masculinos (antiandrógeno). Ainda em desenvolvimento, o remédio não tem liberação de uso em nenhum lugar do mundo até o momento. “Nós temos que tentar, como já sempre disse. Na guerra do Pacífico, não tinha sangue para os soldados, e resolveram botar água de coco e deu certo”, acrescentou o mandatário.”