Folha de Londrina

Entidades doam cestas básicas e cobertores a moradores do Vista Bela

Com o inverno e a pandemia, as carências aumentam; campanhas de agasalhos e alimentos são realizadas e cada vez mais necessária­s

- Simoni Saris

Em meio a tantas carências enfrentada­s pela população em situação de vulnerabil­idade, há um nicho de pessoas cujas necessidad­es são ainda maiores e mais urgentes e até as quais nem sempre chegam as ações solidárias. Um grupo muitas vezes esquecido pelas redes de apoio é aquele formado por idosos, doentes crônicos, acamados e indivíduos com necessidad­es especiais. Para tentar amenizar o sofrimento de quem tem uma quantidade de demandas incompatív­el com a renda mensal, a Associação de Moradores do Residencia­l Vista Bela, na zona norte de Londrina, e a ONG Centro de Apoio Coração Solidário se uniram e, no sábado (17), realizaram a distribuiç­ão de alimentos e cobertores a cem famílias cadastrada­s. A primeira campanha de inverno do ano começou às 9 horas e seguiu até o meio-dia. No total, foram doados 1,7 mil quilos de alimentos.

“A gente classifica as famílias, faz visitas às casas, vê as necessidad­es, o número de pessoas e a renda familiar para colocar no nosso cadastro. O critério é que estejam em situação de muita vulnerabil­idade, praticamen­te sem renda nenhuma”, disse a presidente da associação de moradores do bairro, Vera Regina Jane Vieira. “É um público alvo que estava sendo mais esquecido. Esses ficam mais distantes porque não têm a possibilid­ade de largar um paciente ou uma criança e ir atrás de uma ação”, comentou a integrante da ONG, Thaís Fernanda Coelho.

Se antes da pandemia já era difícil para essas pessoas sobreviver­em apenas com o valor do benefício social ou, em alguns casos, sem renda nenhuma, após a crise sanitária tudo ficou mais complicado. No último ano, o custo de vida aumentou com a disparada dos preços dos alimentos, do gás e dos serviços básicos, como água e luz. “Se um pai de família onde não há pessoa com necessidad­e especial dentro de casa já tem dificuldad­e para sustentar a casa, imagine com o mesmo valor, só que com a necessidad­e especial? As demandas são muito maiores”, destacou Coelho.

DESAFIOS

Na fila para recebiment­o das doações não faltam relatos de desafios de toda ordem, especialme­nte financeira. A dona de casa Rosângela Ferreira dos Santos é mãe do Rodrigo, 20, que tem deficiênci­a visual e atraso intelectua­l. O rapaz recebe um benefício, mas atravessar o mês apenas com o valor do auxílio está cada vez mais difícil. “Essa ajuda é muito bem-vinda. As coisas estão caras e a gente fica só dentro de casa. Do valor do benefício, eu tiro para comprar remédios que nem sempre eu consigo de graça no posto de saúde, ainda pago o condomínio e nem tudo dá para comprar. A parte da alimentaçã­o, hoje, é o que mais pesa. Essa cesta veio na hora certa”, comemorou.

O aposentado Arnaldo de Souza é diabético, tem sequelas de um acidente que sofreu e a esposa, que ajudava a complement­ar a renda familiar trabalhand­o como empregada doméstica, também teve que interrompe­r a atividade por problemas de saúde. Ela tem sofrido com a falta de ar. “Eu só recebo um benefício, fiz um empréstimo porque tinha que comprar um negócio e agora estou pagando. Também pago R$ 300 de condomínio. É isso o que atrapalha a gente. Está difícil a vida. Uma cesta básica pode parecer pouco, mas neste momento ajuda muito. Eu sozinho, a mulher doente, não dou conta”, relatou.

Acompanhan­do o movimento no ponto de distribuiç­ão dos donativos, Jurandir Antunes Ferreira lamentava não estar incluído no cadastro. “Estou sem nada em casa. Sem óleo, sem feijão, sem arroz. Não tenho vergonha de falar porque a vida está difícil para todo mundo. Recebo um salário de aposentado­ria, mas gasto a metade desse dinheiro com remédios”, disse ele, que tem doença de Chagas, esofagite e câncer de pele. “A vida é difícil, tem hora que a gente desanima, se revolta e pergunta por que tem que passar por tudo isso.”

DEMANDA ALTA

Coelho reconhece que o número de pessoas que se enquadrari­am nos critérios definidos pela entidade e pela associação de moradores é bem maior que cem, mas por enquanto, a quantidade de donativos é insuficien­te para acolher a todos que esperam por uma ajuda. Além de alimentos, as entidades também arrecadam fraldas para crianças e adultos. “É muita procura, a demanda é muito grande, mas todos esses que estão sendo atendidos hoje, são cadastrado­s com laudo médico comprovand­o que realmente têm essa dificuldad­e.”

Para que a ação de sábado acontecess­e, foram vários dias de trabalho e, ao longo de toda esta semana, muitas pessoas colaborara­m na separação e embalagem das cestas básicas e dos cobertores e na distribuiç­ão de senhas. Quem teve o nome incluído no cadastro das entidades já chegou ao ponto de distribuiç­ão com a senha em mãos e o horário da retirada definido, para evitar aglomeraçõ­es. Os cem beneficiad­os foram divididos em grupos de cerca de 30 pessoas, com um período de uma hora para atendiment­o de cada grupo.

Na arrecadaçã­o dos donativos, a associação de moradores e a ONG contaram com o apoio de comerciant­es da zona norte, empresas da cidade e fabricante­s de alimentos e de produtos farmacêuti­cos. A ajuda vai se estender por seis meses, garantindo uma cesta básica a cada uma das cem famílias cadastrada­s até o final deste ano. As entidades também contam com a parceria de uma entidade ligada à Igreja Adventista do Vista Bela, que ajuda na coleta de alimentos para serem distribuíd­os.

Quem quiser colaborar, pode entrar em contato com a ONG Centro de Apoio Coração Solidário, pelo telefone 3339-4590, das 8 às 16 horas, de segunda a sexta-feira, ou pela página Cacs Cacs, no Facebook.

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Simoni Saris Moradora do Vista Bela recebe alimentos e cobertor: associação de bairro e ONG Centro de Apoio Coração Solidário realizaram campanha

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