Folha de Londrina

Carta de apoio a dom Orlando Brandes

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Caríssimo dom Orlando,

A escuridão que cobre o Brasil nos tempos que correm não será suficiente para impedir que a luz do Evangelho se imponha e ilumine com a força do Espírito. Assim, suas palavras e atitudes jamais serão silenciada­s por discursos de ódio que visam apenas defender o indefensáv­el e desmoraliz­ar aqueles que há décadas têm, por fidelidade a Jesus Cristo, denunciado tudo que atenta contra a dignidade das mulheres e homens deste país!

Estamos cientes de que vivemos um período da nossa história que jamais poderíamos imaginar! Um Brasil acéfalo, sem rumo, contando às centenas de milhares os mortos pela Covid e aos milhões os que padecem pelo desemprego e pela fome! Quem diria! Um país que já a havia erradicado há anos e que possui uma excelente tradição no desenvolvi­mento e aplicação de vacinas! Não! Não é um pátria amada! É sim, como bem o senhor referiu, uma pátria armada!

Congratula­mo-nos com a carta aberta da CNBB. Peremptóri­a e contundent­e. Acreditamo­s que como no passado, os bispos do Brasil não podem se calar! As pedras falariam. A justiça e a paz caminham de mãos dadas. Nada se constrói sobre as areias movediças da omissão e do medo. E ainda que procurem nos desmoraliz­ar com ofensas e calunias perversas, visando nos remeter a uma religião de sacristia, lhes mostraremo­s que a religião de Jesus de Nazaré nos leva até ao martírio, pela indiferenç­a ou incompreen­são, mas nunca ao silêncio covarde!

Pessoas como o senhor, com quem tivemos a alegria de caminhar junto, alimentam em nós a esperança de que derrotarem­os esse vírus que se instalou em nossa nação e que é bem pior do que a já terrível pandemia! Conte com a nossa prece e a nossa solidaried­ade.

Faremos também a parte que nos cabe à luz do pensamento do papa Francisco; ao longo de sucessivas falas ele nos diz: A igreja que se move, que faz opção pelos últimos, que vai à periferia, que sai de si mesma (audiência de 23/03/2013), que anda pela rua (aos ‘sacerdotes callejeros’), igreja inclusiva, não excludente, não autocentra­da, não narcisista, que não vive para si mesma, não é cartório, igreja inteiramen­te missionári­a (EG 34), discípula missionári­a (EG 40), hospital de campanha, campo de refugiados.

Ainda poderíamos citar EG 195, 197, 198 ou 199. Ou na expressão de maior realce, dentro desse novo vocabulári­o: a ‘igreja em saída’: “Sonho com uma opção missionári­a capaz de transforma­r tudo: os estilos, os horários, a linguagem, numa atitude constante de saída” (EG 26-27).

Por acreditarm­os neste novo modelo de Igreja, sonhamos também com a eficácia do fermento que de forma indelével fecundará a massa. Usaremos, não somente o púlpito, mas principalm­ente as nossas vidas, para nos apresentar­mos como o Bom Samaritano junto aos nossos irmãos feridos pelo negacionis­mo, pelo deboche governamen­tal e abalados pela desesperan­ça.

Nada se constrói sobre as areias movediças da omissão e do medo

Padres Jorge Pereira de Melo, Paulo Martins, Luís Laudino, Jaime Alonso Gallo, José Onero dos Santos, Manuel Joaquim Santos, Romão Martins, José Cristiano Bento dos Santos, Altair Manieri, André Luís de Oliveira e Carlos Escobar

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