‘Não deixamos de ser a sociedade’
Bruno Henrique dos Santos, 24, também participa das atividades promovidas pela Unidade de Progressão, onde os custodiados obrigatoriamente precisam estar trabalhando ou estudando para serem integrados nos ciclos de Justiça Restaurativa.
“Tem dois tipos de pessoas aqui dentro: as que vão usar o que passam aqui de uma forma boa, para não passar mais, e as que vão sentir ódio, como se alguém tivesse que pagar por aquilo. Eu decidi transformar numa coisa boa. Foram cinco anos fechado que eu não perdi só tempo ou dinheiro. Perdi o meu pai, que não pude estar perto no final da vida dele, a família se distanciou, perdemos muitas coisas que não voltam. Foi essencial a integração dessa unidade”, conta.
Para ele, a ressocialização dos presos também depende de um processo de reeducação de quem está do lado de fora. “Entra a questão do preconceito. Eu estou no processo de reintegração, mas bato em uma porta e ninguém abre. A reeducação deveria ser dos dois lados. Aqui é uma mão de obra muito boa”, avalia.
Embora ainda esteja cumprindo sua pena no regime fechado, Santos conquistou o direito de trabalhar e dormir em casa, após análise de quesitos básicos, como o bom comportamento, feita pelos juízes Katsujo Nakadomari e Eduardo Diniz, da VEP (Vara de Execuções Penais) de Londrina. Atualmente, trabalha como auxiliar administrativo da equipe de segurança do trabalho de uma construtora e lembra que sua contratação só foi possível graças ao encaminhamento feito pela Unidade de Progressão. Mesmo assim, não deixa de acreditar que existe um futuro profissional para ele e outros futuros ex-detentos.
“Como existe o preconceito, também existe quem não tem, quem acredita na mudança. É o que essa unidade e essas empresas que aceitam fazem, que é uma coisa difícil de uma empresa aceitar também. Lá onde eu trabalho, tem 45 detentos. Poxa, vou aceitar 45 detentos que eu nem sei o que eles fizeram na minha empresa? O que eles estão fazendo é acreditar na integração na sociedade. Nunca deixamos de ser a sociedade”, lembra.
Santos disse que o seu maior sonho é viajar para outros países. “Tem bastante, mas acho que os Estados Unidos, por ter ouvido muitas histórias”, conta.(V.S.)