Folha de Londrina

Uma linda luz me guia

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bem de um episódio que, por mais vergonhoso que me seja, mostra como as MÃES são nossas heroínas mesmo depois de adultos.

Verão é igual a baratas, vamos combinar, não é mesmo? Pois bem, lá estava eu, nos meus vinte e muitos anos, pouco tempo antes de tomar uma decisão errada na vida e sair de casa. Um calor de lascar, como a gente gosta de falar por essas bandas. Lascar, lascou-se, lasqueira… dialeto caipira ímpar que os portuguese­s de ultramar resistem em compreende­r e absorver.

Tentava dormir, uma atividade que durante o verão triplica em nível de dificuldad­e, quando a mais temida e hedionda das espécies de barata adentra meu reduzido quarto: a barata voadora gigante.

Muitos podem achar que parece causo de pescador, que aumenta tudo que conta, para parecer mais heroico na disputa entre homem e peixe, mas posso garantir que jamais tinha visto criatura tão aterradora quanto aquela. Ela era grande e… voava!

E o que um homem crescido, cujos medos infantis tendem a desaparece­r na fase adulta, faz numa hora dessas? Vai atrás da MÃE, obviamente. E o pior é que a bendita MÃEZINHA devia estar no quinto sono quando a acordei anunciei o caos que reinava em meu quarto com a frase “MÃE, entrou uma barata voadora no meu quarto”.

O diálogo que se seguiu foi algo assim:

“Ué, precisa me acordar pra isso? Mata ela e vai dormir”

“Eu não, MÃE. Vai pra mim”

Aborrecida com o despertar desnecessá­rio, na visão dela, se levantou, foi até a cozinha pegar uma vassoura e foi para meu quarto encarar a famigerada fera.

Acabamos não achando a barata e eu fui sabiamente lá matar dormir na sala, pois não sou bobo, nem nada. E no dia seguinte, quando fui abrir o quarto, na esperança de a barata ter saído pela janela, a danada passeava tranquilam­ente embaixo da cama. Mas aí, com vergonha de chamar a MÃE de novo, eu mesmo dei fim à criatura com a vassoura que tinha ficado no quarto.

De um jeito meio torto, eu fiz o que minha MÃE recomendou: matei eu mesmo a barata.

Acredito que MÃES são pra isso, nos mostrar como devemos crescer, o que fazer, como combater os monstros da nossa ínfima existência, que caminhos tomar enquanto nos tornamos pessoas razoáveis para o mundo…

Lembro também de uma cena da minha infância, de quando morávamos numa casinha de madeira no fundo do quintal dos meus avós. Casinha essa em que as visitas de baratas eram uma constante e eu nem me importava, pois tinha 4 anos. MÃE acordou antes de mim, preparou meu leite, arrumou as coisas, limpou a casa em pouco tempo e em seguida, ouvindo aldo gumas músicas numa rádio antiga que tocava “discoteca”, pôs-se a fazer ginástica, se alongando e exercitand­o. Por qualquer razão que desconheço, isso gravou na minha memória, essa exata imagem dela se exercitand­o, jovem, cheia de vida e energia, e um moleque chato para criar.

Hoje, eu sou um pouco como ela, tento manter a saúde por conta própria e sempre levo essa lição comigo: vai e faça, não espere de ninguém. Mais tarde, já bem depois do episódio da barata voadora, estava vendo um entardecer numa chácara quando vi uma estrela bem mais brilhante que as demais e, nesse dia, tomei como referência para minha MÃE em minha vida o conceito de uma estrela ou a linda luz que me guia. Assim é dona Zélia. Te amo MÃE.

Feliz dia das MÃES a todas as estrelas de seus filhos, a todas as luzes no fim dos túneis, às nossas bússolas em carne, osso e alma, nossas amigas, nossas rainhas. Elas definitiva­mente merecem seu substantiv­o feminino todo em caixa alta nesse dia especial.

L. R. SILVA É ESCRITOR, AUTOR DO E-BOOK “ESTA É A GUERRA DO MUNDO”, DISPONÍVEL NA AMAZON.

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