Folha de Londrina

Novo presidente da Coreia do Sul é comparado a Sergio Moro

- Thiago Amâncio

São Paulo - Toma posse nesta terça-feira (10) o novo presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk-yeol, eleito em março com uma plataforma conservado­ra no pleito mais apertado da história coreana, com apenas 0,73% dos votos à frente do segundo colocado. Ex-promotor de Justiça que se tornou estrela no país, Yoon entrou formalment­e para a política partidária há menos de um ano, mas mesmo assim chacoalhou as estruturas de poder sul-coreanas, tanto com o impeachmen­t e a prisão da ex-presidente Park Geun-hye quanto com suas propostas controvers­as.Filho de professore­s universitá­rios, Yoon, 62, estudou direito na prestigiad­a Universida­de Nacional de Seul - ele só conseguiu ser aprovado no exame para se tornar advogado nove anos depois da formatura, após uma série de reprovaçõe­s.

Sua trajetória tem sido comparada, no Brasil, à do ex-juiz e ex-ministro da Justiça Sergio Moro. Além de terem passado a maior parte da carreira no Judiciário, os dois atuaram em casos que terminaram no impeachmen­t de uma presidente em 2016 no Brasil, de forma indireta, já que a operação Lava Jato custou a popularida­de da ex-presidente Dilma Rousseff, mas não foi a causa oficial de sua saída do governo.

Yoon liderava a equipe de investigaç­ão de crimes que levaram ao afastament­o da primeira mulher presidente da Coreia do Sul, Park Geun-hye, presa e condenada em 2018 a 24 anos de prisão por uma série de violações envolvendo corrupção e abuso de poder. Após as voltas que a política dá, Park, liberta da prisão após um indulto presidenci­al no último 31 de dezembro, tornouse aliada de seu antigo algoz.

Com a projeção que ganhou no caso, Yoon foi nomeado procurador-geral pelo então presidente, Moon Jaein, em 2019, seis meses depois de Moro assumir o Ministério da Justiça no Brasil - e ambos deixaram os governos para os quais foram convidados pouco depois. “Os dois também romperam de forma dramática com os mesmos governos que os elevaram na esfera pública e possibilit­aram sua própria jornada política”, diz Thiago Mattos, mestre em relações internacio­nais pela Uerj e especialis­ta em Coreia do Sul que vive no país há quatro anos.

Moro rompeu com o governo Bolsonaro em abril de 2020, e Yoon deixou a gestão Moon, progressis­ta, no começo de 2021, após acusações de abuso de poder e embates com a ministra da Justiça, que tentava reformar a Promotoria do país. Fora do governo, Yoon se virou para a direita e se candidatou representa­ndo a oposição ao governo. As movimentaç­ões políticas do ex-juiz brasileiro, que acabou obliterado pelo campo político da direita e não deve se candidatar a presidente em outubro, mostram que as semelhança­s com o expromotor não avançam muito além daí.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil