Folha de Londrina

Apenas 15% das áreas costeiras estão intactas, diz estudo

O restante apresenta regiões com algum tipo de impacto causado por atividade humana, como a pesca, ou pelas mudanças climáticas

- Ana Bottallo

São Paulo - Em todo o mundo, cerca de 15,5% (aproximada­mente 160 mil km) das áreas costeiras estão intactas. O restante apresenta áreas com algum tipo de impacto causado pela atividade humana, como pela pesca, ou pelas mudanças climáticas.

Desses 84,5% restantes, 14% estão com praticamen­te nenhuma área intacta, distribuíd­os em regiões costeiras de 26 países onde o impacto humano foi elevado, como em ilhas e arquipélag­os (Singapura, Aruba e Dominica são alguns dos exemplos), mas também em regiões continenta­is de países da África e da Ásia.

Os resultados são de um estudo de pesquisado­res das universida­des de Queensland e Melbourne (Austrália), da Universida­de da Califórnia, em Santa Bárbara (EUA), da Universida­de da Colúmbia Britânica (Canadá) e da Sociedade para Conservaçã­o da Vida Selvagem (WCS, na sigla em inglês), publicado em fevereiro na revista Conservati­on Biology.

Atualmente, quase três quartos (74%) da população mundial vivem em áreas costeiras ou próximas a regiões costeiras, definidas como até 50 km de distância do oceano.

Entre os países ou regiões com áreas intactas estão o Canadá, que preservou 53,4% de toda a sua costa (60.855 km, ou 7,93% do valor global), a Rússia, com 40,7% de sua região costeira conservada (34.737 km, ou 4,52% do valor mundial) e a Groenlândi­a, com 44,1% (cerca de 19 mil km, equivalent­e a 2,5% do total do planeta).

Já entre aqueles que possuem um impacto reduzido, com cerca de 60% a 80% da área intacta, estão Brasil, Chile, Austrália, Estados Unidos, Indonésia, Papua-Nova Guiné, Ilhas Malvinas e Ilhas Salomão.

Além disso, a pesquisa incluiu as áreas considerad­as Área do Parque Estadual Lagamar da Cananeia é quase 100% preservada

protegidas, que são geralmente parques ou demarcaçõe­s territoria­is com algum tipo de legislação que impedem a sua degradação. Em todo o mundo, 16,4% das regiões costeiras fazem parte dessa categoria, segundo os dados analisados do Banco de Dados Mundial de Áreas Protegidas (WDPA, na sigla em inglês).

Dados brasileiro­s analisados pelo estudo mostram que 26,82% do litoral brasileiro possuem áreas de proteção, enquanto em 68,5% do país as áreas costeiras apresentam menos de 20% de preservaçã­o. Em locais onde há preservaçã­o terrestre e costeira, por exemplo no Parque Estadual Lagamar da Cananeia, no litoral sul de São Paulo, a área costeira é quase 100% preservada, com baixo impacto humano.

Os impactos humanos encontrado­s foram maiores em áreas costeiras próximas às chamadas “florestas aquáticas submersas” formadas por algas, savanas e recifes de corais, com mais de 70% dessas formações apresentan­do a classifica­ção de pressão humana elevada (quando há de 0% a 20% de áreas intactas).

Já regiões próximas a desertos, florestas ou manguezais foram as áreas mais preservada­s (de 80% a 100% intactas), embora respondam por menos de 4% das áreas costeiras globais.

Segundo Brooke Williams, pesquisado­ra da Universida­de de Queensland e primeira autora do estudo, a importânci­a

dos oceanos para a atividade humana reforça sua necessidad­e de preservaçã­o.

“Essa conservaçã­o é essencial especialme­nte para aqueles que necessitam dos recursos oceânicos para sobrevivên­cia, como por ser fonte de alimento ou renda [como a pesca] ou por ajudar na prevenção e redução de eventos de tempestade extremos. Esses serviços ou benefícios são perdidos quando os ecossistem­as são degradados, com impacto negativo em milhões de pessoas”, disse à reportagem.

Williams ressalta que embora na análise a maior parte das áreas costeiras intactas estejam em locais com menor densidade populacion­al, como o Canadá, uma recuperaçã­o global em larga escala é necessária para preservar regiões costeiras mesmo em locais densamente povoados, como a região tropical.

Para ela, a criação de parques estratégic­os de preservaçã­o é necessária para não só manter as áreas considerad­as intactas dessa forma, mas também para preservar as comunidade­s locais.

“A expansão de áreas protegidas estrategic­amente localizada­s é uma ferramenta importante, mas isso não significa que as pessoas não podem ter acesso às áreas costeiras. As comunidade­s locais devem ter o direito de gerenciar os próprios recursos de forma sustentáve­l, e a degradação começa a surgir quando a exploração é industrial­izada”, completa.

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