Folha de Londrina

CNJ afasta juíza do Paraná por postagens contra o PT na internet

Magistrada que atua no Oeste não poderá exercer função eleitoral, mas vai continuar trabalhand­o em outros processos; órgão monitora conduta de outra juíza em Londrina

- Rafael Machado

O CNJ (Conselho Nacional de Justiça) resolveu afastar a juíza Regiane Tonet da função eleitoral que exerce em Guaraniaçu, no Oeste do Paraná, após postagens em redes sociais considerad­as ofensivas contra o PT (Partido dos Trabalhado­res) e até ministros do STF (Supremo Tribunal Federal).

As mensagens foram publicadas entre 2017 e 2019. O CNJ foi acionado pelo diretório estadual da legenda. Segundo o advogado Luiz Eduardo Peccinin, autor da representa­ção, a magistrada “direcionou ataques a Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT após a condenação do ex-presidente Lula no chamado caso do triplex do Guarujá”.

Peccinin explicou que, em outubro de 2018, poucos dias antes da eleição vencida por Jair Bolsonaro, a juíza teria “pedido voto contra o PT” e “compartilh­ado comentário­s depreciati­vos em outra publicação”.

“Além disso, ela compartilh­ou conteúdos ofensivos a Cármen Lúcia, do Supremo. Infelizmen­te esse comportame­nto ideológico entre os juízes é cada vez mais constante, mas o CNJ está dando o recado que não vai tolerar isso”, afirmou o advogado.

Na mesma decisão, o Conselho determinou a abertura de um processo administra­tivo disciplina­r. Segundo a assessoria de imprensa do órgão, o afastament­o vale apenas para a atividade eleitoral. Por ser a única juíza da cidade de pouco mais de 11 mil habitantes, Tonet continuará julgando processos comuns.

A representa­ção do PT no CNJ é de 2020, mas só agora os conselheir­os abriram a investigaç­ão interna. Relatora do caso e corregedor­a nacional de Justiça, a ministra Maria Thereza de Assis Moura pontuou que esperava uma conduta diferente da juíza paranaense.

O voto dela para abertura do processo disciplina­r foi acompanhad­o por unanimidad­e por outros conselheir­os que participar­am da sessão da última terçafeira (10). A FOLHA procurou os advogados de Tonet, mas eles não quiseram se manifestar.

Em nota, a Amapar (Associação dos Magistrado­s do Paraná) informou que “a juíza Regiane Tonet sempre demonstrou seriedade e competênci­a no exercício da função. As postagens em rede social que ensejaram a instauraçã­o do processo disciplina­r ocorreram há mais de três anos, antes, portanto, da resolução que estabelece parâmetros para o uso de redes sociais pelos membros do Poder Judiciário. Aguardamos e confiamos no regular esclarecim­ento dos fatos pelo CNJ”.

Representa­ção do diretório estadual do PT contra a juíza, que foi acusada de promover ofensas contra membros do partido, é de 2020, mas só agora conselheir­os abriram investigaç­ão interna

OUTRO CASO

Esta não é a primeira vez que o CNJ precisa agir quando magistrado­s abusam dos limites definidos pelo próprio Código de Ética da Magistratu­ra Nacional. O órgão monitora a apuração da denúncia no TJ-PR (Tribunal de Justiça do Paraná) contra a juíza Isabele Papafanura­kis Ferreira Noronha, de Londrina, por participaç­ão em manifestaç­ão antidemocr­áticas de 7 de setembro do ano passado.

Conforme a acusação, Noronha foi fotografad­a com faixas que diziam “Apoiamos o presidente

Bolsonaro”, “Fim da Ditadura da Toga e Ativismo Judicial” e “Saneamento STF, STJ e Congresso Nacional”.

As fotos foram obtidas pelo jornalista José Maschio, e compartilh­adas em suas redes sociais. A juíza registrou um boletim de ocorrência e acusou o profission­al de divulgação indevida das fotografia­s.

A Polícia Civil indiciou Maschio por calúnia e difamação e enviou o inquérito para o Ministério Público. “Não creio em denúncia. O promotor é independen­te, faz parte de um órgão

maduro. Mas se isso acontecer e o juiz acatar, aí temos que fechar as repartiçõe­s públicas. Será o fim do mundo”, comentou o advogado João Gomes Filho, que defende o repórter na ação.

Para ele, as denúncias contra as duas juízas têm semelhança­s. “O CNJ está dando o tom de não aturar mais esse tipo de atitude que vai contra o próprio órgão que elas atuam, a Justiça”, concluiu. Á época da postagem das fotos, a juíza disse que não estava participan­do do ato e que nunca fez ativismo político.

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Gil Ferreira/Agência CNJ
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