Folha de Londrina

Eleições presidenci­ais contam com apenas duas mulheres pré-candidatas

Mesmo depois de tantas lutas, participaç­ão feminina é mínima no protagonis­mo político

- Gabriela Fernandes Estagiária * Supervisão: Luis Fernando Wiltemburg

A menos de seis meses das eleições no Brasil, dos 11 précandida­tos à Presidênci­a da República, apenas duas são mulheres. Pior: só uma mulher preta – Vera Lúcia (PSTU). A outra presidenci­ável é a senadora Simone Tebet (MDB), que ganhou projeção ao participar da CPI da Covid. Em julho de 2021, o Brasil ocupava a 140ª posição no ranking de participaç­ão política feminina entre 192 países pesquisado­s pela União Interparla­mentar. Estava atrás de todas as nações da América Latina, exceto Paraguai e Haiti. E continua com participaç­ão feminina mínima no protagonis­mo político. Mas por que, mesmo depois de tantas lutas, a representa­tividade é tão baixa?

Para Poliana Santos, educadora da rede pública de ensino e candidata a vereadora de Londrina em 2020 pelo PT (Partido dos Trabalhado­res), essa invisibili­dade ocorre porque, “apesar da negação, o Brasil é um país de estrutura machista, racista e lgbtfóbica”. “Então, obviamente, isso se reflete muito nos campos eleitorais. Quando estamos nesses anos de eleição, conseguimo­s perceber bem como isso se faz. Infelizmen­te, a nossa política é uma política que dá visibilida­de para o homem branco hétero cis normativo. Não é que não temos pessoas de potenciais nessas outras categorias na sociedade. Mas é porque o espaço público a ser disputado é muito complicado, é voltado para essas pessoas de privilégio.”

Ainda segundo a educadora, qualquer mulher que foge deste padrão e continua como candidata é uma pessoa que precisou superar barreiras e enfrentar dificuldad­es para conseguir se manter na disputa eleitoral, ainda que com pequena força política.

Ângela Silva, professora da rede municipal, mestranda em educação pela UEL (Universida­de Estadual de Londrina) e ex-candidata a vereadora pelo PSOL (Partido Socialismo e Liberdade) nas eleições em 2020, concorda com as colocações de Santos e acrescenta outro ponto importante quando se trata de política no Brasil: a herança oligárquic­a. “É uma herança na qual quem está à frente do poder é uma oligarquia, é a grande maioria das câmaras municipais, assembleia­s legislativ­as e Câmara Federal. E, se nós pensarmos no poder político maior, a gente vem num processo de oligarquia­s muito grandes e são essas heranças oligárquic­as que assumem o poder”, afirma.

RACISMO

Quando adicionado à candidata o fato de ela ser negra, a situação fica ainda mais crítica. Assim como deve ocorrer em 2022, Vera Lucia foi a única mulher negra a tentar a Presidênci­a da República em 2018, quando obteve apenas 55.765 votos, que representa­m 0,05% total dos válidos. Para a educadora Ângela Silva, que também é negra, a política ainda é um espaço que nega alguns direitos essenciais, principalm­ente para as mulheres e, ainda mais, para negras.

Além de sofrer com a opressão de gênero, as mulheres pretas sofrem com o racismo, também estrutural e institucio­nal no país. “Estar nesses ambientes é um desafio e um processo de resistênci­a. Ocupar esses espaços é um processo de necessidad­e hoje para nós mulheres negras, para que possamos, aos poucos, influencia­ndo e abrindo caminho para que outras mulheres possam vir a conseguir avançar nessa questão política”.

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