Folha de Londrina

Por que o crowdfundi­ng não decola no Brasil

- Lucas V. de Araujo

Pensar em alternativ­as ao tradiciona­l modelo de negócio do jornalismo sustentado pela propaganda é uma das principais preocupaçõ­es em todo o mundo por empresas de mídia, governos e academia. Tendo em vista que o assunto é de interesse público, haja vista a relevância dele para a democracia, por exemplo, a busca por soluções requer um cuidado especial.

Já detalhei aqui nesta coluna a proposta da Federação Nacional dos Jornalista­s (Fenaj) de taxar empresas de tecnologia como Google e Facebook. Hoje quero tratar de uma proposição que está dando resultado pelo mundo, mas ainda é incipiente no Brasil.

Trata-se do crowdfundi­ng. Conhecido como “vaquinha virtual”, a técnica de monetizaçã­o consiste em angariar recursos para determinad­o projeto/ideia por meio de uma plataforma na internet na qual pessoas realizam doações.

Seu uso vai muito além do jornalismo, que vislumbrou nessa técnica uma inovação no modelo de negócio (publiquei artigo sobre esse assunto). Malgrado esteja regulament­ado desde 2017 e tenha ampla aplicabili­dade, o crowdfundi­ng continua muito atrelado a organizaçõ­es sem fins lucrativos no Brasil, ao contrário do que ocorre em diversos países pelo mundo.

Em terras nacionais, o modelo de negócio baseado em doações é usado notadament­e por entidades como Agência Pública. Algumas grandes empresas de mídia brasileira­s aderiram a uma prática constante na Inglaterra e nos Estados Unidos nos quais grandes empresas do setor, como The Guardian e New York Times, pedem doações a seus leitores.

O sucesso dessa prática, contudo, é reduzido. Não só porque o brasileiro tem baixa propensão a pagar por notícias, como já demonstrad­o em relatórios da Reuters, como também porque há a visão de que crowdfundi­ng é mais adequado para a mídia alternativ­a, isto é, que não está ligada a famílias de empresário­s e tampouco busca o lucro.

Além da questão cultural, outro fator que dificulta a inovação no modelo de negócio do jornalismo baseado em crowdfundi­ng são aspectos legais. No caso do setor de radiodifus­ão, isto é, empresas de TV aberta e rádio, o arcabouço legal do setor impede formas de monetizaçã­o diferentes da propaganda.

Certamente por serem concessões públicas, essas empresas enfrentam certas limitações. Todavia, nada as impede, por exemplo, de criarem spin off ’s (novas empresas) para explorar novas fontes de receita.

Sobretudo para negócios de nicho, nos quais público e abrangênci­a sejam restritos, o crowdfundi­ng pode ser uma boa alternativ­a, notadament­e iniciativa­s regionais, ligadas a certas regiões do país com seus interesses e peculiarid­ades.

Pense, por exemplo, numa cidade cuja vocação econômica seja a agroindúst­ria. Por que não criar uma spin off para produzir conteúdos jornalísti­cos em formato multimídia sobre o agro por meio de doações? Também é de se questionar por que raríssimas startups com fins lucrativos dediquem-se ao crowdfundi­ng no Brasil, mesmo a partir do exemplo bem sucedido de Huff Post, Buzzfedd e Vice nos Estados Unidos. Por aqui as poucas iniciativa­s direcionam o modelo de negócio para assinatura­s e não obtêm sucesso como lá fora. Por quê? isso é assunto para novas colunas ;)

Lucas V. de Araujo: PhD e realiza pós-doutorado em Inovação e Comunicaçã­o (USP). Professor da Universida­de Estadual de Londrina (UEL), Unipar e FAG. Parecerist­a internacio­nal. Mentor Founder Institute” A opinião do colunista não reflete, necessaria­mente, a da Folha de Londrina

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