Folha de Londrina

Irritado, Bolsonaro diz a empresário­s que eleição pode ser conturbada

Em evento com supermerca­distas em São Paulo, presidente solta gritos e palavrões, volta a colocar em xeque lisura do processo eleitoral e diz que nunca será preso

- Bruno B. Soraggi

São Paulo - O presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou ontem (16) a relativiza­r os atos do 7 de Setembro do ano passado, tratando-os como de liberdade de expressão, e disse que nunca será preso. “Por Deus que está no céu, eu nunca serei preso”, disse Bolsonaro, em evento com empresário­s em São Paulo.

Antes, o presidente havia afirmado que responde a uma série de processos, mas que não está dando recado para ninguém - ele é alvo de inquéritos no STF (Supremo Tribunal Federal).

Em fala de improviso e aos gritos em evento da Apas (Associação Paulista de Supermerca­dos), Bolsonaro se irritou em diferentes momentos, falou uma série de palavrões, ameaçou mais uma vez não cumprir decisões do STF sobre terra indígena e ironizou o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), chamado por ele de “inexpugnáv­el”.

O presidente voltou a atacar o sistema eleitoral brasileiro e criticou o TSE por não aceitar novas sugestões das Forças Armadas à Comissão de Transparên­cia nas Eleições, criada por aquela corte.

“O TSE chama as Forças Armadas [para participar do grupo]. Eles mostram 600 vulnerabil­idades [do sistema eleitoral]. Se vocês pegarem uma peneira de um metro, [o pleito] tem mais vulnerabil­idade que essa peneira. Mas aí não valem as sugestões”, disse.

Ainda sobre eleições, ele disse que “ou nós decidimos no voto, pra valer, contabiliz­ado, auditado, ou a gente se entrega. E se a gente se entregar? Vai demorar 50 anos ou mais pra voltar à situação que está hoje em dia”.

Em segundo lugar nas pesquisas eleitorais, distante do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Bolsonaro disse aos empresário­s não ser ditador e que não pediria a eles que não o abandone agora, mas que isso caberia à consciênci­a de cada um deles.

“Eu não sou fodão, não”, disse aos presentes, antes de afirmar que poderemos ter “eleições conturbada­s”.

“Tudo pode acontecer. Podemos ter outra crise. Podemos ter eleições conturbada­s. Imagine acabarmos as eleições e pairar, para um lado ou para o outro, a suspeição de que elas não foram limpas? Não queremos isso.”

“Não sou ditador. Sou uma pessoa que tem responsabi­lidade com o Brasil”, afirmou, antes de dizer, porém, que “só Deus me tira de lá [da Presidênci­a]. Não adianta ficar inventando canetada”, afirmou.

IRONIAS

Em sua fala, o presidente da República também ironizou Lula, a quem chamava de “nine” (nove, em inglês), e o ex-governador paulista João Doria (PSDB). “O engravatad­o lá, o cara que nunca sentiu cheiro de pobre na vida”, disse sobre o tucano, a quem apoiou em 2018 na dobradinha BolsoDoria.

APURAÇÃO

Bolsonaro, militares e integrante­s do governo entraram na mira da apuração sobre uma suposta organizaçã­o criminosa investigad­a pela Polícia Federal por ataques às instituiçõ­es e disseminaç­ão de desinforma­ção.

Isso ocorre devido à junção da apuração sobre a live de 29 de julho de 2021 - em que Bolsonaro fez seu maior ataque ao sistema eleitoral brasileiro -com o caso das milícias digitais, vinculação ordenada pelo ministro Alexandre de Moraes, relator das apurações no Supremo.

a investigaç­ão da PF sobre a live aponta que o uso das instituiçõ­es públicas para buscar informaçõe­s contra as urnas vem desde 2019 e envolveu, além de Bolsonaro, o general Luiz Eduardo Ramos e a Abin (Agência Brasileira de Inteligênc­ia), atrelada ao Gabinete de Segurança Institucio­nal chefiado pelo também general Augusto Heleno.

 ?? Isaac Fontana/CJPress/Folhapress ?? “Não sou ditador. Sou uma pessoas que tem responsabi­lidade com o Brasil”, afirmou o presidente em evento promovido pela Associação Paulista de Supermerca­dos
Isaac Fontana/CJPress/Folhapress “Não sou ditador. Sou uma pessoas que tem responsabi­lidade com o Brasil”, afirmou o presidente em evento promovido pela Associação Paulista de Supermerca­dos

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil