Irritado, Bolsonaro diz a empresários que eleição pode ser conturbada
Em evento com supermercadistas em São Paulo, presidente solta gritos e palavrões, volta a colocar em xeque lisura do processo eleitoral e diz que nunca será preso
São Paulo - O presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou ontem (16) a relativizar os atos do 7 de Setembro do ano passado, tratando-os como de liberdade de expressão, e disse que nunca será preso. “Por Deus que está no céu, eu nunca serei preso”, disse Bolsonaro, em evento com empresários em São Paulo.
Antes, o presidente havia afirmado que responde a uma série de processos, mas que não está dando recado para ninguém - ele é alvo de inquéritos no STF (Supremo Tribunal Federal).
Em fala de improviso e aos gritos em evento da Apas (Associação Paulista de Supermercados), Bolsonaro se irritou em diferentes momentos, falou uma série de palavrões, ameaçou mais uma vez não cumprir decisões do STF sobre terra indígena e ironizou o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), chamado por ele de “inexpugnável”.
O presidente voltou a atacar o sistema eleitoral brasileiro e criticou o TSE por não aceitar novas sugestões das Forças Armadas à Comissão de Transparência nas Eleições, criada por aquela corte.
“O TSE chama as Forças Armadas [para participar do grupo]. Eles mostram 600 vulnerabilidades [do sistema eleitoral]. Se vocês pegarem uma peneira de um metro, [o pleito] tem mais vulnerabilidade que essa peneira. Mas aí não valem as sugestões”, disse.
Ainda sobre eleições, ele disse que “ou nós decidimos no voto, pra valer, contabilizado, auditado, ou a gente se entrega. E se a gente se entregar? Vai demorar 50 anos ou mais pra voltar à situação que está hoje em dia”.
Em segundo lugar nas pesquisas eleitorais, distante do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Bolsonaro disse aos empresários não ser ditador e que não pediria a eles que não o abandone agora, mas que isso caberia à consciência de cada um deles.
“Eu não sou fodão, não”, disse aos presentes, antes de afirmar que poderemos ter “eleições conturbadas”.
“Tudo pode acontecer. Podemos ter outra crise. Podemos ter eleições conturbadas. Imagine acabarmos as eleições e pairar, para um lado ou para o outro, a suspeição de que elas não foram limpas? Não queremos isso.”
“Não sou ditador. Sou uma pessoa que tem responsabilidade com o Brasil”, afirmou, antes de dizer, porém, que “só Deus me tira de lá [da Presidência]. Não adianta ficar inventando canetada”, afirmou.
IRONIAS
Em sua fala, o presidente da República também ironizou Lula, a quem chamava de “nine” (nove, em inglês), e o ex-governador paulista João Doria (PSDB). “O engravatado lá, o cara que nunca sentiu cheiro de pobre na vida”, disse sobre o tucano, a quem apoiou em 2018 na dobradinha BolsoDoria.
APURAÇÃO
Bolsonaro, militares e integrantes do governo entraram na mira da apuração sobre uma suposta organização criminosa investigada pela Polícia Federal por ataques às instituições e disseminação de desinformação.
Isso ocorre devido à junção da apuração sobre a live de 29 de julho de 2021 - em que Bolsonaro fez seu maior ataque ao sistema eleitoral brasileiro -com o caso das milícias digitais, vinculação ordenada pelo ministro Alexandre de Moraes, relator das apurações no Supremo.
a investigação da PF sobre a live aponta que o uso das instituições públicas para buscar informações contra as urnas vem desde 2019 e envolveu, além de Bolsonaro, o general Luiz Eduardo Ramos e a Abin (Agência Brasileira de Inteligência), atrelada ao Gabinete de Segurança Institucional chefiado pelo também general Augusto Heleno.