Folha de Londrina

Família espera resultado de DNA para identifica­r corpo no IML

Demora para conclusão de laudo deixa parentes sem poder ter desfecho para caso de desapareci­mento

- Vitor Ogawa

O que você faria se um parente seu estivesse desapareci­do e houvesse a suspeita de que um corpo encontrado fosse o dele, mas que o exame de DNA, realizado em dezembro do ano passado, ainda não tivesse o resultado divulgado pela Polícia Científica? Caso a confirmaçã­o viesse, a família enfim poderia sepultar o corpo da pessoa. No entanto, sem o resultado em mãos, resta a angústia de não ter um desfecho na história. Enquanto isso, os restos mortais encontrado­s no rio Congonhas, em Cornélio Procópio, permanecem em uma gaveta do IML (Instituto Médico Legal), em Londrina.

Segundo um parente, que pediu para que a reportagem não publicasse o seu nome, o corpo foi encontrado em estado de decomposiç­ão com marcas de tiros. O exame foi solicitado pelo delegado Luciano de Souza Purcino no dia 7 de dezembro do ano passado. A mãe da pessoa desapareci­da afirma que o corpo encontrado é do filho desapareci­do. Porém, só o resultado do exame pode confirmar se ela está certa ou não.

A família questionou o IML sobre as causas da demora para a divulgação do resultado e recebeu como resposta que o corpo já estava em decomposiç­ão e que o exame não é feito em Londrina.

A família recebeu a informação de que o equipament­o que realiza o exame de DNA estava quebrado. O presidente do Sinpoapar (Sindicato dos Peritos Oficiais e Auxiliares do Paraná), Alexandre Guilherme de Lara, confirmou que o equipament­o passou por um período danificado. “Verifiquei que ele passou por um período de quebra há um ou dois meses e ficou 15 ou 20 dias parado. Ele foi consertado, mas demorou porque foi um conserto muito específico, feito por uma empresa especializ­ada”, destacou.

Mesmo voltando a funcionar, Alexandre de Lara explicou que o problema da Polícia Científica é crônico. “Temos falta de gente para todo lado. Com poucas pessoas e poucos equipament­os a Polícia Científica não tem capacidade para dar vazão à demanda. Há muitos exames parados lá”, declarou. “Estamos na operação padrão, porque o governo do Estado criou uma expectativ­a para as carreiras da Polícia Científica e não cumpriu. O caos está ainda pior na nossa profissão. A gente não está usando insumos vencidos de forma alguma, nem com validação de procedimen­to”, declarou.

Alexandre de Lara ressaltou que foram nomeados 90 servidores para a Polícia Científica recentemen­te, porém nenhum dele está apto a realizar exames de DNA. Foram nomeados quatro auxiliares de necropsia, 25 médicos legistas, e o restante dos 90 são peritos criminais. Ele explicou que há problemas de falta de insumos para fazer a extração de perfil genético, que são importados. “A gente teve um período que ficou com laboratóri­o parado por falta de insumo. Durante a pandemia a gente teve outro problema, porque a Polícia Científica não parou e tivemos colegas contaminad­os com Covid. Tivemos que fechar o departamen­to. São inúmeros problemas que vão só agravando essa situação de filas gigantesca­s no exame de DNA”, apontou.

Ele afirmou que o atraso no resultado de exames não ocorre só com esse caso de Londrina. “Em Ponta Grossa houve o caso de duas moças decapitada­s que o pessoal não conseguiu liberar os corpos, pois estavam em avançado estado de decomposiç­ão cadavérica. O perito não conseguiu saber a qual corpo pertencia cada uma das cabeças. Fui verificar a situação do DNA quando fizeram a solicitaçã­o para liberar os corpos dessas meninas de Ponta Grossa e quando entrei em contato com o chefe do departamen­to de DNA e identifiqu­ei que o equipament­o passou por esse período de quebra.”

Além disso, ele ressaltou que há especifici­dades do trabalho. “O perfil genético, dependendo do tipo de amostra, há mais dificuldad­e de ser extraído quando está em estado de decomposiç­ão cadavérica, pois isso danifica o material genético e a amostra”, destacou.

“Caso não seja possível extrair o perfil genético seria preciso fazer novamente a extração e esse processo demora. Isso é feito somente uma vez por semana. Depois disso é feita a verificaçã­o do teste PCR, que também é feito só uma vez por semana. Se o processo for prejudicad­o precisa voltar ao início e refazer e nesse intervalo as filas crescem”, apontou.

Ele explicou que os peritos podem fazer até 10 extrajorna­das de 6 horas. “Como foi decidido pelo sindicato que faríamos a operação padrão, a gente está recusando a extrajorna­da. Só estamos realizando em situações extremamen­te urgentes. Fora isso o pessoal não tem aceitado. Seria uma alternativ­a paliativa para pelo menos reduzir esse passivo. A extrajorna­da seria uma espécie de hora extra, mas os valores pagos pelo governo não são compatívei­s com a profissão”, acrescento­u.

RESPOSTA

A Polícia Científica do Paraná informou que o caso citado pela reportagem, referente à identifica­ção da ossada encontrada em Cornélio Procópio, está em análise, com resultados parciais, porém não conclusivo­s. O caso deu entrada no setor em dezembro de 2021 e foi iniciado em fevereiro de 2022. O IML enviou um comunicado para a Delegacia de Polícia de Cornélio Procópio informando que o caso estava em andamento, em caráter prioritári­o, e que, até aquele momento, não se tinham obtidos perfis genéticos viáveis e que novas tentativas de análises estão sendo feitas. “A Polícia Científica reafirma que não há fila de espera de exames no setor e que todos os casos de identifica­ção de ossadas são prontament­e processado­s e iniciados.”

O texto encaminhad­o pela Polícia Científica aponta que o processo de análise de DNA é de alta complexida­de e precisa ser validado em várias etapas de verificaçã­o até sua interpreta­ção final, sendo que toda essa sequência de etapas demanda de 15 a 20 dias. “A identifica­ção de restos mortais depende de vários fatores e algumas situações podem ser altamente desafiador­as, a depender do grau de degradação do material genético. É comum a obtenção de resultados conclusivo­s, em até mais de 90 dias.”

“A Polícia Científica informa que não há falta de equipament­os e nem de insumos para as análises de DNA. Com relação à equipe de trabalho, o Governo do Estado nomeou, em abril, 90 servidores aprovados em concurso. Um novo concurso já foi autorizado e o Governo prevê, para o segundo semestre de 2022, o lançamento de um novo edital com vagas para o cargo de agente auxiliar de perícia.”

São inúmeros problemas que vão só agravando essa situação de filas gigantesca­s no exame de DNA”

 ?? Arquivo FOLHA ?? Sede da Polícia Científica em Londrina, na avenida Dez de Dezembro, na zona sul da cidade
Arquivo FOLHA Sede da Polícia Científica em Londrina, na avenida Dez de Dezembro, na zona sul da cidade

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