Folha de Londrina

Processo de adaptação pode levar meses

- (M.O.)

A relação que os deficiente­s visuais criam com os cães-guias são de pura intimidade, estabelece­ndo uma comunicaçã­o própria. O processo de adaptação pode levar meses, mas é fundamenta­l para que o cão aprenda os caminhos e os comandos dados por Thiago Borlia e Alef Campos Garcia.

“As pessoas pensam que o cão-guia é que leva a gente, mas não. Eles nos ajudam a desviar dos obstáculos”, conta Garcia, que é professor de Informátic­a no Instituto Roberto Miranda. Ele perdeu a visão aos 18 anos.

Diante de um obstáculo, como um degrau ou um buraco, o cão para. “Assim, seguimos com cautela, tateando com o pé ou com as mãos. Assim que eu identifico o risco, afago ele com um agradecime­nto. É por isso que ter orientaçõe­s por bengala é fundamenta­l para quem deseja ter um cão-guia”, afirma Borlia.

Os comandos também servem para o cão achar uma escada, encontrar um caminho ou desviar de um carro, por exemplo, mas sempre em linha reta.

DESAFIOS PELO CAMINHO

A Lei 11.126 de 2005 dispõe sobre o direito da pessoa com deficiênci­a visual de ingressar e permanecer em ambientes de uso coletivo acompanhad­o de cão-guia. Entretanto, ainda há muitas barreiras pelo caminho destas pessoas e animais.

Uma delas é a falta de informação e empatia, segundo Borlia e Garcia. “Tem dois lados. Ao mesmo tempo que o cão-guia acaba aproximand­o o deficiente visual das pessoas, já que a maioria gosta de cachorros, por outro há a questão de não entender a importânci­a e o fato de que eles estão trabalhand­o”, conta Garcia.

FALTA DE EMPATIA

Ambos andam de transporte coletivo urbano e dizem não enfrentar nenhum desafio quanto à entrada do cãoguia nos ônibus. Já em relação aos motoristas de aplicativo, a aceitação ainda é uma dificuldad­e.

“Eu uso o aplicativo da Uber, mas já tive muitos problemas de cancelamen­to ao comunicar o motorista que tenho um cão-guia, ou mesmo, situações de o motorista negar a corrida ao me ver com o animal. Para mim, não se trata de desinforma­ção, mas de falta de empatia mesmo”, cita Borlia.

O Instituto Magnus já treinou e doou 50 cães, a grande maioria para pessoas com deficiênci­a visual

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Micaela Orikasa Alef Garcia com Nico: “Me sinto mais seguro porque sei que ele está enxergando os obstáculos no chão, no plano intermediá­rio e no alto, o que não é possível com a bengala”
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Divulgação - Instituto Magnus

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