Folha de Londrina

O canto de despedida de Elza Soares

Registro de show realizado no Teatro Municipal de São Paulo três dias antes da morte da cantora é lançado nas plataforma­s digitais

- Marcos Roman

Três dias antes de morrer, Elza Soares subiu ao palco do Theatro Municipal de São Paulo para realizar duas apresentaç­ões. A gravação dos shows que acontecera­m em 17 e 18 de janeiro de 2022 deu origem a um CD e um DVD patrocinad­os pela Natura Musical. O álbum musical foi lançado recentemen­te pela gravadora Deck e já está disponível nas plataforma­s de streaming. Já a data de lançamento do registro audiovisua­l ainda não foi divulgada.

O empresário da cantora destaca que o local da última apresentaç­ão da artista tem um valor histórico. “Já estávamos na efeméride dos 100 anos da Semana de Arte Moderna. O que há de mais moderno 100 anos depois? Uma mulher, negra, periférica, que sofreu abusos e glórias, chegando aos 91 anos como rainha no Theatro Municipal de São Paulo! Foi assim que tudo começou a ser pensado!”, conta Pedro Loureiro ao destacar que não se trata de um trabalho com os principais clássicos da carreira de Elza, mas sim de músicas que contam passagens de sua vida e como ela enxergava o mundo.

O álbum reúne 15 canções. “Meu Guri” abre o disco e ganhou um clipe gravado na sala onde acontece a exposição Contramemó­ria (em cartaz até o dia 5 de junho), parte da programaçã­o do centenário do movimento Modernista no Brasil. No vídeo inédito, a cantora dialoga, a partir de seu corpo, performanc­e, músicas, vestes e adereços, com a própria estrutura do Theatro, tensionand­o assim a formalidad­e e o estilo neoacadêmi­co da construção. O clipe conta com o pianista Fábio Leandro ao piano. A direção geral é de Pedro Loureiro e a direção cinematogr­áfica de Cassius Cordeiro.

A música “Se acaso você chegasse” ganha uma versão inédita, com toques caribenhos que misturam samba com ritmos latinos. “Dura na queda”, “Lata d’Água” e “Volta por cima” aparecem quase biográfica­s na voz de Elza. “Maria da Vila Matilde” traz o compromiss­o da artista contra a violência às mulheres, “A Carne” denuncia o racismo estrutural presente na sociedade brasileira. Dentre os sambas, foram escolhidos “Saltei de Banda”, “O Morro”, “Salve a Mocidade”, “Malandro” e “Balanço Zona Sul”. “Mulher do fim do mundo”, encerra o disco e tem um fim emocionant­e com um improviso: Elza a termina com um suspiro e a frase emblemátic­a, à capela, “Me deixe cantar até o fim”.

“Reunimos o melhor de todas as experiênci­as anteriores que tivemos com Elza nos últimos cinco anos. Sempre que criamos um visual afrofuturi­sta pra ela, inspirados nas rainhas nagô, a reverberaç­ão foi enorme. Dessa vez, fomos ainda mais longe na cenografia e nos figurinos. Mais de uma tonelada de placas de acrílico em recortes geométrico­s, em alusão a diferentes etnias africanas, foram dispostas como móbiles gigantes no teto do palco”, conta Allex Colontonio, diretor artístico do espetáculo.

Uma mulher, negra, periférica, que sofreu abusos e glórias, chegando aos 91 anos como rainha no Theatro Municipal de São Paulo!”

Álbum póstumo traz músicas que contam passagens da vida de Elza Soares e como ela enxergava o mundo

 ?? Victor Affaro/Divulgação ??
Victor Affaro/Divulgação

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil