Folha de Londrina

A crise no Flamengo

- Por Julio Oliveira

O Flamengo, ao lado do Palmeiras, são os maiores vencedores do futebol brasileiro nos últimos anos. O período de pandemia foi generoso com estes dois times, que tiveram a companhia do Atlético-MG no ano passado. Ao contrário dos outros dois, o Flamengo vive uma turbulênci­a interna que parece não ter fim. O fato de conquistar títulos não é o que acalma torcida e oposição. O time, para não estar no alvo de ataques constantes, precisa continuar somando títulos sem cessar. E continuar apresentan­do o melhor nível técnico do país.

O ano de 2019, que era pra ser histórico, virou maldição. Campeão Carioca, Brasileiro e da Libertador­es, marcava uma arrancada e solidifica­ção de uma hegemonia com um comando técnico inovador: Jorge Jesus. O português, que chegava para trabalhar no país, criou uma relação que fez o torcedor se apaixonar sem saber que depois de se tornaria refém.

Em 2020 foram mais quatro títulos. O time do momento no país era o alvo a ser batido. Palmeiras e Atlético-MG cresceram e diminuíram esta distância. Com mais dois troféus em 2021 se tornou o maior vencedor neste século no país com 21 títulos. E está em crise. Está em crise porque este ano não ganhou o Carioca. Está em crise porque não está na liderança do Brasileiro. Está em crise porque não tem o mesmo nível técnico de 2019 e 2020. Está em crise porque a torcida acredita mais na oposição do que no trabalho que está sendo construído.

Mas o que acontece com o Flamengo? O ex-técnico Jorge Jesus passou pelo Rio de Janeiro no início do mês. JJ se colocou à disposição para voltar e aumentou o grau de insatisfaç­ão com o momento do time. Ele não foi antiético no comentário numa mesa de jantar, foi oportunist­a quem se beneficiou da declaração sabendo o que iria acontecer com aquela divulgação. Há uma grande parcela, que inclui imprensa e torcedores, que acredita que sua volta traria também performanc­e e resultados antigos. Que ilusão. Não há garantia. Talvez o maior erro da diretoria tenha sido não renovar o elenco. O time ficou velho, cansado, estilo conhecido e jogadores, que venceram tudo, sem estímulo. E como tinha muito dinheiro contratou errado, como David Luís, por exemplo.

O Flamengo conseguiu na última década se reorganiza­r, crescer, vencer e se tornar forte em todas as áreas sem ter se transforma­do em S.A., usando apenas uma boa administra­ção e seu principal ativo: o torcedor. Aumentou o número de sócios, melhorou receita, encheu estádios e vendeu bem as últimas revelações, fechando a combinação perfeita de um clube inteligent­e. Mas não evoluiu na política interna. O sistema continua o mesmo: a oposição sempre tumultuand­o para criar uma atmosfera negativa e vencer a próxima eleição. A passagem e as declaraçõe­s de Jorge Jesus foram um capítulo de campanha eleitoral.

A crise do Flamengo tem uma velha fórmula: desestabil­izar e desorganiz­ar para quando “eu” entrar arrumar tudo novamente. E, assim, o futebol brasileiro vai mantendo suas raízes.

Julio Oliveira é jornalista e locutor esportivo da TV Globo

A opinião do colunista não reflete, necessaria­mente, a da Folha de Londrina

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