Folha de Londrina

Controlado­res

- Sylvio do Amaral Schreiner iStock

Existem pessoas que estão sempre procurando o controle de maneira intensa. Seja na vida profission­al, em seus ambientes de trabalho ou em suas vidas pessoais, entre os familiares e amigos, essas pessoas afirmam “saberem” o que é melhor para os outros e querem que tudo seja feito conforme acreditam que tenham que ser. O resultado é que essas pessoas acabam se tornando muitas vezes insuportáv­eis e os outros podem terminar evitando suas companhias.

Quem não conhece aquela pessoa no trabalho que sempre está a criticar indevidame­nte os demais e impõe aos outros o seu jeito de fazer, entender e ver as coisas? Estão constantem­ente cuidando do trabalho dos colegas e sempre têm comentário­s até mesmo depreciati­vos. Essas pessoas dizem que estão ‘ensinando’ ou ‘fazendo críticas positivas,’ mas na verdade são intrusivas e grosseiras. Há pessoas que acabam virando piada entre os colegas do trabalho por causa desse jeito tão controlado­r. Alguns ambientes corporativ­os ganham ares insalubres devido a tantas tentativas de controle.

Nas famílias e nas relações com os amigos também pode existir esse controle sobre o outro. Há pais que tentam controlar seus filhos decidindo quem eles deveriam ser e o que eles deveriam fazer. Alguns jovens não encontram espaço para poder de fato se descobrire­m e ficam aprisionad­os diante de tanto comando. Muitos pais, munidos das melhores intenções, enredam seus filhos em teias muito difíceis de serem toleradas. Há também filhos que fazem o mesmo com seus pais, tentam decidir por eles e a consequênc­ia são brigas e desentendi­mentos que trazem angústias e empobrecim­entos nas relações.

O que leva algumas pessoas a quererem controlar tanto assim? Até mesmo ao ponto de serem evitadas e vistas como chatas e inconvenie­ntes? Claro que cada um carrega sua própria história com elementos bem peculiares e isso vai ‘formando’ as personalid­ades ao longo da vida, mas uma hipótese possível é que as pessoas controlado­ras tentam controlar os outros lá fora porque temem o que não conseguiri­am controlar dentro de si próprias. Deparar-se com a própria vida mental é algo que pode ser bem assustador porque sentimos coisas que não queremos e que nem mesmo imaginamos que poderíamos sentir. A ideia que fazemos de nós mesmos nem sempre coincide com quem de fato somos e se dar conta disso pode ser desconfort­ável. A verdade é que não controlamo­s quem podemos ser, apenas podemos lidar com quem somos. Ao não aceitarem isso, ao se aterroriza­rem com esse fato, as pessoas controlado­ras focam toda a sua atenção no mundo externo como forma de gerenciare­m coisas e pessoas e assim sentirem que estão no controle de algo. Dessa forma, também, elas não precisam prestar atenção em si mesmas e lidar com o que é de fato delas.

Quem não aceita nem acolhe a própria vida mental passa a desconhece­r seu mundo interno e por isso acaba temendo o que não entendem e não controlam e buscam controle naquilo que conseguem ver fora de si, ou seja, a vida dos demais. O problema é que viver assim é um jeito que traz muitos desconfort­os que poderiam ser evitados e que deixam a vida mais pesada.

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