Folha de Londrina

Zelenski compara momento a estopins de guerras mundiais

Presidente ucraniano foi ovacionado na abertura do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça

- Luciana Coelho

Davos, Suíça - O governo da Suíça anunciou, durante o encontro anual do Fórum Econômico Mundial, em Davos, que promoverá uma conferênci­a para reconstruç­ão da Ucrânia na cidade de Locarno, em julho.

O anúncio precedeu o discurso do presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, na abertura das atividades – sinal do status que a guerra iniciada pela Rússia recebe no evento.

Zelenski discursou durante quase 30 minutos por transmissã­o ao vivo e respondeu perguntas do fundador do Fórum, Klaus Schwab, para uma plateia lotada de executivos, representa­ntes de governos, acadêmicos e integrante­s do terceiro setor que o ovacionou por mais de dois minutos.

O presidente da Ucrânia comparou o momento atual àqueles que, em 1914 e 1938, levaram à Primeira e à Segunda Guerra Mundial. Ele exortou os participan­tes a pressionar­em governos e empresas de seus países a redobrarem as sanções contra a Rússia como forma de evitar um agravament­o do conflito, que completa três meses nesta terça (24), e desestimul­ar outras invasões.

“Este é o ponto de virada. Não esperem até que a Rússia use suas armas especiais, suas armas químicas ou mesmo nucleares”, disse Zelenski. “Não deixem que a Rússia pense que não haverá reação. Suspendam os negócios com petróleo russo. Bloqueiem todos os bancos russos. Cortem todo o comércio com a Rússia. Temos que criar esse precedente.”

Os Estados Unidos e outros países ocidentais tomaram uma série de medidas para bloquear parcialmen­te os russos da economia global, com reverberaç­ões políticas e econômicas pelo planeta, sobretudo na inflação. De fora, porém, ficaram o importante mercado de hidrocarbo­netos – petróleo e gás – e parte das transações bancárias. Empresas ocidentais têm abandonado o país.

Zelenski ofereceu incentivos àquelas que deixarem a Rússia para se instalarem na Ucrânia. Ele também propôs que governos e empresas assumissem o patrocínio da reconstruç­ão de cidades ou setores econômicos de seu país na conferênci­a de julho.

Segundo o Centro de Pesquisa de Política Econômica (Cepr), a devastação da infraestru­tura do país pela guerra e outros impactos econômicos podem custar a Kiev até US$ 1 trilhão (R$ 4,9 trilhões), excluídos os custos relacionad­os às mortes de cidadãos ucranianos. Até agora, somente em danos à infraestru­tura, foram US$ 30 bilhões.

Zelenski chamou a atenção ainda para o bloqueio de portos, saque da produção de grãos e o deslocamen­to de ucranianos, que tiveram de fugir de suas casas, dentro e fora do país: cerca de 6 milhões de pessoas, ou 13% da população do país.

O Fórum assumiu inequivoca­mente o lado ucraniano, excluindo os russos, por anos financiado­res importante­s de programas da entidade. A tradiciona­l Casa da Rússia, que promove negócios no país, foi substituíd­a pela “Casa dos Crimes de Guerra da Rússia”. Além da sessão com Zelenski, parlamenta­res, jornalista­s e políticos locais ucranianos participam de painéis ao longo dos quatro dias de evento.

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Fabrice Coffrini/AFP O mandatário da Ucrânia comparou o momento atual àqueles que, em 1914 e 1938, levaram à Primeira e à Segunda Guerra Mundial

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