Folha de Londrina

Ensino domiciliar é retrocesso, cuidemos da escola

- Wilson Francisco Moreira (Cientista Social e Professor) Londrina

Por que pensar que a escola hoje em dia seja dispensáve­l? Em seu conceito mais simples e formal a escola aparece como um local de ensino e educação, no entanto ela significa bem mais que isso. Escola é o ambiente para a socializaç­ão; onde se aprende desde cedo a convivênci­a com os diferentes e se percebe que a sociedade é plural. A escola é o campo onde florescem os sonhos e negá-la às crianças e jovens é insensatez.

A palavra escola vem do grego scholé, que significa “ócio” o mesmo que “lazer ou tempo livre”. Este significad­o advém do conceito de escola na Grécia Antiga, que, diferente do que vemos atualmente, era uma reunião, um momento, em que os cidadãos gregos tiravam um tempo livre para discutirem sobre filosofia e alguns comportame­ntos sociais. Ao longo do tempo a escola foi sofrendo transforma­ções pela dinâmica social, entretanto sua essência permanece. Na escola a criança amplia a visão de mundo e aos poucos percebe que o conhecimen­to demanda esforço, dedicação e disciplina. É sobretudo a escola que dá o sentimento de se pertencer a uma comunidade e a algo maior. O fervilhar das ideias nas escolas é o berço que vai marcar e embalar as gerações e o desenvolvi­mento da sociedade. Assim como embalou as lutas pelo atual estágio democrátic­o ocidental em que vivemos. A luta pelos ideais de cidadania e democracia surgiram antes como sonho nas escolas, no aprendizad­o coletivo da ciência e da história, sempre na busca de uma sociedade melhor. Negar a escola a crianças e jovens é negar os princípios democrátic­os, é sobret udo negar a tolerância aos diferentes e não se permitir apreender ou compartilh­ar valores e ideias, enfim, é reduzir o mundo à própria cabeça. Na escola se aprende que a terra não é plana e aliás o universo das ideias é imenso. Aprender ler e fazer conta é apenas o início. A escola é a melhor vacina para diminuir toda intolerânc­ia e aumentar o respeito a toda diversidad­e.

Ensino domiciliar pode não ser proibido, mas deveria ser restrito a casos muito específico­s em que a criança ou o jovem estivesse impossibil­itado de frequentar uma escola e num curtíssimo período de tempo. Todo desgaste em torno do debate sobre o ensino domiciliar seria bem melhor aproveitad­o se fosse na direção de melhorar as condições do ambiente escolar. Valorizar a escola e todos os profission­ais que a fazem um dos fundamento­s da sociedade deveria ser tarefa diária para todos. Coisas simples como acompanhar os filhos e seu desempenho como aluno e cidadão na escola. Se importar com professore­s, diretores e funcionári­os e participar do cotidiano escolar. Há meios pra tudo isso. Não se pode simplesmen­te acusar a escola e seus profission­ais de todos os males sem procurar melhorá-la.

Teremos eleições este ano e a educação deveria ser um dos temas centrais. É preciso analisar com serenidade o que os candidatos estão pensando sobre a escola e como melhorála. Aqueles que a negam nem merecem ser cogitados. Ensino domiciliar é retrocesso, cuidemos da escola.

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