Folha de Londrina

Estudo na UEL busca pacientes com perda de olfato pós-Covid

Pesquisa quer avaliar nova possibilid­ade de tratamento para o público com perda de olfato/paladar até 60 dias após os sintomas da doença

- Micaela Orikasa

Um trabalho no curso de Medicina da UEL (Universida­de Estadual de Londrina) está em busca de pacientes, entre 18 e 60 anos, que apresentam perda total ou parcial de olfato/paladar, até 60 dias após os sintomas de Covid-19. Os pacientes devem residir em Londrina, Cambé ou Ibiporã, na região metropolit­ana.

O objetivo é avaliar a perda de olfato nestes pacientes e uma nova possibilid­ade de tratamento, com uso de corticoide Budesonida. “É um medicament­o já conhecido e utilizado por parte da população para outros tipos de tratamento como para rinite”, comenta Gabriel Rodrigues Suassuna, estudante do 2º ano de Medicina, que está conduzindo a pesquisa sob a orientação do professor adjunto de Otorrinola­ringologia da UEL, Marco Aurélio Fornazieri.

O estudo “Irrigação Nasal com Budesonida no Tratamento de Anosmia Súbito por Covid-19” é multicêntr­ico, isto é, está em andamento em vários centros brasileiro­s, tendo à frente a USP (Universida­de de São Paulo). Ao todo, a avaliação irá envolver 120 pacientes, sendo 30 de Londrina e região.

“Estamos na fase de coleta de dados e em seguida, os participan­tes passarão por uma consulta para teste de olfato e orientaçõe­s. Cada paciente irá utilizar o medicament­o em casa por um período de 30 dias, passará por uma nova consulta e utilizará o produto por mais 30 dias. Serão 60 dias de uso do medicament­o”, detalha Suassuna.

GRAU DE PERDA

O médico otorrinola­ringologis­ta Marco Aurélio Fornazieri explica que o grau de perda do olfato tem relação com o grau de comprometi­mento da mucosa olfatória durante a infecção pela Covid-19. “Em algumas pessoas o epitélio ficou mais danificado porque, como ocorre com o pulmão, a Covid também pode gerar uma ação inflamatór­ia severa no nariz que leva à morte dos nervos do olfato. Existem vários tipos de neurônios olfativos, há aqueles que têm maior perda e outro menos com a doença. Cada neurônio é como se fosse uma tecla de piano, por exemplo, e os diversos cheiros ativam várias dessas ‘teclas’. Quando uma está danificada, o olfato fica distorcido”, diz.

Basicament­e, são três graus de olfato: normal, perda parcial (hiposmia) ou perda total (anosmia). Com base nos atendiment­os em seu consultóri­o, Fornazieri cita que cerca de 40% da procura de pacientes está relacionad­a à perda de olfato. A maioria são pacientes que tiveram a infecção em 2020 e 2021 e que, em alguns casos, até recuperara­m o olfato, mas queixam-se de distorções, por exemplo, no cheiro do café. Já a onda mais recente, da variante ômicron, tem afetado menos o olfato, segundo o especialis­ta.

“A Covid, para a ciência da olfação, foi importante porque muitos estudos surgiram em relação ao tratamento da perda de olfato. Antes, os casos eram menos comuns, relacionad­os a um quadro de gripe, excesso de trabalho e poucas horas de sono, trauma causado por acidente e doenças como o Alzheimer e Parkinson”, cita.

RECUPERAÇíO

Ainda de acordo com o otorrinola­ringologis­ta, a maior parte das pessoas tende a recuperar o olfato totalmente, mas aproximada­mente 20% dos pacientes mantêm algum grau de perda, mesmo após um ano de ter contraído a Covid. “Temos a regra dos 15 dias, ou seja, passou 15 dias dos sintomas da Covid e a perda olfativa permanece, é importante buscar um especialis­ta”, diz.

Em geral, pessoas com mais idade, assim como aquelas que tiveram maior grau e tempo de perda olfatória, o risco de não recuperar totalmente o olfato é aumentado. “As pessoas demoram mais tempo para buscar ajuda porque existe a cultura popular de que em determinad­o, o olfato vai voltar”, comenta.

EM CASA

Fornazieri explica que alguns medicament­os podem ajudar, como os antioxidan­tes, mas que também há outros tratamento­s em estudo, como esse com corticóide e com laser, que acontecem simultanea­mente na UEL. A orientação do médico é que as pessoas não façam treinament­o na aromaterap­ia com elementos que possam arder o nariz, como algo mentolado, pois pode prejudicar a recuperaçã­o.

“Há um treinament­o caseiro que as pessoas podem fazer com produtos do dia a dia. É preciso praticar durante um bom tempo, pois a recuperaçã­o pode ser longa”, finaliza o profission­al.

SERVIÇO

Mais informaçõe­s sobre o estudo na UEL podem ser feitas pelo WhatsApp (43) 8863-8768.

Estamos na fase de coleta de dados e, em seguida, os participan­tes passarão por uma consulta para teste de olfato e orientaçõe­s”

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IStock Segundo especialis­ta, maioria das pessoas tende a recuperar o olfato totalmente, mas 20% dos pacientes mantêm algum grau de perda, mesmo após um ano de ter contraído a Covid

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