É possível acelerar o metabolismo e emagrecer?
São Paulo - Uma das principais tendências entre quem está tentando emagrecer é a busca por maneiras de acelerar o metabolismo, o que levaria ao maior gasto de calorias. Nas prateleiras de lojas e na internet, é possível encontrar diversos alimentos, substâncias e suplementos termogênicos que prometem potencializar esse processo. Mas a verdade é que nada disso é realmente eficaz, como apontam estudos.
Mas, afinal, o que significa “acelerar o metabolismo”? O nutricionista Dennys Cintra, professor da Faculdade de Ciências Aplicadas da Universidade de Campinas, em São Paulo, explica que o termo metabolismo se refere ao gasto de energia do corpo. “Trabalhamos pensando em uma equação que traduz a reação biológica de gasto energético. Ou seja, precisamos de uma quantidade X de energia para que o organismo realize determinada função”, explica.
O metabolismo é separado em dois tipos: basal e total. O primeiro é a quantidade de energia necessária para exercer as funções vitais. “Até mesmo uma pessoa em coma consome essa energia. Ela está em repouso, mas o coração continua batendo, os outros órgãos seguem funcionando”, exemplifica. Já o metabolismo total se refere ao esforço físico em si, tanto o que é feito ao suar a camisa na academia como o de levantar para ir ao banheiro à noite. “Nós colocamos energia para dentro através da comida. Se eu gastar mais do que comi, vou perder peso. Se gastar menos, vou engordar.”
NÃO É 100% EXATA
No entanto, essa não é uma conta 100% exata pois o resultado também depende da velocidade em que o metabolismo funciona, algo que é individual, conforme explica o endocrinologista Márcio Mancini, vicepresidente do Departamento de Obesidade da Sbem (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia). “Isso é determinado geneticamente. Existem pessoas magras que ingerem muitas calorias, mas seu corpo consome muita energia nas atividades diárias sem que elas façam necessariamente muitos exercícios físicos. E há pessoas obesas que nem comem tantas calorias e se exercitam, mas têm tendência a ganhar peso.”
O metabolismo também muda ao longo da vida para se adaptar à demanda energética de cada faixa etária. É por isso que o metabolismo desacelera conforme vamos nos aproximando da velhice, já que o gasto de energia não é o mesmo de quando somos jovens.
TERMOGÊNICOS
Chamamos de termogênicos os alimentos e suplementos com substâncias que seriam capazes de acelerar nossas reações metabólicas, o que aumenta a temperatura do corpo e o gasto calórico basal. Por isso, eles são vendidos com a proposta de auxiliar na perda de peso queimando calorias sem que você precise se esforçar para isso. Chá verde, pimenta, gengibre, ômega 3 e suplementos à base de cafeína são alguns exemplos.
Só que as evidências científicas mostram que, apesar de realmente acelerarem o metabolismo, o gasto energético oferecido por esses itens não é significante para ajudar no processo de emagrecimento. Uma revisão de estudos publicada no International Journal of Obesity mostrou que o consumo de cafeína, capsaicina (substância presente na pimenta) e chás como o verde e o branco, aumentam o gasto energético em somente 4% a 5%.
Veja: um adulto de 80 kg consome em média 2 mil calorias diariamente. 5% desse valor representa apenas 100 calorias a mais, o que não é efetivo para perder nem um quilo na balança.
Até existem pesquisas com evidências de que termogênicos funcionam. “Mas os trabalhos que revelam esses benefícios são feitos em células ou em animais, não em pessoas. Isso mostra que o mecanismo celular existe, só que não em um grau suficiente para induzir emagrecimento”, raciocina Cintra.
RISCO DO EXCESSO
Além disso, essas substâncias ainda oferecem perigos quando consumidas em excesso. “Alguns suplementos termogênicos, principalmente os que levam cafeína na composição, acabam levando à morte por arritmia cardíaca quando a pessoa utiliza uma dose maior que a recomendada”, alerta Mancini.
COMO ACELERAR
E alguma coisa é capaz de acelerar o nosso metabolismo? A resposta volta para a receita básica de uma vida saudável: praticar exercícios, ter uma alimentação balanceada e um sono de qualidade.
Qualquer tipo de atividade física acelera o metabolismo pois o corpo consome energia recuperando os tecidos danificados durante a prática. Mas isso vai variar de acordo com o tipo, a duração e a intensidade.
Em relação à alimentação, o próprio ato da digestão já faz com que o metabolismo seja ativado. É importante focar em manter um cardápio equilibrado e bem distribuído ao longo do dia. Isso é mais efetivo do que investir em dietas milagrosas.
E uma boa noite de sono também contribui para o funcionamento do metabolismo. Os especialistas reforçam que a avaliação dos casos deve ser individual e é necessário a orientação de um profissional. “É muito importante conhecermos o histórico de cada paciente pois são completamente diferentes”, ressalta Mancini.
Os trabalhos que revelam esses benefícios são feitos em células ou em animais, não em pessoas”