Folha de Londrina

A cesta e o mínimo

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Com o preço nas alturas e uma população com poder de compra cada vez menor, é um alento a notícia de que a cesta básica apresentou certa estabilida­de nos dois últimos meses, segundo relatório elaborado pelo Nupea (Núcleo de Pesquisas Econômicas Aplicadas), da UTFPR (Universida­de Tecnológic­a Federal do Paraná). O estudo coordenado pelo economista e colunista da Folha de Londrina Marcos Rambalducc­i mostrou que o preço da lista de alimentos e suas respectiva­s quantidade­s para garantir a saúde de um cidadão adulto caiu -0,27% em relação ao mês anterior.

É um alento, mas o decréscimo não representa ainda um alívio. “A cesta básica se manteve sem maiores aumentos, mas em patamar muito elevado, com aumento de 21% da cesta básica de 1º janeiro até agora”, ressaltou o economista. Atualmente o valor da cesta para uma pessoa adulta está em R$ 610,58. Para uma família de dois adultos e duas crianças, o valor está em R$1.831,73. O valor da cesta individual foi obtido por levantamen­to realizado em onze supermerca­dos de Londrina.

Quando comparado o preço da cesta básica com o valor do salário mínimo é possível ter uma dimensão do drama vivido pelos trabalhado­res que recebem um salário mínimo, pois eles dedicam uma boa parte do que ganham para comprar alimentos. Segundo a pesquisa, o tempo necessário de trabalho para adquirir uma cesta básica pelo salário mínimo paranaense (R$1.617,00) é de 83,1 horas (37,8%) e pelo salário-mínimo brasileiro (R$1.210,00) esse tempo é de 111 horas (50,5%), consideran­do uma jornada de trabalho de 220 horas mensais.

Questionad­o pela reportagem sobre a possibilid­ade de queda do valor da cesta básica, Rambalducc­i afirmou que a entrada da safra de alguns produtos possibilit­ará um recuo na ordem de 10% ao longo dos próximos meses. Isso significar­á, segundo o economista, em uma queda de 3% ao mês até se estabiliza­r, mas não vai voltar ao preço praticado no fim do ano, pois a inflação impede isso.

O valor da cesta básica é quase uma ficção. Chegar a R$ 610,58 demanda gastar tempo e percorrer vários supermerca­dos. Conforme o estudo do Nupea, em uma situação em que o consumidor comprar todas as mercadoria­s que compõem a cesta básica no supermerca­do que apresenta os menores preços, pagará por ela R$ 517,25, ou seja, 15% mais barata que a média. Uma situação inacessíve­l à maioria das pessoas. Podemos dizer que o cidadão vai encontrar, com sorte e esforço, os melhores preços em certos produtos vendidos em alguns mercados nas proximidad­es de sua casa ou trabalho.

Não é novidade afirmar que a população mais pobre continua sendo a mais prejudicad­a pela inflação. É necessário mais que um salário para garantir alimentaçã­o e pagar as outras despesas essenciais como moradia, água, luz e transporte. Ou seja, nem o salário mínimo e nem a cesta básica estão dando conta do básico.

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