Folha de Londrina

Cinemas pós-pandemia: os caçadores do público perdido

- Carlos Eduardo Lourenço Jorge Especial para a FOLHA

Durante o recém-encerrado 75º Festival de Cinema de Cannes, numa iniciativa organizada pela entidade francesa Centro Nacional do Cinema e da Imagem Animada (CNC), profission­ais do cinema, principalm­ente o independen­te, mostraram

preocupaçã­o, acima do número de peliculas a serem produzidas, com a preservaçã­o da diversidad­e criativa diante dos atuais problemas de distribuiç­ão. O público do cinema vem sendo recuperado a partir de 2021 em todo o mundo, mas obviamente não na extensão tão animadora dos números de 2019, abruptamen­te interrompi­da.

Segundo a assessoria de imprensa do CNC, em alguns países, como a Coréia do Sul, a produção caíu mais de 60%.

De acordo com a Unifrance Films, enquanto as comédias francesas e os filmes familiares estão voltando a fazer sucesso nos cinemas estrangeir­os, os filmes de arte e os festivais lutam para reencontra­r seu público, especialme­nte entre os espectador­es mais velhos. Os vendedores voltaram aos mercados, mas os valores negociados se mostram longe de voltar ao patamar pré-crise. E as vendas para plataforma­s (leia-se stremears) não estão compensand­o a queda no faturament­o. “Nosso negócio é mais arriscado, nossas receitas estão caindo e estã inflação de agora será um problema

adicional”, resume Nicolas Brigaud-Robert, CEO da Playtime, empresa que, no entanto, teve um bom 2021.

Segundo Daniela Esner, CEO da Unifrance, a adaptação a essa nova situação também passa pelos cinemas: “Pela primeira vez, ouço gestores de multiplexe­s, como os franceses Odéon Cinéma, falando sobre a importânci­a da diversidad­e do cinema para sua programaçã­o. Ir ao cinema pode voltar a ser uma experiênci­a simples e gratifican­te.”

No Reino Unido, o British Film Institute oferece ingressos ao custo de 3 libras (R$18,00) para menores de 26 anos, e os passes mensais que fazem tanto sucesso na França podem ser desenvolvi­dos em muitos países.

No que diz respeito ao webcasting (a transmissã­o de conteúdo via internet, ao vivo ou sob demanda, ideal para levar uma determinad­a mensagem a um grande publico ), o desenvolvi­mento de miniplataf­ormas especializ­adas em cinema de arte como o Modern Films na Inglaterra ou MyMovies na Itália também é uma oportunida­de. Eve Gabereau, fundadora da Modern Films, aproveita a audiência online adquirida durante os confinamen­tos, por meio de operações de marketing, entrevista­s com diretores e editoriali­zação de seu conteúdo.

Gianluca Guzzo, da italiana MyMovies, tem o mesmo ponto de vista: “Precisamos fidelizar nosso público e oferecer a eles a chance de sair e ver filmes no cinema. Temos cerca de 500 mil visitas diárias ao nosso site : convencer apenas 1% deles a ir ao cinema já é uma conquista.”

Parcerias com festivais de cinema de autor ao redor do mundo, cuidando para limitar o número de espectador­es online, é outra diversific­ação experiment­ada no MyMovies.

PÚBLICO JOVEM

Para a americana Joana Vicente, do Sundance Institute, esta nova paisagem continua a ser uma oportunida­de: “A migração forçada do Sundance Film Festival para o digital nos últimos dois anos de crise nos permitiu recomeçar presencial­mente utilizando parte da nossa oferta online: isto abre para um público mais diversific­ado e jovem.”

A preservaçã­o da diversidad­e criativa (ou seja, uma grande quantidade de filmes produzidos para cinemas) é uma questão de curto prazo para produtores independen­tes: a queda no financiame­nto de vendedores internacio­nais e distribuid­ores nacionais está enfraquece­ndo os produtores de filmes. Mas só veremos as consequênc­ias daqui a alguns anos.

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