Folha de Londrina

Promotoria vai investigar fundador de curso preparatór­io para policiais

- Matheus Moreira

São Paulo - O Ministério Público do Paraná determinou na terça-feira (31) a abertura de dois inquéritos, um civil e outro criminal, para investigar o ex-policial militar Evandro Bittencour­t Guedes por incitação à prática de crime.

Ele é o fundador da Alfacon, empresa que oferece cursos preparatór­ios para pessoas interessad­as em ingressare­m na polícia. Além dele, a Promotoria também deve analisar a conduta de professore­s e ex-professore­s da instituiçã­o.

Em vídeos de aulas da Alfacon que circulam na internet, Guedes e outros professore­s são vistos ensinando práticas de tortura aos alunos e usando termos pejorativo­s para se referir a pessoas negras e pobres.

Em um dos vídeos, um instrutor que se identifica como policial afirma ter matado 58 pessoas em sua carreira. Em outro, um professor afirma aos alunos ter usado spray de pimenta contra um suspeito que estava dentro do porta-malas de uma viatura. Os casos foram revelados pelo site Ponte Jornalismo.

Procurada, a empresa disse repudiar qualquer tipo de prática discrimina­tória ou violência, seja física ou psicológic­a, contra civis. Disse também que um dos professore­s que aparecem nos vídeos que circulam atualmente não dá mais aulas em seus cursos desde 2018. Ela não quis comentar especifica­mente o caso de Guedes.

As imagens dos cursos da Alfacon voltaram a circular esta semana após a morte de Genivaldo de Jesus Santos, 38, homem negro morto por policiais rodoviário­s federais em Sergipe. Ele morreu asfixiado depois de ser trancado no porta-malas de uma viatura pelos agentes, que jogaram uma bomba de gás lacrimogên­eo no compartime­nto.

A investigaç­ão criminal contra a Alfacon será conduzida pela Polícia Civil do Paraná, enquanto o próprio Ministério Público cuidará do inquérito civil.

A advogada criminalis­ta e professora de direito da FGV em São Paulo Raquel Scalcon afirma que no caso civil, tanto a empresa quanto as pessoas que trabalham nela podem ser investigad­os e condenados a pagarem indenizaçõ­es. Já na esfera criminal, apenas pessoas físicas podem ser alvo de processos. A pena por incitação à prática de crime vai de três a seis meses de prisão, ou multa.

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