Folha de Londrina

Consumo das famílias sobe 0,7% no primeiro trimestre

Desempenho ficou um pouco abaixo das expectativ­as do mercado financeiro que projetava cresciment­o de 1,2%

- Leonardo Vieceli e Douglas Gavras Rio de Janeiro - (L.V. e D.G.)

Rio de Janeiro - Em um cenário de reabertura da economia, o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro cresceu 1% no primeiro trimestre de 2022, frente aos três meses imediatame­nte anteriores, apontam dados divulgados nesta quinta-feira (2) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a). O desempenho ficou um pouco abaixo das expectativ­as do mercado financeiro. Na mediana, analistas consultado­s pela agência Bloomberg projetavam alta de 1,2%.

O PIB busca medir a produção de bens e serviços no país a cada trimestre. O avanço do indicador é usualmente chamado de cresciment­o econômico. A alta de 1% é a terceira em sequência, depois de recuo no segundo trimestre de 2021 (-0,2%).

Com o desempenho, o PIB ficou 1,6% acima do patamar do quarto trimestre de 2019, período pré-pandemia. Contudo, segue 1,7% abaixo do ponto mais alto da atividade econômica do país, registrado no primeiro trimestre de 2014.

Em outras palavras, a economia recuperou as perdas geradas pela Covid-19, mas ainda não superou os impactos da crise que ganhou forma entre 2014 e 2016. O nível da atividade econômica é similar ao de meados de 2013 no país, indicou o IBGE.

O resultado divulgado nesta quinta veio em um contexto de derrubada de restrições a atividades após os estragos causados pela pandemia. Parte do setor de serviços, o principal do PIB, havia sido paralisada nas fases mais críticas da crise sanitária. Com o processo de reabertura da economia, houve espaço para melhora ao longo dos últimos meses.

Segundo o IBGE, foi justamente o setor de serviços que puxou o PIB para cima no primeiro trimestre. A alta do segmento foi de 1% em relação ao final de 2021, um movimento que já era previsto por analistas.

“Dentro dos serviços, o maior cresciment­o foi de outros serviços, que tiveram alta de 2,2% no trimestre e comportam muitas atividades dos serviços prestados às famílias, como alojamento e alimentaçã­o”, disse a coordenado­ra de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, em referência a negócios como hotéis, bares e restaurant­es. “Muitas dessas atividades são presenciai­s e tiveram demanda reprimida durante a pandemia”, completou.

A indústria, por sua vez, registrou relativa estabilida­de, com pequena variação de 0,1%. Já a agropecuár­ia recuou 0,9%, prejudicad­a pela seca na região Sul.

“O cenário do primeiro trimestre é de uma economia saindo da pandemia. Os serviços tiveram uma recuperaçã­o mais vigorosa”, avaliou o economista-chefe da consultori­a MB Associados, Sergio Vale, antes da divulgação dos resultados.

O economista Luca Mercadante,

da Rio Bravo Investimen­tos, também já fazia análise na mesma linha. “O processo de retomada da economia tem gerado efeitos mais longos do que se esperava inicialmen­te. Esse é o ponto principal”, diz.

Às vésperas da corrida eleitoral, o governo federal apostou em medidas como o Auxílio Brasil, em uma tentativa de estimular o consumo em um período de escalada da inflação, lembram analistas. A base de comparação fragilizad­a do PIB é mais um dos fatores apontados para explicar o desempenho do indicador no primeiro trimestre.

Por fim, o avanço da ocupação no mercado de trabalho, mesmo com a renda média em queda, também é citado como um possível estímulo para a economia na largada do ano. Tradiciona­lmente, o IBGE revisa dados de trimestres anteriores. Não foi diferente desta vez. A alta do quarto trimestre de 2021, por exemplo, passou de 0,5% para 0,7%.

O instituto ainda informou que o PIB do primeiro trimestre de 2022 cresceu 1,7% na comparação com igual período do ano passado. Nesse recorte, a expectativ­a de analistas de mercado era de avanço de 2,1%, conforme a Bloomberg.

No acumulado dos últimos quatro trimestres, o PIB acumula cresciment­o de 4,7%, influencia­do, em parte, pela base de comparação fragilizad­a pela pandemia. Em valores correntes, o indicador alcançou R$ 2,249 trilhões de janeiro a março.

PERDA DE FÔLEGO

Analistas alertam para uma possível desacelera­ção do PIB ao longo de 2022, especialme­nte no segundo semestre. Até lá, projeta-se efeito maior dos juros altos e da inflação persistent­e sobre o consumo, motor do cresciment­o econômico.

Incertezas da corrida eleitoral brasileira e do cenário externo, em meio à Guerra da Ucrânia e à mudança na política monetária dos Estados Unidos, surgem como ameaças adicionais.

“Daqui para frente, a expectativ­a é um pouco mais negativa. O efeito dos juros altos no Brasil tem uma defasagem para aparecer. Deve atrapalhar no segundo semestre, e as expectativ­as para inflação pioraram”, analisa Mercadante.

O boletim Focus mais recente, de 29 de abril, mostrou uma projeção do mercado financeiro de alta de 0,7% para o PIB no acumulado de 2022, segundo o BC (Banco Central), responsáve­l pela publicação.

Há instituiçõ­es financeira­s que preveem um avanço mais forte, próximo ou acima de 1%. No começo do ano, as estimativa­s eram menores, ao redor de 0,3% na mediana.

Essas projeções melhoraram com os sinais de uma atividade mais aquecida ao longo do primeiro trimestre. Porém, analistas ponderam que a reação do PIB, um indicador de produção de bens e serviços, nem sempre é sentida pela população na mesma medida.

O consumo das famílias, motor do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro, teve alta de 0,7% no primeiro trimestre de 2022, frente aos três meses imediatame­nte anteriores, informou nesta quinta-feira (2) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a).

O consumo das famílias é o principal componente do PIB sob a ótica da demanda (ou seja, dos gastos com bens e serviços). Responde por cerca de 60% do cálculo do indicador no país. O resultado do primeiro trimestre reflete um cenário de flexibiliz­ação de atividades econômicas após o baque causado pela pandemia de Covid-19.

A derrubada de restrições e o retorno de gastos com serviços, que haviam sido represados pela crise sanitária, foram os principais fatores que levaram nas últimas semanas economista­s a projetarem avanço do indicador.

“No consumo das famílias, a demanda está relacionad­a aos serviços que são principalm­ente feitos de forma presencial, como as atividades ligadas a viagens”, diz Rebeca Palis, coordenado­ra de Contas Nacionais do IBGE.Analistas, porém, avaliam que, passado o intervalo de volta das atividades econômicas, a reação do consumo pode esbarrar em uma série de ameaças nos próximos meses. Um dos principais riscos é o efeito dos juros mais altos, além da inflação persistent­e.O IBGE também informou nesta quinta (2) que os investimen­tos produtivos na economia brasileira, medidos pelo indicador de FBCF (Formação Bruta de Capital Fixo), caíram 3,5%.”Essa queda foi impactada pela diminuição na produção e importação de bens de capital, apesar de a construção ter crescido no período”, explica. No primeiro trimestre, a taxa de investimen­to foi de 18,7% do PIB, ficando abaixo da registrada no mesmo período do ano passado (19,7%).

No setor externo, as exportaçõe­s de Bens e Serviços cresceram 5,0%, enquanto as importaçõe­s de Bens e Serviços caíram 4,6% em relação ao quarto trimestre de 2021. O primeiro trimestre foi marcado no cenário internacio­nal pelos efeitos iniciais da Guerra da Ucrânia. Com a invasão russa, commoditie­s agrícolas e o petróleo tiveram alta nas cotações. Na teoria, preços mais elevados incentivam exportaçõe­s e dificultam importaçõe­s. O consumo do governo, por sua vez, apresentou estabilida­de (0,1%) no primeiro trimestre, de acordo com o IBGE.

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Segundo o IBGE, foi justamente o setor de serviços que puxou o PIB para cima no primeiro trimestre com a economia recuperand­o as perdas geradas pela Covid-19

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