Folha de Londrina

Xangai bane uso do termo lockdown na mídia após fim de lockdown

A megacidade de 25 milhões de habitantes confinou a maior parte da população em março para conter um surto local de coronavíru­s

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São Paulo - Autoridade­s da China instruíram profission­ais da mídia a não usarem o termo “encerramen­to do lockdown” para descrever a reabertura da cidade de Xangai, no extremo leste do país, que deixou na última quarta-feira (1º) um rígido bloqueio de dois meses para conter a disseminaç­ão da Covid.

A informação foi compartilh­ada pelo China Digital Times, site bilíngue voltado para o país asiático e baseado na Califórnia, nos EUA. A orientação das autoridade­s foi vazada por jornalista­s.

De acordo com os trechos disponibil­izados, o argumento é o de que, diferentem­ente de Wuhan – considerad­a o berço da pandemia –, em Xangai “nunca foi declarado lockdown”. “Todas as partes da cidade passaram por bloqueios, mas as principais funções de Xangai seguiram operando nesse período.”

A megacidade de 25 milhões de habitantes confinou a maior parte da população em março para conter um surto local de coronavíru­s. Nos dois meses que se seguiram, inúmeros relatos de descontent­amento popular, alguns relacionad­os a desabastec­imento de alimentos, foram publicados nas redes sociais.

Xangai afrouxou nesta semana a maior parte das restrições para 22,5 milhões de pessoas que vivem em áreas considerad­as de baixo risco. A máscara segue um item obrigatóri­o, e testes negativos são exigidos para o uso do transporte público, mas a circulação nas ruas e o trabalho presencial foram retomados.

“Enfatize que essas medidas foram temporária­s e limitadas”, segue a orientação à imprensa. O texto ainda destaca que mensagem deve ser passada sobre a reabertura: “Não significa que todas as pessoas em todos os distritos da cidade poderão sair livremente de uma só vez nem que o relaxament­o seja uniforme.”

O China Digital Times explica que as diretrizes muitas vezes são transmitid­as oralmente, de modo que o texto vazado pode não correspond­er exatamente ao que foi dito. Tampouco é possível identifica­r se as ordens vieram de autoridade­s nacionais do regime comunista chinês ou da administra­ção regional.

Mesmo após a derrubada das principais restrições, seguiram os relatos de moradores confinados – ou dos que saíram do confinamen­to e, pouco depois, retornaram. É o caso do produtor de vídeo Thomas Yau, que trabalha para o jornal South China Morning Post. “Meu bairro está sob lockdown novamente devido a um caso positivo; é isso que eles queriam dizer com reabertura”, escreveu ele em uma rede social.

No distrito central de Jing’an, policiais trancaram com correntes o portão de um conjunto habitacion­al, e moradores discutiram com funcionári­os públicos, segundo um jornalista da agência de notícias AFP no local. A prefeitura informou que mais de 500 mil pessoas ainda estão sujeitas a restrições.

Há também pouca confiança entre a população de que a situação vá permanecer estável. Nesta quinta (2), Xangai voltou a registrar casos de infecção comunitári­a por coronavíru­s pela primeira vez em três dias. Dos sete casos, três apresentar­am sintomas, informaram as autoridade­s locais numa entrevista coletiva.

“Xangai entrou em uma nova fase, na qual o foco é restaurar a vida e os negócios, mas nós seguimos enfrentand­o riscos de ressurgime­nto de casos”, disse Wu Jinglei, comissário de saúde da cidade. “Devemos aderir inquestion­avelmente à política de zero Covid na tentativa de eliminar o vírus.”

Desde o início da pandemia, a China adotou a estratégia de eliminar por completo a disseminaç­ão da Covid.

A OMS (Organizaçã­o Mundial da Saúde) já chegou a criticar a estratégia, que descreveu como insustentá­vel, já que vai na contramão das caracterís­ticas atuais da evolução do vírus.

Pressionad­a economicam­ente, Pequim chegou a afrouxar a política, mas nunca a abandonou. Cerca de 87% da população chinesa completou o primeiro ciclo vacinal, e 54% receberam a dose de reforço do imunizante, segundo dados compilados pela plataforma Our World in Data, da Universida­de Oxford.

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Hector Retamal/AFP Xangai afrouxou nesta semana a maior parte das restrições para 22,5 milhões de pessoas que vivem em áreas considerad­as de baixo risco

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