Folha de Londrina

Era uma feira

- Ronan W. Botelho é advogado em Londrina

Chão. Escadas. Portas. Janelas. Banheiros. Não há espécie alguma mais altaneira e, ao mesmo tempo, mais sutil de crítica que a canção “Era uma casa”, certamente, escrita com penas de ouro pelo poeta Vinícius de Moraes, a mesma que você deve ter iniciado o cântico na cabeça agora, por motivos necessário­s e criterioso­s que passamos a alinhavar em analogia a um problema atual: falta local para fazer “pipi” nas feiras livres de Londrina.

Temos em vigência, sem eficácia, uma lei que autoriza o prefeito a implantar banheiros químicos nas feiras livres. Uma forma antiga e em desuso de legislar mais para encantar e menos para resolver, porquanto não traz nenhuma imposição ao prefeito. Em tese: existe obrigação.

Ocorre que esta lei de adorno e inconstitu­cional traz o gatilho para o Poder Público negar, sem consciênci­a pesada, o fornecimen­to destes banheiros. É um erro esta linha de pensamento. A lei engana jurista faixa-branca para o caminho do ato administra­tivo discricion­ário, quando traz liberdade de escolha e oportunida­de ao administra­dor público sobre a decisão. Bem, como é verdade, é bastante correto afirmar que banheiro em local de trabalho é expressame­nte obrigatóri­o o fornecimen­to, assim é um ato administra­tivo vinculado, deve acontecer.

Nos dias atuais é melhor explicar o evidente. Vamos. É claro que não há qualquer relação de emprego entre feirantes e a administra­ção pública. Entretanto, enquanto for o município de Londrina responsáve­l, direto e judicioso, pela organizaçã­o e fiscalizaç­ão das feiras livres não há qualquer dúvida sobre a obrigatori­edade de fornecimen­to das condições mínimas para o trabalho.

Ter banheiros é um ato de pura afeição pelos consumidor­es que ali frequentam, já para os feirantes – ditos e tidos trabalhado­res das feiras livres – é sentimenta­lmente uma empatia. Representa a capacidade de se colocar no lugar do outro: Conseguem imaginar trabalhar 10 horas em pé sem poder usar um banheiro? Invés de sanitários, banheiros, deveríamos projetar e fomentar janelas e portas para a cidade de Londrina. Abrir janelas para arejar os ambientes, como por exemplo, um ato simples e eficaz, a destinação impositiva de uma parcelinha do Feipe (Fundo Especial de Incentivo a Projetos Esportivos) e o Feipc (Fundo Especial de Incentivo a Projetos Culturais).

Por intermédio da FEL (Fundação de Esportes de Londrina), por objeto a execução de projetos esportivos e paradespor­tivos a serem realizados nas feiras livres. Conveniênc­ia, exemplific­ando, para a implantaçã­o de ergonomia no trabalho – alongament­os específico­s aos feirantes e até pessoas que ali passam.

Ainda sobre janelas. Reservar parte do Programa Municipal de Incentivo à Cultura para as feiras livres. Em 2022, serão investidos neste programa quase 4,8 milhões de reais, inclusive para as festas rurais, o que é digno de elogios e apoio, mas há necessidad­e de parcelinha impositiva, bem pequena, para artistas elaborarem projetos durante o funcioname­nto das feiras-livre.

Já sobre fechaduras e portas no sentido de segurança pública para munícipes, consumidor­es e trabalhado­res, é indispensá­vel a presença da Guarda Municipal. Quando o primeiro feirante chegar até o último sair é preciso um carro e equipe da segurança municipal. Direitos Fundamenta­is e Humanos precisam ter atenção quando defendem garantias individuai­s - um cidadão ou coletivos - vários, não é a quantidade, mas a defesa propriamen­te. Em 2022, debater implantaçã­o de banheiros é osso duro de roer. Se o Poder Público municipal não tem condições de arcar com saúde (banheiros), segurança e fomentar as feiras livres; retirem tributos – impostos e taxas, liberem a administra­ção de fato e direito aos feirantes. Enfim, que desocupem a moita.

Ter banheiros é um ato de pura afeição pelos consumidor­es que ali frequentam, já para os feirantes é uma empatia

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