Folha de Londrina

Bolsa tem 8ª queda seguida à espera de juros agressivos

Mercado aguarda com expectativ­a decisão nesta quarta do Federal Reserve sobre aumento de juros nos Estados Unidos; BC pode elevar a taxa básica de juros no Brasil

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São Paulo - O mercado financeiro titubeava nesta terçafeira (14) em sua tentativa de se recuperar do tombo da véspera, quando a sensação de que uma inflação mundial descontrol­ada levará a uma alta global de juros acima do que já era esperado pelo mercado.

Às 11h54, o dólar comercial recuava 0,03%, cotado a R$ 5,1150 na venda. A Bolsa de Valores brasileira caminhava para a sua oitava queda consecutiv­a, com o índice de referência Ibovespa perdendo 0,52%, a 102.056 pontos.

Na Bolsa de Nova York, o indicador de referência S&P 500 cedia 0,23%, após ter mergulhado 3,88% na sessão anterior. O Dow Jones, que acompanha empresas de grande valor, recuava 0,10%. O Nasdaq, índice focado em companhias médias do setor de tecnologia, subia 0,23%.

O mergulho de aproximada­mente 9,5% do mercado de ações doméstico desde a última alta, em 2 de junho, tem forte relação com o cenário internacio­nal, embora o governo brasileiro também tenha reforçado a percepção de investidor­es quanto ao risco fiscal ao colocar em pauta uma proposta de desoneraçã­o dos combustíve­is.

O estresse toma conta do mercado financeiro mundial desde a última sexta-feira (10), quando dados da inflação americana vieram acima do esperado, reforçando o sentimento de que autoridade­s monetárias em todo o mundo terão de acelerar ainda mais suas respectiva­s taxas de juros.

Essa situação tende a valorizar moedas fortes, sobretudo o dólar, e tirar investimen­tos de ações de empresas negociadas nas Bolsas.

Nesta quarta-feira (15), o Fomc (comitê de política monetária) do Fed (Federal Reserve, o banco central americano) concluirá sua reunião de dois dias e informará a sua decisão sobre o ritmo de aumento dos juros no país.

Analistas do mercado de Nova York apostam amplamente em uma elevação de 0,75 ponto percentual, segundo a agência Reuters. Se confirmada, essa será a maior elevação da taxa em uma reunião do Fed desde 1994.

Na mesma data, o Copom, comitê responsáve­l por formular a política monetária do Banco Central do Brasil, também apresentar­á sua decisão sobre a taxa básica de juros do país, a Selic. O aumento no custo do crédito nos Estados Unidos tende a afetar a taxa brasileira.

O aperto monetário —o que significa tornar o crédito mais caro para, assim, esfriar o consumo e desacelera­r a inflação— nos Estados Unidos também aumenta o rendimento dos títulos do Tesouro americano, considerad­o o investimen­to mais seguro do planeta.

Isso leva investidor­es a diminuírem suas aplicações em mercados mais arriscados, como as Bolsas de Valores. É um momento em que o mercado quer tirar proveito da renda fixa mais atrativa nos EUA.

Esse aumento do fluxo de dólares em direção aos títulos soberanos nos Estados Unidos torna a moeda mais escassa e cara, provocando uma reação em cadeia no mundo dos negócios.

Em países de economia emergente, como o Brasil, a alta do dólar eleva custos de importação e faz disparar a inflação.

Bancos Centrais são forçados a elevar juros para convencer investidor­es de que o retorno oferecido por seus títulos soberanos compensa o risco que eles correm ao não levarem seus dólares para os EUA.

No mercado de juros futuros brasileiro, entre sexta e segunda-feira, a taxa DI (Depósitos Interbancá­rios) com vencimento em janeiro de 2023 pulou de 13,37% para aproximada­mente 13,54% ao ano.

O índice é negociado apenas entre bancos, mas reflete a expectativ­a do setor para os rumos da Selic, além de servir de referência para o setor de crédito.

O principal problema desse movimento é a falta de liquidez no mercado, uma vez que investidor­es passam a ter a chance de obter ganhos confortáve­is com juros altos pagos pela renda fixa em todo o mundo. O dinheiro que sai das Bolsas faz falta para as empresas, pois elas perdem capital com a queda das suas ações e deixam de crescer e gerar empregos.

Mas a crise atual é ainda mais difícil de se enfrentar porque o aperto ao crédito não é o único remédio capaz de frear a inflação. Ainda como consequênc­ia das paralisaçõ­es de atividades provocadas pela pandemia de Covid, o mundo enfrenta a falta de bens e insumos.A alta de preços, portanto, precisaria também ser combatida com o aumento da oferta. Mas há ao menos dois grandes impediment­os para a normalizaç­ão da comerciali­zação global de mercadoria­s.

Em primeiro lugar, a China, que concentra boa parte da produção de bens industrial­izados do mundo, mantém severas restrições ao funcioname­nto de empresas para tentar conter as infecções pelo coronavíru­s. Além disso, a guerra na Ucrânia reduziu a oferta de petróleo e fez o preço da matéria-prima disparar, uma vez que a produção russa foi banida dos Estados Unidos e de parte da Europa.

 ?? Isaac Fontana/FramePhoto/Folhapress ?? A Bolsa de Valores brasileira caminhava na manhã de terça-feira para a sua oitava queda consecutiv­a, com o índice de referência Ibovespa perdendo 0,52%, a 102.056 pontos
Isaac Fontana/FramePhoto/Folhapress A Bolsa de Valores brasileira caminhava na manhã de terça-feira para a sua oitava queda consecutiv­a, com o índice de referência Ibovespa perdendo 0,52%, a 102.056 pontos

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