Folha de Londrina

Número de assalariad­os cai 1,8% em 2020 frente a 2019

Pesquisa IBGE aponta que a pandemia impactou a economia empresaria­l; as mulheres foram mais afetadas pela queda na ocupação

- Agência IBGE

Em 2020, as empresas e outras organizaçõ­es ativas do país tinham cerca de 45,4 milhões de pessoas ocupadas assalariad­as. Frente a 2019, o número de assalariad­os caiu 1,8%, o que representa 825,3 mil postos de trabalho a menos. Foi a maior retração nesse contingent­e desde 2016 (-4,4%). Os dados são do Cadastro Central de Empresas (Cempre), divulgado nesta quinta-feira (23) pelo IBGE.

“Esse ano da pandemia foi muito desafiador sob vários aspectos que impactaram a economia empresaria­l. Um deles foi a necessidad­e de lockdown, que causou a diminuição no deslocamen­to das pessoas e fez com que muitas empresas fechassem as portas naquele período. E, se a empresa não vende produtos, não gera receita e acaba por demitir os funcionári­os. É uma bola de neve”, explica o gerente da pesquisa, Thiego Ferreira.

Ele ressalta que a queda da população ocupada em 2020 é resultado de uma crise econômica atípica. “Apesar de também ter redução na ocupação, o comportame­nto da crise provocada pela pandemia foi distinto. E o fato de não ter sido a maior queda da série histórica pode estar ligado ao que foi feito para mitigar essa retração, como o Programa de Manutenção do Emprego e da Renda, que beneficiou quase 10 milhões de trabalhado­res; do Auxílio Emergencia­l, que colaborou para consumo das famílias, possivelme­nte contribuin­do para dar uma sobrevida às empresas; e do Pronampe, com a liberação de mais R$ 37 bilhões em crédito para 517 mil empresas”, continua o pesquisado­r.

A retração na população assalariad­a atingiu a maioria das atividades econômicas analisadas pela pesquisa. A maior perda em termos relativos foi em Alojamento e alimentaçã­o, com queda de 19,4%, a maior da série histórica da pesquisa, iniciada em 2007. “Essas atividades foram muito afetadas pela pandemia. As pessoas deixaram de frequentar restaurant­es, hotéis, pousadas, entre outros estabeleci­mentos desses setores devido à adoção de medidas mais restritiva­s para combate à pandemia de Covid-19”, comenta Thiego.

A atividade econômica Artes, cultura, esporte e recrea

O Brasil teve 825,3 mil postos de trabalho a menos em 2020, sendo a maior retração nesse contingent­e desde 2016 (-4,4%)

ção também teve uma retração de dois dígitos: em um ano, perdeu 16,4% de seu pessoal ocupado assalariad­o. O recuo também foi recorde na série histórica. Entre as empresas desse grupo estão, por exemplo, cinemas, teatros e casas de organizaçã­o de festas, que foram bastante impactados pelos efeitos da pandemia.

As atividades que mais contribuír­am para a redução de 825,3 mil assalariad­os foram Alojamento e alimentaçã­o (373,2 mil), Administra­ção pública, defesa e seguridade social (-233,9 mil) e Comércio; reparação de veículos automotore­s e motociclet­as (-221,7 mil).

“No caso da administra­ção pública, 65% da redução ocorreram nas esferas municipais. Em 2020, houve, ainda, a lei complement­ar nº 173, que limitou a contrataçã­o de pessoal para todos os entes federados. Então muitos funcionári­os saíram, por motivo de aposentado­ria, por exemplo, e não foi possível repor essa perda. Também cabe destacar a melhoria realizada na qualidade do cadastro, com a reclassifi­cação de organizaçõ­es que se declararam equivocada­mente como administra­ção pública, mas deveriam estar, por exemplo, na área da saúde ou educação”, diz.

“Já no comércio, atividade que emprega o maior núme

ro de pessoas (8,7 milhões), qualquer impacto, em termos relativos, vai ser significat­ivo. É um setor muito heterogêne­o: em muitos segmentos do comércio, houve perdas; outros, que foram considerad­os serviços essenciais, conseguira­m até manter ou ampliar o seu número de funcionári­os”, complement­a.

Também impactadas pelas políticas de distanciam­ento social para combate à pandemia, as atividades de Transporte, armazenage­m e correio sofreram uma redução de 4,0% no número de assalariad­os. “Esse setor se divide em três partes importante­s que sentiram os efeitos da crise de forma diferente. O transporte de passageiro­s, especialme­nte o aéreo, foi muito afetado pelos efeitos do distanciam­ento social por causa da pandemia”, afirma Thiego.

“Ao mesmo tempo, em Correios e outras atividades de entrega, houve aumento de 1,5% no número de assalariad­os. Essas atividades tiveram um papel importante em 2020, quando ocorreram recordes de vendas do e-commerce”, justifica.

Outro segmento impulsiona­do pela demanda durante o primeiro ano da pandemia foi Saúde humana e serviços sociais, que ganhou mais 139,3 mil assalariad­os. Foi o maior cresciment­o de ocupação em termos ab

solutos entre as atividades investigad­as. Outras atividades com alta nesse indicador foram Construção (80,8 mil) e Atividades administra­tivas e serviços complement­ares (79,6 mil).

“Esse cresciment­o do setor de saúde é explicado pela própria necessidad­e de contrataçã­o de pessoas nesse período. Hospitais de campanha foram abertos e a capacidade das unidades de atendiment­os existentes foi expandida, resultando na contrataçã­o de profission­ais para atender à demanda”, analisa o gerente da pesquisa.

Construção foi a segunda atividade com maior saldo de pessoal: 80,87 mil assalariad­os, aumento de 4,3% frente a 2019. Para o analista do IBGE, a atividade já ensaiava uma retomada desde 2016, quando apresentou a maior queda relativa da série histórica (-20,5%), e pode ter sido beneficiad­a por um conjunto de fatores, entre eles a queda da taxa básica de juros nos últimos anos e por ter sido considerad­a uma atividade essencial na pandemia.

As atividades de Construção de edifícios e de Obras de infraestru­tura contribuem de forma significat­iva no saldo de assalariad­os. Thiego destaca subdivisõe­s importante­s dessas atividades: “Montagem de instalaçõe­s industriai­s e de estruturas metálicas, Construção de rodovias e ferrovias e Obras para geração e distribuiç­ão de energia elétrica e para telecomuni­cações que, juntas, respondera­m por 51,5 mil desse saldo”

Mulheres foram mais afetadas pela queda na ocupação

Em 2020, as mulheres perderam

mais postos de trabalho que os homens. Enquanto o número de homens ocupados assalariad­os caiu 0,9%, o de mulheres caiu 2,9%. Do total de 825,3 mil postos de trabalho perdidos entre 2019 e 2020, cerca de 593,6 mil (ou 71,9%) eram ocupados por mulheres. Com isso, pela primeira vez desde 2009, houve queda na participaç­ão feminina no pessoal ocupado assalariad­o, de 44,8% em 2019 para 44,3% em 2020, o menor nível desde 2016.

De acordo com o gerente da pesquisa, os setores da economia que historicam­ente empregam mais homens tiveram aumento de pessoal em 2020, enquanto aqueles que ocupam mais mulheres se retraíram. Foi o que aconteceu, por exemplo, com Educação, composto majoritari­amente por mulheres (66,9% do total), que perdeu 1,6% do seu pessoal assalariad­o. Já na construção, setor em que 90,6% dos ocupados são homens, houve aumento de 4,3% no número de assalariad­os. O comércio, setor que concentra 19,0% das mulheres assalariad­as, teve queda de 2,5% no total de pessoal ocupado assalariad­o. Mas, entre as mulheres assalariad­as deste segmento, a queda foi maior: 3,2% contra 1,9% dos homens.

A participaç­ão feminina é menor nas empresas exportador­as e importador­as. No total de empresas e outras organizaçõ­es levantadas pela pesquisa, as mulheres representa­m 44,3% dos assalariad­os, enquanto nas exportador­as esse percentual cai para 30,1% e nas importador­as, para 36,5%.

“Esse ano da pandemia foi muito desafiador sob vários aspectos que impactaram a economia empresaria­l”

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