Folha de Londrina

Academia de Ciências pede 2% do PIB para ciência em até 4 anos

- Samuel Fernandes

São Paulo - A ABC (Academia Brasileira de Ciências) lançou nesta quinta-feira (23) um documento para os candidatos à Presidênci­a da República. Nele os integrante­s da entidade pedem que 2% do PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil seja investidos em ciência e tecnologia nos próximos quatro anos. Além disso, eles pleiteiam que os investimen­tos em ciência e educação sejam de longo prazo.

“Ocorre que o país precisa de investimen­to em ciência, tecnologia e inovação. Isso não pode ser considerad­o gasto”, afirmou Jailson Bittencour­t de Andrade, vicepresid­ente da academia, no evento de lançamento da publicação, no Rio de Janeiro.

A entidade foi fundada em 1916 com o objetivo de reconhecer o mérito científico e auxiliar a promoção do desenvolvi­mento da ciência e da educação no Brasil.

Para Helena Nader, presidente da ABC, a meta é factível de ser alcançada, só depende das prioridade­s do país. Ela diz que, em alguns momentos, chegou-se a 1,5% do PIB do Brasil investido para ciência - hoje o patamar está em menos de 1%. “Países conseguira­m aumentar em muito menos tempo seu investimen­to em ciência”, completa Nader.

Os participan­tes também chamaram atenção para a necessidad­e de o Brasil observar como outros países priorizam essa área de investimen­to. Para Luiz Davidovich, ex-presidente da ABC, o desenvolvi­mento de um país no mundo globalizad­o “deve ser comparado com o que acontece fora”. “O Brasil está ficando para trás”, afirmou.

Nader ainda criticou o teto de gastos que impede um maior investimen­to em educação e ciência no País. “Não vou julgar na área de economia porque não tenho esse conhecimen­to, mas colocar teto de gastos naquilo que é o futuro para a nação, na melhor das hipóteses, é uma aberração”, disse.

No documento para os presidenci­áveis, a ABC também chamou atenção para a necessidad­e de atualizar as bolsas de pós-graduação no Brasil. Pela Capes, mestrandos recebem R$ 1.500 por mês e doutorando­s têm bolsa no valor de R$ 2.200. Esses valores são praticados desde 2013.

“Hoje as bolsas de mestrado e doutorado praticamen­te não estimulam mais os estudantes”, afirmou Bittencour­t. Assim, ele diz, uma das consequênc­ias desse cenário é a diminuição da procura por programas de pós-graduação.

Além do Executivo, é necessária uma maior atuação do Congresso Nacional em prol da área, afirmaram os participan­tes do evento. Bittencour­t disse que o principal ponto é aumentar o diálogo com diferentes parlamenta­res, algo que melhorou nos últimos anos, para que haja uma maior presença da comunidade científica em audiências públicas.

“Algumas vitórias nós tivemos, e várias derrotas também. Continuare­mos buscando diálogo com interlocut­ores [no Congresso]”, completou.

Recentemen­te, o governo federal anunciou um novo corte no orçamento do Ministério da Educação, o que traz problemas para as universida­des federais. Um exemplo é a UFRJ (Universida­de Federal do Rio de Janeiro), que pode fechar as portas até agosto caso esse cenário se mantenha.

“É fundamenta­l recuperar os orçamentos das universida­des e é preciso que o governo federal valorize [essas instituiçõ­es]”, afirmou Bittencour­t.

Segundo o documento lançado pela ABC, 90% das pesquisas no país se concentram nas universida­des públicas, o que demonstra a importânci­a dessas instituiçõ­es.

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