Folha de Londrina

Suspeita de interferên­cia de Bolsonaro leva caso Milton Ribeiro ao STF

MPF apontou indício de vazamento da operação policial que prendeu o ex-ministro da Educação e possível interferên­cia ilícita por parte do presidente da república

- Fábio Serapião e José Marques

Brasília - Após suspeitas de interferên­cia do presidente Jair Bolsonaro (PL) nas apurações, o juiz Renato Coelho Borelli enviou os autos das investigaç­ões sobre o exministro Milton Ribeiro e pastores suspeitos de atuarem no Ministério da Educação para análise do STF (Supremo Tribunal Federal). O magistrado, da Justiça Federal do Distrito Federal, deu a decisão após o Ministério Público Federal apontar “indício de vazamento da operação policial e possível interferên­cia ilícita por parte do presidente da República Jair Messias Bolsonaro nas investigaç­ões”.

Em interpreta­ção telefônica que captou conversas do ministro, Ribeiro afirma que “ele acha que vão fazer uma busca e apreensão... em casa... sabe... é... é muito triste”. “Bom! Isso pode acontecer, né? Se houver indícios né...”, afirmou o exministro, segundo as transcriçõ­es. A Folha de S.Paulo apurou que esse “ele” mencionado por Ribeiro como uma possível referência a Bolsonaro.

Nos diálogos intercepta­dos, o ex-ministro afirma que teme a medida. “Eu acho assim, que o assunto dos pastores... é uma coisa que eu tenho receio um pouco é de... o processo... fazer aquele negócio de busca e apreensão, entendeu?”, disse a um interlocut­or.

Além dessa conversa telefônica, outro motivo para a remessa foi a mensagem enviada a colegas pelo delegado federal responsáve­l pelo pedido de prisão de Milton Ribeiro, de que houve “interferên­cia na condução da investigaç­ão”. Bruno Calandrini diz no texto que a investigaç­ão foi “prejudicad­a” em razão de tratamento diferencia­do dado pela polícia ao ex-ministro do governo Jair Bolsonaro.

A Procurador­ia cita que o ex-ministro “não foi conduzido [de São Paulo] ao Distrito Federal (não havendo sido tampouco levado a qualquer unidade penitenciá­ria) para que pudesse ser pessoalmen­te interrogad­o pela autoridade policial que preside o inquérito policial, apesar da farta estrutura disponível à Polícia Federal para a locomoção de presos”.

O juiz Borelli determinou a interrupçã­o de intercepta­ções telefônica­s dos investigad­os e a remessa do processo para o Supremo. Ele solicita que a ministra Cármen Lúcia, que ficou responsáve­l por decisões nas investigaç­ões sobre Milton Ribeiro quando ele era ministro, seja a relatora do caso.

Milton Ribeiro foi preso preventiva­mente na última quarta (22) por decisão de Borelli e solto um dia depois, após determinaç­ão do TRF1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região). Também foram presos, entre outros, os pastores Arilton Moura e Gilmar Santos. Em nota, o advogado do ex-ministro, Daniel Bialski, disse que recebeu com surpresa a decisão da remessa dos autos para o STF. “Observando o áudio citado na decisão, causa espécie que se esteja fazendo menção a gravações/mensagens envolvendo autoridade com foro privilegia­do, ocorridas antes da deflagraçã­o da operação”, afirmou o advogado, em nota.

Ribeiro é investigad­o pelas suspeitas de crimes de corrupção passiva, prevaricaç­ão, advocacia administra­tiva e tráfico de influência.

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Valter Campanato - Agência Brasil Milton Ribeiro é suspeito de crimes de corrupção passiva, prevaricaç­ão, advocacia administra­tiva e tráfico de influência
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