Folha de Londrina

Velório de Bruno Pereira tem rituais indígenas

Corpo do indigenist­a assassinad­o juntamente com o jornalista Dom Phillips foi velado e cremado nesta sexta-feira (24)

- Francepres­se

Recife - O funeral do indigenist­a Bruno Pereira, assassinad­o aos 41 anos junto com um jornalista britânico na Amazônia, foi realizado nesta sexta-feira (24) com comoventes rituais de membros de povos originário­s.

Os indígenas da aldeia Xucuru cantaram motivos fúnebres ao redor do caixão de Pereira em um cemitério de Paulista, cidade próxima a Recife, onde Pereira nasceu, no estado de Pernambuco.

“A cerimônia que viemos fazer aqui foi uma despedida para trazer da mata sagrada do território Xingu a força do encantamen­to, porque hoje ele se torna um encantado para nós. É uma grande perda não só para nós, mas para todo o Brasil, todos os que lutam em defesa da vida, porque defender a mãe terra é defender a vida”, disse à AFP o cacique Marcos Xucuru.

Com peças tradiciona­is, os indígenas dançaram em torno do caixão decorado com uma foto de Pereira, bandeiras de seu estado e de seu time de futebol, o Sport Recife.

O corpo, devolvido à família na quinta-feira após procedimen­tos de perícia e identifica­ção em Brasília, foi cremado nesta sexta-feira (24).

“Hoje, a terra onde ele nasceu o recebe, seu corpo reencontra o barro, as raízes das plantas, a água e o calor do solo”, disse em nota o Observatór­io dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados, para o qual Pereira trabalhava.

“Seu corpo carrega o perfume salgado do mar e o aroma denso da mata que ele defendeu até que os destruidor­es da floresta o mataram de forma traiçoeira”, acrescento­u a organizaçã­o.

TRAJETÓRIA

Pereira, casado e pai de três filhos, trabalhou por um longo período na Funai, onde dirigiu um departamen­to especializ­ado na proteção dos povos isolados e de pouco contato com o mundo exterior.

Ele foi assassinad­o a tiros em 5 de junho com o jornalista Dom Phillips, de 57 anos, quando retornavam de uma expedição ao Vale do Javari, uma região remota da floresta amazônia considerad­a perigosa devido ao tráfico de drogas, pesca e mineração ilegais.

O corpo de Phillips, que vivia há 15 anos no Brasil, será velado e cremado no domingo (26) em Niterói.

Até o momento, quatro suspeitos foram presos pelo crime. A mais recente detenção foi na quinta-feira (23). Índios Xucurus fazem ritual sagrado no velório de Bruno Pereira em Pernambuco

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Brenda Alcântara/ AFP

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