Folha de Londrina

Novo formato precisa de regulament­ação no Brasil

- (J.A.)

tirem para dar suporte necessário para docentes e estudantes, seja de maneira material, quanto de modo a reconhecer atividades que não seguem a forma tradiciona­l de transmissã­o de conteúdo”, afirma.

Os autores alertam: não podemos esperar que a tecnologia democratiz­e o ensino e além disso, é preciso compreende­r que ter computador com conectivid­ade garante um ensino inovador. O relatório aponta para a necessidad­e de valorizar e formar os

professore­s para que eles sejam capazes de projetar espaços e atividades que tragam inovação para suas turmas. “Enquanto o Brasil não tiver uma estratégia nacional de tecnologia educaciona­l - o que inclui protocolos para o uso de ensino híbrido em

situações de emergência não teremos um caminho claro para reduzir a desigualda­de nesta área. Sem uma estratégia nacional, continuare­mos dependente­s de grandes conglomera­dos internacio­nais de tecnologia, que podem ser excelentes com dados ou

software, mas muitas vezes pouco entendem de educação”, diz Fabio Campos, doutorando em Ciências da Aprendizag­em na Universida­de de Nova York (EUA) e pesquisado­r residente no TLTL; cofundador do Invest, programa de educação popular

no Rio de Janeiro e diretor da Associação de Ciências da Aprendizag­em/Brasil.

PIORES RESULTADOS NA EDUCAÇÃO BÁSICA

Foi na educação básica que

Mariana Lederman Edelstein, consultora educaciona­l do TLTL: “Se a necessidad­e de prover estrutura e suporte aos trabalhado­res aconteceu nas empresas por que com a escola seria diferente?” a aprendizag­em híbrida teve seus piores resultados e não só no Brasil, continua Campos. “A pandemia mostrou o quanto a criança e o jovem precisam do contato direto com outro para que a escola aconteça. A escola não pode ser apenas o lugar de transferên­cia de conteúdo, ela é o lugar do encontro com o outro, o espaço de construção coletiva do conhecimen­to. Quando pensamos em educação básica, não podemos esperar que nessa idade, os estudantes tenham a

capacidade de autocontro­le, motivação e atenção para participar de uma aula remota como se estivesse dentro de uma sala de aula. As experiênci­as em educação básica se mostraram desastrosa­s em comunidade­s pobres”, explica.

“Quando a aprendizag­em híbrida é igualada meramente a ensino à distância, arrisca-se cair na tentação de diminuir o número de docentes e aumentar o número de alunos atendidos. Embora esse cenário seja praticado principalm­ente na pós-graduação lato sensu, decerto não funciona para a educação básica. O diálogo multidirec­ional entre pares, a criativida­de e a expressão, e o exercício da criticidad­e são fatores fundamenta­is para criar bases sólidas e duradouras que vão além da simples memorizaçã­o de informação”, analisa.

Saiba mais acessando: Relatório de Aprendizag­em Híbrida da Fundação Telefônica Vivo

O estudo determina a importânci­a de uma regulament­ação da aprendizag­em híbrida no Brasil. Pela dimensão geográfica e até mesmo pela harmonia federativa, a regulação deve servir para estimular as redes locais a compartilh­arem e adotarem suas

práticas e experiênci­as. Instâncias coletivas como o Fórum Nacional de Educação, Conselho Nacional de Secretário­s de Educação e a União Nacional dos Dirigentes Municipais da Educação devem ganhar ainda mais protagonis­mo nas discussões.

O Conselho Nacional de Educação (CNE) tem discutido o tema desde a pandemia. Além da consulta pública pela internet e discussões temáticas, o relatório aponta a necessidad­e de fóruns locais para que as comunidade­s, mesmo as mais remotas, tenham voz.

O texto ainda aponta recomendaç­ões para a implementa­ção da aprendizag­em híbrida de forma sustentáve­l. Além de condições de uso e infraestru­tura, o documento destaca o aprimorame­nto da relação contratual com fornecedor­es de tecnologia, que

ela seja sujeita a controle e auditoria pública. “A adoção de plataforma­s ‘sem custo’ nas escolas, na verdade, é remunerada pela captura de imensas bases de usuários e pelo uso não explicado de dados pessoais durante atividades educaciona­is”, alertam.

Alunos com deficiênci­a também não podem ficar de fora da digitaliza­ção da aprendizag­em. Ao promover um ambiente de aprendizag­em remoto, é necessário garantir o acesso e a inclusão de todos os estudantes, com uma atuação ativa na

remoção de barreiras que impeçam o aprendizad­o por parte dos alunos com deficiênci­a.

O relatório ainda recomenda a formação continuada dos educadores, a produção de estudos e monitorame­nto e a integração com as políticas nacionais, programas, leis e regulament­ações que dizem respeito à aprendizag­em híbrida. Para os pesquisado­res, a regulação sobre aprendizag­em híbrida também precisa dialogar com a legislação existente. Nesse sentido, os dispositiv­os da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), do Marco Civil da Internet e do Estatuto da Criança e do Adolescent­e (ECA) terão aplicação para segurança, bem-estar e garantia do melhor interesse de crianças e adolescent­es em ambientes mediados por tecnologia­s digitais, no curto, no médio e no longo prazo.

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