Folha de Londrina

Bolsonaro agora diz que não há ‘corrupção endêmica’ no governo

Afirmação ocorre uma semana depois da prisão do ex-ministro da Educação investigad­o por “balcão de negócios” na pasta; presidente admite que pode haver ilícitos em sua gestão

- Matheus Teixeira

Brasília - O presidente Jair Bolsonaro (PL) mudou de discurso nessa quarta-feira (29) e admitiu que pode haver casos de desvio de verba pública no governo federal.

Até então, o chefe do Executivo descartava a possibilid­ade de existirem episódios de corrupção no governo. Agora, complement­ou a frase que costuma usar e disse que podem existir atos ilícitos, mas que não há “corrupção endêmica” na sua gestão.

“No governo, não temos nenhuma corrupção endêmica. Tem casos isolados que pipocam e a gente busca solução para isso”, afirmou em palestra a empresário­s em evento da CNI (Confederaç­ão Nacional da Indústria).

A afirmação ocorreu uma semana após o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro ser preso pela Polícia Federal.

Ele foi detido em uma operação que investiga suspeita de balcão de negócios no Ministério da Educação e na liberação de verbas do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvi­mento da Educação). Um dia depois, foi libertado por um magistrado de segunda instância.

Senadores articulam a instalação de uma CPI para apurar as denúncias relativas ao MEC. O presidente demonstrou preocupaçã­o com eventual criação de comissão sobre o tema.

“CPI quase saindo aí de assunto que parece que está enterrado. Mas quando abre CPI abre mar de oportunida­des para oportunist­as fazerem campanha contra a gente”, disse.

Bolsonaro vem adaptando o discurso sobre o tema desde maio. Ele costumava ser categórico sobre a inexistênc­ia de corrupção em seu governo. Diante de denúncias surgidas nos últimos meses, passou a dizer que não havia “denúncias consistent­es” de desvios de verba pública.

Na palestra, o presidente ignorou as denúncias de assédio sexual contra o presidente da Caixa Econômica, Pedro Guimarães. Bolsonaro discursou por mais de 25 minutos e não mencionou o assunto.

A revelação de um balcão de negócios no Ministério da Educação e de suspeitas em contratos e na distribuiç­ão das bilionária­s verbas das emendas parlamenta­res enfraquece­m cada vez mais o discurso eleitoral repetido por Bolsonaro e aliados de que o governo federal está há três anos sem registrar casos de corrupção.

Os recentes escândalos que derrubaram Milton Ribeiro da Educação se somam a suspeitas antigas, à aliança com o outrora execrado centrão e à metódica ação nesses três anos para barrar investigaç­ões e esvaziar órgãos de fiscalizaç­ão e controle.

O combate à corrupção foi usado por Bolsonaro como plataforma política na campanha presidenci­al. Em novembro de 2018, após eleito, Bolsonaro afirmou que ministros alvo de acusações contundent­es deveriam deixar o governo, o que não se concretizo­u na prática.

O ministro Marcelo Álvaro Antônio (Turismo), por exemplo, seguiu no governo após ter sido indiciado pela Polícia Federal e denunciado pelo Ministério Público de Minas sob acusação de envolvimen­to no caso das candidatur­as laranjas do PSL.

 ?? Alan Santos/PR ?? Em palestra a empresário­s da CNI, presidente disse que quando se abre uma CPI abre também “um mar de oportunida­des para oportunist­as fazerem campanha contra a gente”
Alan Santos/PR Em palestra a empresário­s da CNI, presidente disse que quando se abre uma CPI abre também “um mar de oportunida­des para oportunist­as fazerem campanha contra a gente”

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil