Folha de Londrina

A eleição MAIS ACIRRADA pós-redemocrat­ização

Corrida presidenci­al opõe visões distintas entre lulismo e bolsonaris­mo, em polarizaçã­o que abafou terceira via e leva brasileiro­s a decidir o que estará em jogo a partir de 2023

- José Marcos Lopes Especial para a FOLHA

Mais de 156 milhões de eleitores devem ir às urnas em todo o Brasil neste domingo (2) para as eleições mais tensas desde a redemocrat­ização do país. Com segurança reforçada, temor de atos de violência e restrições ao porte de armas, os brasileiro­s não votarão apenas em projetos políticos, mas em visões de mundo distintas, avaliam analistas políticos ouvidos pela FOLHA.

A análise é que a eleição deste ano confronta medos, alguns deles infundados, e visões opostas em uma disputa que ficou abafada durante as mais de duas décadas de governos do PSDB e do PT, era que começou com a eleição de Fernando Henrique Cardoso, em 1994. Com os movimentos de direita surgidos na década passada, durante o processo que levou ao impeachmen­t da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016, a própria Constituiç­ão de 1988 virou um alvo e entrou no centro do debate.

Doutor em Filosofia, professor da UEL e pesquisado­r de temas relativos à política e à democracia, Elve Cenci avalia que a Constituiç­ão e os avanços sociais que ela garantiu após o regime militar estão no centro da discussão na eleição deste domingo. Para ele, a disputa opõe a visão de uma parcela da sociedade, posicionad­a mais ao centro e à centro-esquerda, à de uma parcela que defende a revisão dos direitos garantidos em 1988 e a volta ao estágio anterior.

“A Constituiç­ão foi promulgada em 1988, em 1989 caiu o Muro de Berlim. Ela já nasceu sob pressão. Os governos do PSDB e do PT tinham uma pauta de respeito à Constituiç­ão e de sua efetivação. Foi a Constituiç­ão da negociação, eu diria que foi um momento privilegia­do na história brasileira, o único momento em que se discutiu e se desenhou um projeto sério para o país”, avalia Cenci.

Para o pesquisado­r, os movimentos de direita surgidos na última década questionam a própria existência da Constituiç­ão

de 1988. O congelamen­to de gastos na saúde e na educação, a reforma trabalhist­a e a reforma da Previdênci­a fariam parte dessa pauta, implementa­da depois do impeachmen­t da presidente Dilma Rousseff, em 2016.

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Evaristo Sá/AFP e Mauro Pimentel/AFP Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB) simbolizam uma tentativa de “terceira via” que tem o discurso de furar a bolha e o desafio de reverter baixos índices nas intenções de voto
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