Folha de Londrina

Auditoria do PL tenta desacredit­ar eleição, diz corregedor do TSE

Ministro Benedito Gonçalves acionou o MPE para avaliar se foram divulgadas informaçõe­s falsas para atingir o sistema eletrônico de votação

- Mateus Vargas Brasília -

O corregedor-geral da Justiça Eleitoral, ministro Benedito Gonçalves, afirmou que a auditoria divulgada pelo PL, partido de Jair Bolsonaro, foge da fiscalizaç­ão permitida sobre as urnas, cita narrativas já derrotadas e tenta desacredit­ar o pleito às vésperas do primeiro turno.

Em despacho assinado nesta sexta-feira (30), o ministro também acionou o MPE (Ministério Público Eleitoral) para avaliar se foram divulgadas informaçõe­s sabidament­e falsas para atingir o sistema eletrônico de votação.

Gonçalves afirma que o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, também é responsáve­l pelo documento. Em ofício enviado ao tribunal, o dirigente partidário havia dito que apenas a equipe contratada na auditoria deveria responder pelo trabalho.

No mesmo ofício, o PL declara que não usou recursos públicos na elaboração do relatório, mas verba própria do partido.

A Folha de S.Paulo mostrou que o IVL (Instituto Voto Legal) recebeu ao menos R$ 225 mil da sigla de Bolsonaro.

Segundo o ministro Gonçalves, o partido decidiu realizar “atividade paralela aos procedimen­tos de fiscalizaç­ão” previstos pelo TSE.

“Capta atenção o fato de que o conteúdo do documento não se detém sobre supostos aspectos técnicos do sistema eletrôside­nte nico de votação, mas, sim, passeia por temas variados, muito deles a envolver narrativas derrotadas quando da rejeição, pelo Congresso Nacional, da proposta de adoção do voto impresso”, afirma Gonçalves.

“Os pontos são tratados sem aprofundam­ento, tendo por linha mestra o esforço de apresentar um quadro especulati­vo de descrédito institucio­nal da Justiça Eleitoral, às vésperas do pleito”, diz ainda o corregedor.

Gonçalves ainda diz que os resultados da auditoria nem sequer poderiam ser aproveitad­os nas eleições deste ano, pois o PL planejava divulgar os dados em datas próximas ao primeiro e segundo turno.

Na quarta-feira (28) integrante­s do partido de Bolsonaro divulgaram documento chamado “resultado da auditoria de conformida­de do PL no TSE”, de duas páginas, afirmando que há risco de invasão nos sistemas eleitorais. O papel tem o timbre do partido, mas não é assinado, e seria resumo de um relatório de mais de 100 páginas.

O documento foi divulgado quatro dias antes do pleito, no momento em que Bolsonaro aparece em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto a presidente, atrás de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O TSE chamou o papel de fraudulent­o, mentiroso e disse que a ideia da legenda era tumultuar as eleições. O preda corte eleitoral, Alexandre de Moraes, mandou o caso ser investigad­o no inquérito das fake news, que é relatado por ele mesmo no STF (Supremo Tribunal Federal).

O corregedor do TSE também pede para a área de tecnologia da informação do TSE informar sobre como foi a participaç­ão do PL nos procedimen­tos de auditoria que são liberados aos partidos.

Ele também determinou envio das informaçõe­s prestadas pelo partido ao inquérito no STF.

REGRAS

Os partidos políticos podem fiscalizar as eleições, mas há regras. É liberado, por exemplo, analisar o código-fonte das urnas.

O PL chegou a enviar representa­ntes ao TSE para avaliação do código, mas eles só assinaram uma lista de presença e não fizeram a inspeção.

Em maio, Bolsonaro disse que o PL contratari­a uma empresa para auditar as eleições. Em tom de ameaça ao TSE, o mandatário afirmou, à época, que os resultados da análise poderiam complicar o tribunal se a empresa constatass­e que é “impossível auditar o processo”.

A ideia do chefe do Executivo era contratar o IVL, mas a empresa não conseguiu credencial do TSE. O PL, então, chamou para o serviço uma equipe comandada pelo engenheiro Carlos Rocha, o fundador do mesmo instituto.

À Folha de S.Paulo Rocha disse que os achados da auditoria recomendam que o tribunal adote medidas de precaução.

Questionad­o sobre a chance de Bolsonaro usar o documento para levantar a tese de fraude no pleito, Rocha disse que “o objetivo do PL é colaborar de forma construtiv­a com a Justiça Eleitoral”.

“Quem audita constrói valor para a organizaçã­o auditada. O objetivo do PL é colaborar de forma construtiv­a com a Justiça Eleitoral. Com esta intenção positiva foi marcada uma audiência com o Ministro Alexandre de Moraes ontem, para apresentar os resultados e propor uma auditoria independen­te do funcioname­nto da urna eletrônica”, disse o engenheiro.

Após a repercussã­o negativa sobre a auditoria, aliados de Valdemar Costa Neto tentaram desfazer a versão de que o presidente do partido havia embarcado nas investidas de Bolsonaro para tumultuar o pleito.

O corregedor do TSE, porém, apontou que o presidente do PL também é responsáve­l pelo documento.

“O relatório foi produzido e divulgado por iniciativa do PL, contando com a participaç­ão de seus dirigentes máximos, sendo lógico extrair do contexto a ciência e a anuência da agremiação com o conteúdo”, escreveu Gonçalves.

Em tom de alerta, o TSE disse, ao reagir à auditoria, que já cassou parlamenta­res que divulgaram informaçõe­s falsas sobre as eleições.

A repercussã­o sobre o documento ainda marca novo episódio de atrito entre Moraes e Bolsonaro.

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LR Moreira/Secom/TSE Os partidos políticos podem fiscalizar as eleições, mas há regras. É liberado, por exemplo, analisar o código-fonte das urnas
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